A pandemia mundial do coronavírus mudou a rotina de todo o mundo. O vírus, que teve seus primeiros casos sendo registrados na China, se espalhou pela Terra e se tornou uma ameça à saúde de todos está levando as pessoas ao isolamento em suas casas. No esporte, eventos foram e seguem sendo cancelados ou adiados até que a situação se normalize. No Brasil, por exemplo, a Superliga feminina de vôlei foi cancelada, enquanto a masculina segue suspensa.
Filha de ex jogador Paulão, campeão dos Jogos Olímpicos de Barcelona 1992, a ponteira Pietra Jukoski atua no Alexandria Sporting Club, do Egito, desde setembro do ano passado. De lá, em entrevista ao Programa Gaúcha 2020, da Rádio Gaúcha, a jogadora de 21 anos fez um relato de como tem passado as últimas semanas.
— No sábado passado nós recebemos a informação de que tudo iria começar a fechar e as pessoas iriam adotar o trabalho em casa. O clube também anunciou que iria parar os treinamentos. Eles deram prazo de duas semanas de pausa na liga e a previsão era de voltar em abril. Desde então eu estou em casa, os supermercados continuam com número razoável de pessoas. Nem toda a população está cumprindo a questão da quarentena. O governo já fez alguns pedidos e no dia 19 fechou o aeroporto do Cairo até o dia 1ª de abril ninguém sai ou entra no Egito — descreve a ex-capitã da seleção brasileira infanto juvenil.
De acordo com Pietra, o Egito ainda não vive uma grande apreensão por não contar com muitos casos e mortes até o momento.
— Ainda não cancelaram a liga e nós estamos esperando. Fomos informadas da pausa de duas semanas, mas acredito que não tem como dar continuidade. Enquanto isso é ficar em casa. O país é grande aqui e ainda não teve o pico, são poucos casos e mortes, ainda não teve proliferação. Então eles acham que por enquanto está controlado — comenta.
A jovem atleta que iniciou sua carreira no Grêmio Náutico União e que acumula passagens pelos tradicionais Osasco e Pinheiros, ambos de São Paulo, revela estar ansiosa por retornar para casa.
— Fica uma angústia por não poder voltar pra casa, sabendo que a liga pode ser cancelada. Mas não tem o que fazer é tentar ficar tranquila em casa porque é uma crise mundial. Querendo ou não, acredito que é correto fechar os aeroportos. Mas poderiam ter alertado os estrangeiros antes, eu acredito. Estou aqui desde setembro, ai fica está ansiedade. Agora falta pouco para abril, quando deve abrir o aeroporto. E espero que o clube considere isso. Meu contrato é até o final de abril, mas espero que eles liberem antes. Prefiro estar em casa numa situação dessas, ao lado dos familiares, do que do outro lado do mundo — afirma Pietra, que nasceu em Maringá, quando o pai atuava no voleibol paranaense, mas que cresceu em Gravataí.
No Egito, Pietra tem a companhia da oposta gaúcha Paula Mohr, nascida em Horizontina, e que defende o principal clube do país, o Al-Ahly.
— Os treinos foram cancelados. O clube chegou a pensar em voltar na quarta-feira passada. O preparador físico até mandou algumas orientação. Então o que dá para fazer em casa a gente faz. Mas não temos contato com mais ninguém. Eu moro em Alexandria, que fica a umas duas horas e pouco do Cairo para onde eu vim e estou aqui na casa da Paula Mohr — gaúcha que atua no Al Ahly. E estamos aguardando orientações e tentando evitar sair de casa. Só pra comprar comida mesmo — comenta sobre a rotina da dupla na capital egípcia.
Mas apesar de encarar o desafio de estar longe de casa em um momento de grande dificuldade em todo o mundo, Pietra acredita que a primeira experiência em um clube fora do Brasil tem sido única.
— Comparando com a liga brasileira, nem todos os clubes egípcios tem comportamento profissional. A cultura deles é muito diferente. O nível é como se fosse um sub-23. No meu time, a mais velha tem 27 anos. Um time desses no Brasil é muito novo, pro exemplo. Aqui a mulher ainda encontra mais dificuldades do que no Brasil, até pela cultura, religião. É bem diferente. Então tem uns três quatro times dos 12 que fazem jogos equilibrados. O resto é bem fraco. Nós disputamos o Campeonato Árabe, em fevereiro, em Dubai, e o nível foi melhor. Enfrentamos times da Argélia, Emirados Árabes e Tunísia e ficamos em segundo. O melhor time daqui do Egito, o Al-Ahley, não disputou. Foi bom porque aqui tivemos dois meses sem jogos para a seleção local disputar o Pré-Olímpico. Mas eles não respiram voleibol, estão aprendendo ainda. Mas é uma experiência única. Um dos meus pensamentos foi: "quando eu vou ter essa oportunidade de jogar no Egito?" Então eu acho isso enriquecedor e está sendo válido jogar aqui.
De uma família tradicional no vôlei, já que além do pai campeão olímpico ainda tem um irmão, Pedro Henrique, que atua como levantador na Espanha, Pietra Jukoski demonstra preocupação com o futuro dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.
— Sobre Jogos Olímpicos é complicado. Várias ligas estão sendo canceladas por causa dessa caos todo. É difícil falar se sou a favor ou não de cancelar. Mas todos estão parando, a NBA, por exemplo, respeitando o problema. A China está melhorando é uma notícia boa. Mas para Tóquio tem ver como estará a situação de todos os países. Isso influencia treinamentos e tem que pensar no todo. Esse vírus está acima do nosso controle e está mostrando a nossa vulnerabilidade. É o maior e mais importante evento pros atletas, é o auge. É muito delicado. É difícil dizer que tem que cancelar. Eu acho que tem que respeitar o que vai ocorrer nos próximos meses. Espero que tomem a melhor decisão pra todo mundo — pondera a atacante.
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