Logo que os primeiros casos de covid-19 começaram a ganhar o noticiário no Brasil, muitas pessoas que tem exposição pública diária resolveram revelar que tinham contraído o novo coronavírus. Entre elas, estava a jogadora de vôlei do Sesc-RJ e da seleção brasileira, Drussyla.
A jovem ponteira de 23 anos teve seu caso revelado pelo próprio clube, em março.
- Num treino, os médicos do Sesc nos orientaram sobre os sintomas e quando criança, eu tive pneumonia e lembro que naquela época sentia muita falta de ar. E eu percebi que, na primeira noite, estava muito ofegante, sem respirar e indisposta. O mais decisivo foi a falta de ar - contou em entrevista ao programa Gaúcha 2020, da Rádio Gaúcha.
Orientada pelo médico de sua equipe, Ney Pecegueiro do Amaral, a jogadora acostumada a sempre estar ativa precisou se adaptar a uma nova rotina.
- Eu tive que descansar bastante. O médico do clube e os do hospital instruíram para ficar em isolamento total, em casa, sem sair de jeito nenhum. Descansei bastante. Tentei me alimentar da melhor forma possível e tomar os remédios. Eu fiquei uns 20 dias isolada em casa. O aconselhamento é de 14 dias - descreve a atleta que passou a frequentar a seleção principal em 2017.
Com um dia a dia, em tempos normais, muito agitado com viagens, treinos, concentrações e jogos, Drussyla afirma estar gostando do período em casa.
- Confesso que tenho adorado ficar em casa porque desde os 15 anos eu não tenho esse tempo, já que se não estava no clube, estava na seleção. Mas sei que sou atleta e então tento manter uma alimentação saudável e regrada. Eu corro toda madrugada, na praia de Copacabana, uns 6 km, e volto pra casa. No máximo saio para ir na farmácia e no mercado durante o dia, quando preciso - afirma a campeã mundial sub-23 de 2016, também com a seleção.
Mas apesar de um início fulminante de carreira, Drussyla também já enfrentou alguns percalços e precisou se afastar das quadra, por conta de uma fratura por estresse constatada em 2018. A lesão a fez perder a maior parte da temporada 2018/19 da Superliga.
Recuperada, a ponteira voltou a figurar nos jogos do Sesc-RJ e foi novamente convocada para a seleção brasileira que, em setembro do ano passado, ficou em quarto lugar na disputa da Copa do Mundo do Japão.
Porém, o retorno não foi da maneira esperada por ela e depois de algumas conversas com a comissão técnica do Sesc RJ, foi definido que para ter uma recuperação ainda melhor, e voltar mais rápido à sua antiga forma, seria interessante passar por um procedimento médico em dezembro de 2019, colocando uma placa de sustentação na canela direita, para dar mais segurança em treinos e jogos.
Este período turbulento prejudicou o desempenho de Drussyla, especialmente na briga por uma vaga entre as 12 jogadoras que seriam convocadas para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Porém, com o adiamento do evento para 2021, uma nova possibilidade de recuperar o tempo perdido surge.
- Particularmente fiquei feliz com o adiamento, mas ao mesmo tempo preocupada por não saber quando isso vai acabar (pandemia), quando vamos treinar. Eu não jogo uma temporada completa, por conta da minha lesão, faz quase dois anos. Nessa temporada eu não estava melhor fisicamente. Eu acredito que terei que fazer o melhor para ir. O corte será justo e se for convocada ficarei muito feliz, mas se não estiver lá não será o fim do mundo. E para quem já estava preparado para disputar a Olimpíada terá que segurar a ansiedade - avalia a jogadora nascida em João Pessoa.
Aliás, o cancelamento da Superliga deixou uma ponta de frustração para o time carioca, segundo Drussyla.
- O Sesc-RJ estava em segundo na tabela e já tinha ganho um título (Copa Brasil) esse ano. Eu acreditava que iríamos ganhar a Superliga, nosso time estava muito encaixado, com a Tandara (oposto) e a Fabíola (levantadora), que eram nossas referências. E infelizmente vamos olhar e lembrar que poderíamos ganhar e não terminou - lamenta.
Nesse período, tem sido muito comuns as reprises de jogos de todas as modalidades, mas para a atacante de 1,83m este não é um programa que chame sua atenção.
- Eu não assisto vôlei. O máximo é vôlei de praia e é raro. Não gosto de chegar em casa e olhar e pensar o que poderia ter feito. Então em casa eu procuro não assistir. Penso que se aqui eu posso fazer outra coisa, não posso ser atleta nesse momento também - explica a jogadora que também já atuou na praia.
Os primeiros passos da carreira de Drussyla foram nas areias de João Pessoa. Em 2012, ao lado de Rebecca chegou ao vice-campeonato mundial da categoria sub-21.
- Eu amo praia. Sinto saudade. Eu pretendo voltar a jogar na praia. A Jaqueline Silva (ouro em Atlanta 1996) foi minha técnica na praia e se Deus quiser um dia eu volto - revela.
No Sesc-RJ, Drussyla é comandada por Bernardinho, bicampeão olímpico como treinador da seleção masculina, que tem como grande característica a cobrança pela perfeição.
- O Bernardo é fora da curva. Ele se estressa. As pessoas veem ele xingando, gritando, rasgando a camisa, quebrando o fone de ouvido. Mas é um técnico de coração enorme. Ele ama o que faz. Ele é viciado por vôlei, quer ver todo mundo bem fisicamente - garante.
Mas quando se encontra com as colegas de seleção, a ponteira passa a trabalhar com o tricampeão olímpico José Roberto Guimarães. E ela faz um comparativo entre os dois treinadores.
- Ele (Zé Roberto) é calmo, mas também pega no pé. São técnicos completamente diferentes na personalidade e forma de trabalhar. Não vejo semelhança nos dois. a personalidade e os treinos são completamente diferentes - conclui Drussyla, que enquanto não puder retornar às quadras seguirá sua rotina de corridas nas madrugadas da praia de Copacabana.