Para quem tem crianças na família, a queda da temperatura traz junto a preocupação com a saúde dos pequenos, uma vez que, no inverno, o número de doenças respiratórias aumenta significativamente. Isso se dá porque a estação vem acompanhada do frio e da umidade. Essa condição climática propicia a proliferação de mofo, um dos desencadeantes de quadros alérgicos. Junto a isso, está o fato de que, quando esfria, as pessoas passam mais tempo em ambientes fechados, com pouca circulação de ar. Logo, desenvolvem mais viroses e infecções bacterianas, pois isso facilita a propagação.
Uma das mais recorrentes é o resfriado. Normalmente, uma pessoa passa três ou quatro dias indisposta e, depois, volta a ficar bem. A questão é que, para as crianças, o impacto de um resfriado é bem maior do que para os adultos, principalmente nos primeiros anos de vida. É isso que o professor titular do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e chefe da Unidade de Pneumologia Infantil do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Paulo José Cauduro Marostica explica:
— A maioria das infecções respiratórias na infância é viral. São muito contagiosas. É uma fase da vida em que eles estão começando a desenvolver a imunidade, e ainda não tiveram contato com a maioria dos vírus respiratórios que um adulto já teve, principalmente nos primeiros dois anos de vida. Isso os deixa mais suscetíveis. Para uma criança saudável que frequenta a escolinha, por exemplo, podemos dizer que é comum que ela tenha entre oito a 10 casos de doenças respiratórias virais por ano, devido à exposição a outras crianças. Cada uma delas também convive com outras pessoas em casa, logo, há um ciclo de contaminação.
Marostica alerta que um dos fatores mais importantes para evitar doenças respiratórias é manter a vacinação em dia, pois algumas infecções podem ser prevenidas dessa forma. Além disso, o aleitamento materno é muito importante, pois diminui o risco de problemas respiratórios que podem se tornar graves em crianças pequenas.
O pneumologista cita ainda que é importante evitar o tabagismo domiciliar e a combustão de materiais inflamáveis dentro de casa — como lareira e fogão à lenha.
— Durante a gravidez, o uso de cigarro pode alterar o desenvolvimento das vias respiratórias do bebê, e a exposição após o nascimento também está ligada ao surgimento de outras comorbidades. O fogão à lenha e a lareira também podem influenciar no trato respiratório, são coisas que devemos cuidar. Ambientes sujos e empoeirados são sensibilizadores que se manifestam em crianças um pouco maiores, e não tanto nos primeiros anos de vida — explica Marostica.
Quando ir ao hospital?
Durante a pandemia, uma das questões que gera dúvidas é sobre ir ou não a um hospital procurar atendimento. O médico José Marostica orienta que bebês de até três meses que apresentem febre sejam levados para uma consulta imediatamente. O conselho também vale para crianças maiores que, além da febre, apresentem dificuldade de respirar e de se alimentar.
— É preciso ter cuidado com crianças que estejam respirando muito rápido, pois elas podem aspirar o leite, seja do peito ou da mamadeira — ressalta Marostica.
Quanto a isso, o pediatra Cláudio Pacheco, responsável pelo alojamento conjunto dos recém-nascidos do Hospital Divina Providência, acrescenta que é importante avaliar os sintomas da criança, e saber diferenciar um resfriado de uma gripe também pode ajudar.
No resfriado, é mais comum ter tosse, coriza e febre moderada que dura de dois a três dias. A moléstia é facilmente controlada com o uso de medicamentos receitados. É diferente da gripe, que causa febre mais aguda e por mais tempo.
— A febre não é uma doença, é um sintoma que tem uma causa, e é essa causa que interessa. Um resfriado comum com febre de 38 graus é uma reação para ajudar a combater o vírus. Passados cerca de três dias, a criança vai ficar bem porque vai terminar o ciclo. Mas uma febre de 37,8 graus acompanhada de dor de cabeça, dor na nuca e vômitos pode ser algo mais grave. Se a febre for alta, fixa e não reagir a medicamentos durante dois dias, é preciso buscar ajuda — diz o médico.
Pacheco explica que em crianças, o vírus mais comum é o do resfriado, não o da gripe. E lembra que não existe resfriado de 10 dias. Se os sintomas persistem, é preciso avaliar melhor. Segundo ele, o que acontece é que muitas crianças têm uma sensibilidade alérgica maior, por isso, as secreções duram mais dias.
Para o médico, isso explica a relação que as pessoas fazem entre hábitos como andar descalço, pegar frio ou chuva com o aumento do número de doenças respiratórias.
— Andar de pé descalço, não se agasalhar ou tomar um banho de chuva não atrai o vírus da gripe ou do resfriado. O que acontece é que o organismo de algumas crianças é mais suscetíveis a alergias respiratórias, elas têm habilidades imunológicas mais frágeis. É uma tendência do organismo daquela criança. Quando ela passa muitos dias com secreção, é porque o resfriado desencadeou um processo que podemos enquadrar como bronquite. Essa sensibilidade as faz produzir bastante muco. Logo, essa defesa exagerada do organismo atrapalha a imunidade porque os germes que deveriam ser facilmente eliminados ficam grudados nesse muco. Crianças que tem quadros frequentes de otite, por exemplo, provavelmente produzem muito mais secreção que outras. Diferentemente do pulmão, o ouvido não consegue expectorar, por isso, se torna uma área favorável ao desenvolvimento de bactérias e vírus — explica o pediatra.
Para evitar esses quadros, o médico ressalta que a amamentação é a maior defesa para viroses, além de hábitos como boas horas de sono, alimentação saudável com nutrientes e vitaminas equilibradas para manter o sistema imunológico bem. Em caso de crianças mais sensíveis, é necessário cuidar com as mudanças bruscas de temperatura como as ocasionadas pelo uso do condicionador de ar, e lembrar que o toque também é transmissor de vírus. Quando precisar levar a criança ao médico, evite que ela toque nas superfícies.
Dicas para evitar doenças respiratórias
- Vacinação em dia
- Aleitamento materno
- Evitar ambientes de aglomeração
- Evitar o tabagismo
- Ter boas horas de sono
- Manter uma alimentação saudável
- Manter a circulação de ar no ambiente
- Quando procurar um hospital
- Febre persistente que não cede a medicamento
- Dificuldade de respirar
- Febre acompanhada de outros sintomas como dor de cabeça dor na nuca e vômitos
- Febre em bebês menores de três meses