Em pouco mais de 16 minutos, a nadadora Beatriz Dizotti fez história nas Olímpiadas de Paris na terça-feira (30). Mas, além de marcos importantes para o Brasil, a classificação inédita da atleta para a final olímpica dos 1.500 metros livre representa uma superação pessoal. Isso porque a brasileira passou por cirurgias para a retirada de tumores nos últimos dois anos, tendo que se afastar das piscinas — o procedimento mais recente ocorreu meses antes do início dos Jogos.
Nascida em 13 de abril de 2000, em São Paulo, Beatriz tem 24 anos e começou a nadar ainda na infância, por questões de saúde. Aos seis anos, já treinava de segunda a sexta-feira. Nessa época, falava para os pais que iria treinar natação porque queria participar dos Jogos Olímpicos — objetivo que atingiu em sua estreia, em Tóquio. Atualmente, é atleta da Unisanta, de SP.
Durante sua trajetória, passou pelas principais equipes do Brasil, como Corinthians e Pinheiros, e colecionou feitos. Conquistou o ouro nos 1.500 metros do TYR Pro Swin Series, nos Estados Unidos, em abril de 2023, quando também foi bronze nos 800 metros. No mesmo ano, obteve o topo do pódio na prova mais longa das piscinas em Barcelona, na Espanha, e bronze nos 800 metros em Canet, na França.
Em sua segunda participação em Olimpíadas, Beatriz garantiu uma vaga entre as oito melhores da prova de 1.500 metros livre, com 16min05s40 — seu quinto melhor tempo da carreira. Com a conquista, se tornou a primeira nadadora brasileira a se classificar para uma final olímpica nessa modalidade. A prova será depois das 16h, nesta quarta-feira (31).
Além disso, entrou para um seleto grupo da natação feminina brasileira, ao ser a sétima mulher do país a disputar um pódio olímpico individual na piscina em toda a história do esporte.
A chegada inédita à final também teve gosto de superação. Nos últimos dois anos, a nadadora passou por cirurgias para a retirada de tumores no ovário e precisou ficar afastada das piscinas. O último procedimento ocorreu em dezembro de 2023, mas Beatriz se recuperou a tempo de participar do Mundial de Natação de Doha, em fevereiro deste ano.
Em seu perfil no Instagram, a atleta publicou um relato sobre o problema de saúde. “Nem todas as jornadas estão livres de pedras no caminho. Ano passado, após o Mundial de Budapest, realizei uma cirurgia de retirada de teratoma ovariano. Na ocasião retirei o tumor benigno dos dois lados. Quando realizamos procedimentos assim, nunca esperamos que volte acontecer, mas na quarta-feira passada descobri que o teratoma havia voltado e que teria que operar o quanto antes, pois corria o risco de torção ovariana”, diz o início do texto.
De acordo com a nadadora, o procedimento foi realizado em 19 de dezembro. Durante a cirurgia, foram encontrados três teratomas em seu ovário esquerdo e um pequeno cisto no lado direito. “Estou em recuperação, em casa, com as pessoas que eu mais amo nesse mundo, sendo muito bem cuidada. E com o caminho livre para realizar meus sonhos!”, destacou no relato.
Em maio, após a Seletiva Olímpica Brasileira que garantiu sua vaga para os Jogos de Paris, Beatriz publicou um novo texto falando sobre sua “recuperação mental”, onde contou que “uma sequência de resultados não condizentes com o que sou capaz de entregar em competições acabaram fazendo com que eu questionasse minha capacidade, minha natação e meus sonhos”. A atleta ressaltou, contudo, que após treinos e conversas, se via “cada vez mais forte, mais preparada e acima de tudo, cada vez mais feliz e mais confiante”.