O mineiro Leonardo Amâncio, ponteiro que atua na Arábia Saudita, não está entre os principais nomes do vôlei nacional. Porém, nas últimas semanas, ganhou destaque ao publicar vídeo em uma rede social pedindo auxílio do Governo Federal e da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) para retornar ao país em meio à pandemia de coronavírus.
Após começar a carreira em projeto social no interior de Minas Gerais, aos 14 anos e passar pelo Araxá-MG, Sada Betim-MG, Caramuru-PR, São José dos Campos e Rio Preto, ele parou de jogar em 2014 para realizar uma cirurgia no estômago para curar uma úlcera. O retorno se deu dois anos e meio depois nas areias. Depois de disputar algumas etapas do Circuito Nacional de vôlei de praia, Léo Amâncio recebeu uma proposta para jogar no Kuwait.
— Teve um convite para jogar no Kuwait, mas as coisas não se desenrolaram e depois de esperar uma resposta veio uma proposta para ir para a Arábia. Assinei e fui no outro dia — lembra o atacante de 29 anos em entrevista ao programa Gaúcha 2020, da Rádio Gaúcha.
Sem nenhuma experiência longe do país, jogar no mundo árabe foi "desafiador", como ele mesmo relata . As dificuldades de cultura e culinária foram superadas pelo único estrangeiro do Thahlan SC, da segunda divisão do vôlei saudita.
— Na segunda divisão só pode um estrangeiro. O resto são jogadores locais. Já na primeira podem jogar dois estrangeiros — conta Léo Amâncio.
Alto (1m96cm) e magro (80 kg), o ponta lembra um dos grandes craques da seleção brasileira campeã olímpica nos Jogos Rio 2016, o carioca Wallace de Souza.
— Pelo jeito físico e técnico já me falaram. Eu sonho conhecer ele (Wallace). Vejo muitos vídeos dele para estudar e acrescentar à minha carreira. Sou fã número 1 e pra mim ele é o maior do mundo — derrete-se Amâncio, ao comentar a semelhança de biotipos.
Tudo corria bem para o brasileiro até a chegada do coronavírus. Em 14 de março começaram a ser realizadas medidas de contenção da pandemia no país árabe.
— O governo anunciou que as principais cidades, como Meca e Riad, seriam fechadas. Cancelaram os voos nacionais e internacionais por 15 dias — relata.
Sozinho e sendo o único brasileiro na cidade de Al Duwadimi (300 km da capital Riad), Léo viveu momentos de angústia e tensão.
— Depois de anunciarem que tinham fechado os aeroportos, resolveram que 80% do país entraria em lockdown, com toque de recolher por 24h. Tinha polícia nas ruas. Se você fosse pego andando, poderia receber uma multa de até R$ 12 mil. Foi bem assustador — afirma o mineiro que a esta altura já sonhava em retornar para casa.
Com medo de ser deportado, o jogador brasileiro diz que não saía do hotel de onde morava e que suas compras eram feitas por um motorista oferecido pelo clube, já que se sentia "assustado, sozinho e impotente" diante da situação. Foi nesse momento que resolveu apelar e pedir auxílio nas redes sociais.
— Não foi por falta de dinheiro, não. Pedi porque não tinha voo — apressa-se em falar para emendar com o início da história que o colocou no mesmo avião que traria jogadores de futebol brasileiros e seus familiares:
— A Embaixada do Brasil me ligou e informou que teria que esperar ter um número suficiente de pessoas para sair de lá e que dependia de uma autorização do Itamaraty.
Um dos temores de Leonardo era seguir isolado, até porque os árabes se preparam para o período do Ramadã (23 de abril a 23 de maio) e, sem voos internacionais, ele teria de ficar trancado no hotel.
— Eles (clube) informaram que a liga ficará parada até 1º de agosto e que só nesta data vão decidir o que fazer. Daqui uns dias tem o Ramadã e pensei: agora é que não saio daqui.
E foi nesse momento que a história começou a mudar.
— Foi então que recebi mensagem de texto e depois de voz do Souza (volante, ex-Grêmio). Ele disse que estavam fretando um voo e que se tivesse uma vaga iriam me ajudar. Depois o representante do Marcelo Grohe (Bruno Junqueira) entrou em contato comigo, disse que sabia da situação e que eles iriam ajudar — narra Amâncio.
E o que parecia se transformar em drama virou alegria. Dois dias depois, Léo Amâncio foi para a casa de Souza, em Jedá, onde ele atua pelo Al-Ahli. De lá, ao lado de Romarinho, ex-atacante do Corinthians, que atua no Al-Ittihad, e alguns familiares de atletas, embarcou rumo ao Brasil.
Já em casa, na cidade de Patos de Minas, e se preparando para novos desafios, Léo Amâncio conta que dormiu pouco durante o voo por não acreditar na sorte que teve.
— Dormi umas 5, 6 horas. O resto do tempo passei admirando os caras (Souza e Romarinho) e pensando no quanto eles são humildes. Me senti muito lisonjeado de estar ali com eles.
Ex-goleiro do Grêmio, Marcelo Grohe não estava no voo. Porém, mesmo sem ainda o conhecer pessoalmente, Léo Amâncio revela enorme admiração pelo camisa 1.
— O Grohe eu não conheci pessoalmente. Só falei através dos representantes. Mas sou fã dele e espero que os gremistas me convidem para ir até a Arena para assistir um Gre-Nal. Eu vou vibrar demais — entusiasma-se.
Confira aqui algumas jogadas do ponteiro na Liga Saudita.