A pouco menos de um mês para a abertura da Olimpíada, Zero Hora segue com a série especial que retrata grandes atletas do Brasil e do Exterior. Depois da ginasta brasileira Rebeca Andrade, conheça nesta sexta (28) a trajetória da nadadora americana Katie Ledecky.
Aos seis anos de idade, Katie Ledecky conseguiu seu primeiro autógrafo de Michael Phelps. Três anos depois, repetiu a dose com direito a uma foto em que estampa um sorriso mais largo do que seu currículo de vitórias nas piscinas.
Uma década adiante, após os Jogos Olímpicos do Rio em 2016, a aclamada revista Sports Illustrated reuniu as principais estrelas americanas daquela edição para posarem com suas medalhas estalando de novas. Antes do ensaio que também contou com a ginasta Simone Biles, o multicampeão Phelps ensinava como Katie poderia dispor sobre o peito os quatro ouros e a prata conquistados pela nadadora no Brasil.
As medalhas olímpicas são a parte mais reluzente da história. Outros e outras subiram ao pódio olímpico mais vezes do que seus sete ouros e três pratas, espalhadas por Londres, Rio de Janeiro e Tóquio, embora, aos 27 anos, ela ainda escalará esse ranking com conquistas em Paris e, possivelmente, Los Angeles, em 2028 — se ficar entre as três primeiras nas quatro provas que competirá na França, ocupará o quinto posto na lista.
Sua superioridade se constrói a cada braçada na piscina. São 3 mil quilômetros nadados por ano, rotina capaz de transformar seus braços em hélices que cortam a água e criam uma superioridade inédita. Nos 800m livres, ela é dona das 29 melhores marcas da história. A chinesa Li Bingjie, dona do 30º tempo, está quase 10 segundos atrás do recorde de Katie.
Nos últimos meses, outros braços surgiram para atrapalhar seu encontro com o destino de se tornar a primeira nadadora a vencer uma prova olímpica em quatro edições seguidas. Em fevereiro deste ano, Summer McIntosh derrubou o reinado de Katie e uma invencibilidade de 13 anos, a maior da história da natação.
Comparado aos 800m, nos 1.500m livres até parece haver uma competição de verdade. Katie é proprietária “apenas” das 18 melhores marcas da distância. Ela ainda competirá em Paris nos 400 e nos 4x200m, competições em que não detém favoritismo.
Quando se olham as vitórias de Katie, em alguns momentos, parece que ela está sozinha na piscina. Seu único concorrente é o relógio. No Mundial de Fukuoka em 2023, por exemplo, deu tempo de bater para a vitória nos 1.500m livres, a televisão filmar a comemoração dela por mais um título, cortar para a reação da torcida americana e mostrar as últimas braçadas da italiana Simona Quadarella, a segunda colocada.
Em Mundiais, a americana conquistou 21 ouros, recorde que deixou para trás Phelps, aquele simpático mito que deu autógrafo à sorridente Katie.
— Eu apenas venho me sentindo confortável na água desde o primeiro dia — costuma dizer.
Início na natação
O que deixa Katie cômoda teve início com um desconforto. Décadas antes de ela colocar os braços na piscina pela primeira vez, sua tia se afogou em um lago. Após salvar a filha, o avô de Katie tomou a decisão de que, dali em diante, não haveria um Ledecky que não saberia nadar. Assim, o início dela na natação foi escrito nas águas límpidas do Parque Nacional Glacier, em Montana.
Muitos Ledecky aprenderam a arte da natação até Katie, aos 6 anos, participar de sua primeira competição. Após cair na piscina, a inocente Katie deu algumas braçadas. Parou. Ajustou os óculos. Olhou para os lados. Depois, se deu conta do que tinha de fazer ao ver seus colegas nadando ferrenhamente. Terminou em segundo. A partir dali, nunca mais parou.
Antes da carteira de motorista, ganhou o ouro olímpico em Londres. Ela era a mais jovem dos 530 atletas americanos presentes na Inglaterra. Antes da faculdade, mais quatro ouros e uma prata no Rio. Para competir no Rio, Ledecky adiou a vida universitária em um ano.
Depois, ingressou na renomada Stamford para se graduar em psicologia. Nos semestres iniciais, nadou como amadora, abdicando de patrocínios anuais na casa de US$ 5 milhões.
Há quem diga que o que vemos nas provas não é nada. Que o desempenho nos treinos são ainda mais inacreditáveis. Pouco adepta às redes sociais, por vezes usa os meios digitais para mostrar habilidades.
Entre elas, atravessar a piscina com um copo de achocolatado equilibrado sobre a cabeça. Pescoço rígido. Braçadas suaves e firmes. Chegou a outra borda sem derrubar uma única gota. E nem tem medalha para isso.