A volta do trabalho foi diferente nesta quarta-feira (7) em Porto Alegre. Quem retornava para casa ficou com a cabeça para cima para ver os medalhistas da Sogipa desfilarem pelas ruas da cidade. Ketlyn Quadros, Daniel Cargnin, Rafael Macedo e Leonardo Gonçalves mostravam para quem quisesse ver o bronze conquistado da prova por equipes mistas em Paris.
A chuva não desanimou eles nem aqueles que mandavam um aceno, davam um grito de “Vai, Brasil” ou faziam festa com a buzina de carros e motos. Nas paradas de ônibus, nas janelas, sacadas, caçadas, todos mandavam um aceno, sacavam o celular para fazer registro, não importava se o guarda-chuva tivesse de ficar de lado por alguns instantes. Todos queriam aplaudir.
O quarteto saiu do Aeroporto Salgado Filho, foi recebido pelo prefeito Sebastião Melo na prefeitura e pelo governador do Estado Eduardo Leite no Palácio Piratini. E dê-lhe água no trio elétrico escoltado por caminhão do corpo de bombeiros. Leandro não se importava em se molhar. As capas de chuva eram pequenas para o seu corpanzil.
—Eu já tinha visto essa festa para a Mayra Aguiar e outros judocas. Sempre quis estar aqui em cima. Foi um sonho realizado. A prova por equipes junta todos os sonhos em uma competição só — destacou o judoca, recebido pela esposa e pela filha Lara, de três anos. — Ela me pedia a medalha. Vi o brilho no olhar dela. Foi maravilhoso — complementou.
O percurso começou por volta das 17h e terminou na sede do clube às 20h, com uma multidão de familiares, amigos, colegas, funcionários e judocões e judoquinhas sogipanos. Ao menos ali tinha alguma proteção contra a chuva.
— É a realização do nosso sonho, são muitas pessoas envolvidas. Ser acolhida por todos. Nada melhor. Nem a chuva atrapalhou esse momento de alegria — destacou Ketlyn, a mais animada de todos.
Ela conquistou sua segunda medalha olímpica, a primeira havia sido outro bronze em Pequim 2008.
— Eu tinha a sensação de que faltava alguma coisa. Esses 16 anos passaram sem eu ter percebido — destacou a judoca de 36 anos.
Quem também tem dois bronzes olímpicos é Daniel Cargnin. Ele chegou antes dos companheiros a Porto Alegre e ingressou na festa no meio do caminho.
— Cada uma teve um sentimento diferente. Minha esposa falou que uma delas é pelo atleta que eu sou e a outra coroa a pessoa que eu sou. É uma felicidade imensa voltar ao Rio Grande do Sul com a medalha depois de tanto sofrimento.
Rafael Macedo também era só sorrisos, ainda que mantivesse a mesma calma apresentada quando, na competição individual, foi eliminado da disputa do bronze pela aplicação de uma regra que causou muito estranhamento. Sua recepção contou com a presença da esposa e do cachorrinho de estimação. Paulista, ele está no Rio Grande do Sul já 11 anos.
— Foi muita emoção. Fico muito feliz. Decidi vir para cara com um sonho, um objetivo. Aqui é uma fábrica de campeões. Me considero um gaúcho. Perguntam se eu vou voltar para casa, mas eu já estou em casa.
Essa foi a sétima medalha do clube nos Jogos Olímpicos. Antes deles Mayra Aguiar levou três bronzes — ela foi a Paris, mas foi derrotada na primeira luta e não disputou a competição por equipes —, Tiago Camilo, Felipe Kitadai e Daniel Cargnin, todos também com o terceiro lugar no pódio. Na entrada da sede do clube há um mural com todos os atletas que participaram dos Jogos. Da maneira como fabricam judocas, será preciso aumentar a galeria.