Vítima de um ataque coletivo de ódio racial, a jornalista Maria Júlia Coutinho - a Maju, apresentadora do tempo do Jornal Nacional - é mais uma a virar campanha. Algumas horas depois de centenas de comentários xingarem Maju de "puta africana" e "vagabunda" em uma publicação no Facebook do noticiário, a equipe do JN publicou vídeo em que demonstrava apoio, com a hashtag #somostodosMaju. Para especialistas, a explicação para as demonstrações de ira como essa é um somatório de impunidade, anonimato, naturalização do racismo e desejo de fama, ainda que por um motivo como a ofensa racial.
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No Jornal Nacional, após a previsão do tempo, William Bonner disse que "50 criminosos publicaram comentários racistas de maneira coordenada", mas que "milhares, milhares e milhares de pessoas demonstraram seu apoio" a Maju. Renata Vasconcellos informou que promotores do Rio e de São Paulo acompanham o caso, para apurar crimes de racismo e injúria racial. Os âncoras disseram, ainda, que a Globo estuda tomar providências. Ao fim, Maju falou:
- Muita gente imaginou que eu estaria chorando pelos corredores, mas eu já lido com essa questão desde que me entendo por gente. Fico indignada, mas não esmoreço. Cresci numa família consciente e militante. A militância que eu faço é com meu trabalho. Os preconceituosos ladram, mas a caravana passa.
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O Ministério Público de São Paulo decidiu investigar os ataques. Ao jornal Folha de S.Paulo, o promotor Christiano Jorge Santos disse que vai "tentar rastrear de onde vêm os xingamentos e identificar os autores". Entre os usuários que publicaram as mensagens de ódio, muitos fazem parte de grupos fechados que têm como objetivo promover ações coletivas de agressão.
- A característica da internet é a formação de minorias, para o bem e para o mal. Temos, hoje, a possibilidade de construir e cultivar públicos. Essas pessoas têm a certeza de que determinados tipos de procedimento em determinados lugares vão fazer elas virarem microcelebridades. E esses grupos sabem que a espetacularização dos atos é uma tática de divulgação - comenta Fábio Malini, professor de cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
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Posted by Jornal Nacional on Sexta, 3 de julho de 2015
#SomosTodosMajuCoutinho #SomosTodosMaju
Assim que o ataque a Maju começou a ganhar o noticiário e as redes sociais, uma outra face da rede acabou ganhando força: a solidariedade. Como uma reação aos xingamentos, a publicação do JN no Facebook foi invadida por usuários que demonstraram seu apoio à jornalista. Para o professor Sérgio Branco, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS), essa é uma "consequência benéfica desse absurdo inaceitável". Organizado ou orgânico, o conjunto de mensagens raivosas contra Maju é crime. Branco ressalta que é importante separar os tipos de agressores: há quem se organize para criticar, destruir, atrapalhar e causar confusão na internet sem que isso possa ser enquadrado criminalmente. E há quem chame uma jornalista de "macaca nojenta". Para Jorge Terra, diretor de Direitos Humanos da Associação dos Procuradores do Estado do RS (Apergs), coordenador da Subcomissão da Verdade sobre a Escravidão Negra da OAB-RS, a solução passa por punir criminosos desse tipo:
- No âmbito penal, estamos fracassando. A punição estatal está aquém do que deveria ser, e isso gera estímulo para que casos como esse aconteçam.