Zero Hora esteve em Suruç em novembro do ano passado, durante a Batalha de Kobani, na vizinha Síria, entre o Estado Islâmico (EI) e facções da oposição síria dirigidas pelas organizações curdas.
Suruç (pronuncia-se Surútch) fica a cerca de 10 quilômetros de Kobani. Do alto de suas colinas, era possível ver o casario da cidade síria àquela altura entregue às milícias, onde, de tempos em tempos, emergia uma coluna de fumaça dos bombardeios.
Desde que se iniciou o cerco do EI a Kobani, Suruç tornou-se porto seguro para os habitantes da cidade síria, em sua maioria curdos. Em novembro, havia quatro grandes campos de refugiados mantidos pelas Nações Unidas e pelo governo turco. ZH visitou um deles, em condições relativamente boas, com abastecimento de água e luz e escola infantil.
No centro de Suruç, fala-se curdo mais do que turco. Organizações políticas e militares de porte grande, médio e pequeno têm sedes e funcionam regularmente na cidade. O centro da vida curda é a Casa do Povo, espécie de municipalidade curda controlada pelas YPG (abreviatura de Milícias de Mobilização Popular, força regular da região autônoma curda na Síria). Ali, havia serviço de cadastramento e alistamento para lutar na Síria - homens e mulheres são integrados às forças curdas nas mesmas condições. Também havia bandejão e atividades culturais.
Combatentes mortos na Síria são sepultados com honras em Suruç por suas organizações.
Embora nenhum grupo tenha reivindicado o atentado desta segunda-feira, as suspeitas recaem com força sobre o EI. Não é difícil, para integrantes do grupo, atravessar a fronteira, infiltrados entre os refugiados. Na região de maioria curda, antes do início da guerra civil, árabes e curdos viviam em tranquilidade: em Kobani, é comum que essas comunidades sejam bilíngues (ambas têm menos familiaridade com a língua turca, por exemplo).
Não é segredo, igualmente, que operadores do EI trabalham com desenvoltura na Turquia. Em que medida contam com apoio de pelo menos parte do exército turco, é uma incógnita.