Aos 20 anos, Drussyla Costa foi convocada para a seleção feminina de vôlei pelo técnico Zé Roberto Guimarães na semana passada.
Quem, como eu, acompanha vôlei há mais de duas décadas sabe por que uma atleta tão jovem disputará as principais competições internacionais a partir deste ano ao lado de nomes como a campeã olímpica Natália Zilio, jogadora do time multicampeão Fenerbahçe. Para quem só se liga no esporte em ano olímpico ou de mundial, um resumo: na Superliga deste ano, Drussyla colocou no banco Anne Buijs, ponteira titular e estrela da Holanda nos Jogos Olímpicos do ano passado, e ajudou o Rexona-Sesc a conquistar a principal competição nacional pela 12ª vez.
Enfrentar grandes times não é novidade para Dru, como é conhecida pelos fãs fanáticos do vôlei. A jovem está acostumada a entrar em quadra sob forte pressão. Em 2015, foi uma das protagonistas da conquista do campeonato mundial sub-23 disputado na Turquia. Não se acovardou diante das favoritas donas da casa e da torcida barulhenta do país.
Agora, debaixo dos holofotes, a ponteira vai ter que evoluir física e tecnicamente, mas não só isso. Terá de aprender a lidar com o ódio e o preconceito das redes sociais. Em um grupo de discussão no Facebook, o Total Vôlei, Drussyla foi atacada por um internauta. "As #DruFans estão nervosas, aceitem que ela não tem ensino médio, se não se matar de jogar, não trabalha nem de doméstica", escreveu um usuário que foi removido da página posteriormente.
Após o comentário preconceituoso, Drussyla desabafou em sua conta no Instagram, na última terça-feira. "Sou negra, nordestina, criada na favela e sem o segundo grau completo", começou ela, orgulhosa de suas raízes. Na postagem, lembrou-se da sua primeira joelheira ("parecia um travesseiro de tão gorda que era"), do primeiro tênis caro que ganhou do pai ("parcelado em 10 vezes sem juros") e da primeira cochilada na escola por conta dos treinos.
A jovem disse orar a Deus para que ele nunca tire dela essas lembranças e ensinamentos de seu coração, "para que não cresça orgulho". É de garotas como Drussyla, apaixonada pelo esporte que pratica, que o país precisa. Principalmente num momento em que a seleção tenta se renovar após ser eliminada pela China na Olimpíada do Rio nas quartas de final, quando suas jogadoras foram criticadas pelo excesso de vaidade.