Talvez exista algum pacto entre avós e as primeiras medalhas de ouro do Brasil em Olimpíadas. Em Tóquio, Ítalo Ferreira, primeiro atleta dourado brasileiro daquela edição, dedicou o título a sua avó. Nesta sexta-feira (2), foi a vez de Beatriz Souza inaugurar as conquistas de ouro brasileiras em Paris.
A judoca foi campeã na categoria +78kg. E em frente à posição da Rádio Gaúcha em Paris, conversou conosco sem conseguir segurar as lágrimas ao dedicar a vitória à Dona Brecholina, que morreu há cerca de dois meses.
— Só espero que ela esteja sentindo muito orgulho de mim. É uma pessoa que faz falta tremenda na minha vida, mas sei que ela estará comigo, sempre cuidando de mim, onde quer que eu vá.
As lágrimas rolaram dos seus olhos desde o momento em que acabou a luta contra a israelense Raz Hershko. Aos 26 anos, esta foi a primeira Olimpíada disputada pela paulista de Peruíbe. Instantes antes de nos atender, Bia também tinha se emocionado ao ouvir o hino brasileiro retumbar pela Grand Palais Éphémère.
— Não tem como segurar a emoção. Trazer esse orgulho para o Brasil. Ver a bandeira levantando, o hino tocando, o coração transbordou — revelou.
Quando for olhar a foto do pódio poderá contar para quem estiver ao seu lado que venceu cada uma das outras três medalhistas — o judô concede duas medalhas de bronze.
Na trajetória até a medalha, Beatriz Souza venceu Izayana Marenco, da Nicarágua, por ippon. Na estreia. Depois, nas quartas de final, passou pela quarta melhor do mundo, Kim Hayun (bronze), da Coreia do Sul, por waza-ari.
Nas semifinais, enfrentou a número 1 do ranking mundial, a francesa Romane Dicko (bronze), e triunfou por imobilização. Na decisão, venceu a israelense Raz Hershko, a segunda melhor do mundo, por wazari.
Atleta do Pinheiros, Beatriz, embora estreante em Jogos, tinha três medalhas em mundiais. Foi prata em 2022 e ficou com o bronze em 2023 e 2021. Uma trajetória coroada com a maior glória esportiva. Para ela, sua trajetória se baseia na superação.
— Representa a superação, de que tudo é possível. Basta a gente pagar o preço para fazer dar certo. Sou uma grande guerreira. Essa medalha é da superação de cada dia, de querer dar o melhor em cada treino e em cada competição. Uma trajetória maravilhosa até aqui — exaltou.
Beatriz conquistou a 27ª medalha do judô brasileiro em olimpíadas. Agora, ela faz parte de um seleto quintento que levou o ouro na modalidade. A paulista se junta a Aurélio Miguel, Rogério Sampaio, Sarah Menezes e Rafaela Silva. Nada poderia deixar Dona Brecholina mais orgulhosa.