Pouco mais de um mês depois de ver a abertura das Olimpíadas de Tóquio, o Estádio Nacional da capital japonesa recebeu o evento inicial das Paralimpíadas de 2020. Assim como em julho, os torcedores não puderam estar presentes nas arquibancadas do local. Com o tema de "Nós temos asas", a cerimônia foi dividida pelos organizadores em oito atos e iniciou com um "para-aeroporto", seguindo o tom da viagem.
Antes da bandeira japonesa, seguindo os já tradicionais protocolos nestes eventos, entrar carregada para o estádio por cinco atletas paralímpicos do país e por um bombeiro e ser hasteada, o imperador japonês Naruhito e o brasileiro Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional, foram convidados a se acomodarem nas tribunas de honra.
O show começou com a ligação das engrenagens do "para-aeroporto", com uma apresentação artística, através de uma simulação dos karakuris, como se fossem marionetes japoneses. Aos poucos, os agitos, que representam os anéis olímpicos nas Paralimpíadas, começaram a adentrar o gramado do local — em vez dos cinco, são três —, saudados por mais uma salva de fogos de artifícios.
Depois de uma das partes artísticas, mais um momento protocolar com um vídeo das 22 modalidades que estarão presentes em Tóquio — parabadminton e parataekwondo são as novidades no programa paralímpico.
Como se fosse um anúncio de um aeroporto, pedindo para que os passageiros ficassem atentos para embarcarem, o desfile das delegações começou com a entrada da equipe de refugiados (ao contrário das Olimpíadas, a Grécia não abre). Assim como nos Jogos Olímpicos, a ordem foi conforme um dos alfabetos japoneses (o katakana), em que as vogais vêm antes das consoantes. O Afeganistão não teve atletas na cerimônia, nem terá nas Paralimpíadas, em virtude da situação envolvendo o Talibã no país.
O Brasil foi a 119ª nação a entrar no estádio e foi representado por Petrúcio Ferreira, do atletismo, e Evelyn Oliveira, da bocha, que levaram a bandeira brasileira para dentro da cerimônia, com direito a sambada. Assim como já havia sido com Bruninho e Ketleyn Quadros, a delegação brasileira foi reduzida no evento, com apenas quatro participantes.
— Muito emocionado, mas uma emoção de felicidade. Uma honra participar deste evento, representando toda a delegação brasileira. Queria que todos estivessem aqui para representar a nossa nação — disse Petrúcio, ainda no gramado, para o SporTV.
Além dos dois paratletas, a técnica da classe BC4 da bocha, Ana Carolina Alves, e o diretor técnico do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Alberto Martins, representaram os 259 atletas (incluindo atletas-guia, calheiros, goleiros e timoneiro) no evento que deu o pontapé inicial no Japão. A novidade ficou por conta do anúncio dos nomes dos paratletas que apareciam nos telões, conforme as delegações entravam para o desfile, e da presença de cachorros acompanhando alguns deficientes visuais.
A parada das nações foi fechada pela França, sede das próximas Paralimpíadas, e com o Japão, local dos Jogos que começaram nesta terça-feira. Tóquio, assim, se confirmou como a primeira cidade a sediar duas edições do evento paralímpico — a primeira vez foi em 1964. Mami Tani, do triatlo, e Koyo Iwabuchi, do tênis de mesa, foram os porta-bandeiras japoneses. A sala de embarque do "para-aeroporto" estava completa e o voo estava pronto para decolar.
De novo, uma sequência de luzes, representando os agitos, formou o planeta Terra no gramado do Estádio Nacional de Tóquio. Na sequência, a organização dos Jogos ilustrou a performance da história de uma monoasa, que foi encorajada por seus amigos, mostrando que todos podem voar. Yui Wago, de 13 anos, foi a escolhida a protagonizar a apresentação. Outros "aviões" também estiveram no palco, amputados, portadores de nanismo, cadeirantes voarem no gramado.
Sob chuva, a parte protocolar voltou à cena. Seiko Hashimoto, presidente do Comitê Organizador de Tóquio 2020, e Andrew Parsons, presidente do CPI, fizeram os seus discursos para marcarem a abertura do evento.
— Bem-vindos aos Jogos Paralímpicos de 2020. Não posso acreditar que estamos finalmente aqui. Muitos duvidaram que este dia ia chegar, mas graças aos esforços de tantos, o evento mais transformativo da Terra está prestes a começar. O governo japonês e os comitês nunca perderam a fé em relação aos Jogos. Agradecemos aos nossos anfitriões que acreditaram que podemos entregar um evento seguro. Arigatô, Tóquio! Arigatô, Japão — disse Parsons.
Os momentos que antecederam os Jogos lançaram o movimento "WeThe15", campanha global lançada pelo Comitê Paralímpico Internacional, com o objetivo de acabar com a discriminação contra 1,2 bilhão de pessoas com deficiência no mundo. Ao longo da próxima década, até 2030, a campanha quer transformar a vida de pessoas com deficiência, que representam 15% da população do planeta. Para ilustrar isso, foi exibido um vídeo sobre a ação.
— Declaro oficialmente abertos os Jogos Paralímpicos de Tóquio — soou a voz do imperador Naruhito no vazio do Estádio Nacional para abrir o evento.
A partir disso, os paratletas iniciaram a entrada com a bandeira paralímpica, hasteada ao lado da japonesa. Seis atletas paralímpicos a carregaram — quatro representantes de quatro continentes e dois representantes do país-sede. O colombiano Fabio Torres, do halterofilismo, é o representante das Américas.
Wago, a menina monoasa da performance, voltou a aparecer no gramado do Estádio Nacional. Sob luzes de raios e trovões (artificiais), a jovem foi surpreendida por um caminhão cheio de "bugigangas", que se tornou em uma banda tocando músicas japonesas. Com confiança, ela, enfim, alçou voo.
O último ato da cerimônia de abertura foi a entrada do fogo paralímpico no Estádio Nacional de Tóquio. Foram reunidas chamas acesas em cada uma das 47 prefeituras do Japão e em Stoke Mandeville, no Reino Unido, berço do movimento paralímpico.
Os primeiros atletas a carregarem a tocha paralímpica no Estádio de Tóquio são Kuniko Obinata, Masahiko Takeuchi e Mayumi Narita. Eles passaram a chama para funcionários da saúde do Japão: Taro Nakamura (médico), Tamami Tamura (enfermeira) e Fumio Usui (protesista).
Subindo por uma rampa até a pira olímpica, que mais uma vez remetia a uma flor de cerejeira, Yui Kamiji (tênis sobre cadeira de rodas), Shunsuke Uchida (bocha) e Karin Morisaki (halterofilismo), o último trio de paratletas, acenderam o fogo na pira em Tóquio.