Em meio ao turbilhão de protestos que varre o pais sem um objeto definido e com alguns excessos antidemocráticos, mas apontando para um país mais justo, há quem não tenha tempo de pensar em algo além de suas tarefas diárias. É o caso do gaúcho de Santiago do Boqueirão Jaime Maciel, chefe de cozinha da Seleção Brasileira, que partiu direto da Fronteira para o mundo.
Café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar. Preparar o cardápio para 23 jogadores, comissão técnica e toda a equipe de apoio da CBF, não é moleza. Jaime mora na cozinha quando há competição. O ritmo é intenso como o de Oscar indo ao ataque e voltando para marcar. Mas ele tira de letra. Se há talentos da bola que dão certeza de futuro logo no primeiro drible, Jaime encanta na primeira garfada. Foi precisamente assim que a CBF o descobriu em 1995. E nunca mais o largou.
Jaime era responsável pela cozinha do hotel Jandaia, em Santana do Livramento, que abrigou a Seleção para os jogos no Estádio Atílio Paiva, em Rivera, durante a Copa América realizada no Uruguai. Após a primeira refeição de Jaime para os jogadores, o supervisor Américo Faria não esperou nem a sobremesa e fez o convite para ele comandar o apetite da Seleção em tempo integral. Como matar a fome da base da CBF também depende de suas escolhas e temperos, já viajou pelo mudo inteiro. Nada mau para quem começou como auxiliar de serviços gerais em restaurante e foi aprendendo vendo o pai cozinhando.
- O churrasco também é comigo, é claro. Nunca ninguém reclamou - brinca o colorado Jaime, 56 anos, morador de Gravataí quando não está viajando com alguma seleção da CBF.
O prazer produzido por seus temperos é tal que o Corinthians o levou para o Mundial de Clubes do ano passado, no Japão. Antes do Jandaia, Jaime trabalhou no Plaza São Rafael, em Porto Alegre, levado pelo mesmo impulso de um executivo do hotel que fez Américo Faria convocá-lo.
- Já cozinhei para muitos presidentes, chefes de Estado, parlamentares, estrelas de rock, mas o que mais me gratifica são episódios como o que aconteceu com o Neymar nesta Copa das Confederações - suspira Jaime durante nossa conversa, todo de branco, a todo instante interrompendo o papo para repassar alguma instrução a sua equipe.
Que episódio? Neymar é magrinho, perde peso fácil. Foram-se dois quilos na semana da negociação com o Barcelona no tempo de uma pedalada. Não é de comer muito. Então, dia desses, o craque brasileiro o procurou, de prato cheio na mão:
- Seu Jaime, desta vez vou até repetir. Este nhoque tá demais. Show. Tive que vir aqui dizer isso, valeu?
Jaime sorri quando lembra do elogio do craque.
- Nada gratifica mais um cozinheiro do que o prazer das pessoas em comer o que você fez com tanto carinho. Ainda mais o Neymar, nossa grande esperança - reflete.
Os prodígios se procuram. De Livramento para o mundo, Jaime alimenta Neymar, e Neymar alimenta os sonhos de milhões de brasileiros.
O cardápio da Seleção
Dia de jogo
Salada farta, carne branca, sucos naturais, caldo de feijão sem grão, massa e purê de batatas. De sobremesa, gelatina.
Dia de treino
O mesmo do jogo, mas com acréscimos interessantes como bolinho de charque com mandioca, nhoque, arroz, feijão com grão e outras especiarias.
Pedido especial
A pedido do preparador Paulo Paixão, água de coco a perder de vista. E não é de caixinha. É da fruta mesmo. A mesa da sala de refeições é forrada de cocos. A hidratação, por conta do calor, é uma obsessão.
O que não pode
Refrigerantes, chocolates e sobremesas com muito açúcar. No frigobar do quarto dos jogadores, só água.