O Gre-Nal de Curitiba foi do Inter. Foi do time que se organizou melhor em campo na maior parte dos 97 minutos de partida. Que não terminou o jogo com um zagueiro de centroavante, dando chutão para a área. Que manteve a melhor defesa do Brasileirão após nove duelos. Que, desde a última quinta-feira (20), vive um ambiente com menos tensão. Que não se abalou com o público maior do outro lado. E que soube abrir o placar, em uma cabeçada de Vitão desviada contra o próprio gol por Gustavo Martins, e fechar a casinha. O Gre-Nal de Curitiba foi do mesmo time que havia vencido os dois clássicos anteriores.
Mas antes de falar sobre o jogo em si, é preciso voltar uns dias. Na quinta-feira, quando Grêmio e Inter chegaram a Curitiba, havia enorme diferença nos ambientes. O que é até uma obviedade: enquanto os gremistas acumulavam cinco derrotas seguidas, os colorados subiam de Santa Catarina com uma vitória sobre o Corinthians.
Mas era mais do que isso. O lado tricolor tinha a tensão da zona de rebaixamento, da falta de peças, de mistérios que não empolgavam a torcida. O vermelho tinha esperança de contar com Alan Patrick, uma mudança que realmente causaria impacto no time.
Horas antes do jogo, Curitiba vivia uma tarde atípica. O bairro Altos da Glória causou um déjà vu para quem viveu o Estádio Olímpico. Semelhante à Medianeira, à Azenha, a localidade do Couto Pereira é residencial e comercial. E permite que torcedores cheguem ao jogo caminhando, conversando, trocando provocações e brincadeiras. Não houve registros de brigas ou alguma ocorrência mais séria do lado de fora. A 700 quilômetros de onde costuma ocorrer o clássico, a dupla Gre-Nal se sentiu como se retornasse ao passado.
Foram quase 28 mil pessoas, sendo 2 mil colorados espremidos em uma multidão gremista. Mesmo em minoria absoluta, porém, conseguiram fazer barulho. A tensão do Grêmio se refletiu também na arquibancada. E o time não fez o suficiente para criar a atmosfera de dentro para fora.
Com a bola rolando, o Gre-Nal teve uma novidade. A primeira falta só ocorreu 21 minutos após o apito inicial. Possivelmente seja um recorde. E nos primeiros 46 minutos, nenhum goleiro precisou fazer nem sequer uma defesa. Mas quanto a isso já estamos acostumados.
Na segunda etapa, o Grêmio poderia ter feito o 1 a 0, quando João Pedro perdeu uma chance clara. A partir dali, o Inter se impôs. E abriu o placar em uma jogada brilhante de Alan Patrick, que driblou Carballo e cruzou. Marchesín interveio com o pé, a bola subiu, Vitão atropelou Geromel, ganhou pelo ar, cabeceou. Talvez a conclusão não tivesse a direção certa, mas o desvio em Gustavo Martins devolveu a trajetória do gol. O árbitro Ramon Abatti Abel assinalou gol contra para o zagueiro tricolor.
Ramon Abatti Abel, aliás, pôde voltar tranquilamente para Santa Catarina, inclusive poderia ouvir as entrevistas e o pós-jogo todo: seu nome não foi citado, em uma prova de que foi bem no clássico.
O único problema envolvendo torcida foi que logo depois do gol, colorados acenderam sinalizadores. Os artefatos foram apagados, mas a partida ficou interrompida por dois minutos. Está na súmula.
Pouco importou para o Inter. Após o apito final, jogadores, comissão técnica e dirigentes comemoraram, com a torcida, a vitória no clássico. Foi o terceiro triunfo seguido sobre o rival. Uma das maiores críticas que Coudet sofreu em sua primeira passagem, a de não vencer o Grêmio, virou uma de suas principais marcas.
O que vem depois do clássico
O Colorado terminou a rodada na sétima posição, a sete pontos do líder Flamengo, mas com dois jogos a menos. Na quarta-feira (26), tem moral suficiente para chamar de Beira-Hülse a casa do Criciúma, onde mandará o jogo com o Atlético-MG. Existe uma esperança de não precisar mais adaptar nomes de estádio e de que volte a usar o Beira-Rio contra o Vasco, em 7 de julho. Em casa, crê que pode brigar na parte de cima do Brasileirão e avançar em Copa do Brasil e Sul-Americana.
Para o Grêmio, fez diferença. O time igualou a pior marca de sua história em Brasileirão, seis derrotas seguidas. Isso só tinha ocorrido em 2004, ano do segundo rebaixamento. Para não isolar o recorde negativo, terá de empatar ou vencer na quarta-feira (26) o Atlético-GO, adversário direto na luta contra o Z-4. Depois dessa partida, volta ao Rio Grande do Sul após mais de um mês e meio. Fará cinco jogos seguidos em Caxias do Sul, quatro como mandante, no Estádio Centenário, e um como visitante, contra o Juventude, no Alfredo Jaconi. É a esperança de Renato para mudar o cenário.
Até lá, os dois lados vivem a realidade de um pós-Gre-Nal. O lado vitorioso aproveita os três pontos, mantém o bom ambiente e se prepara para sonhar. O derrotado busca explicações, conversa e ouve corneta, interna e externa. Porque não importa se foi em Curitiba, o Gre-Nal tem vida própria desde antes do Estádio Olímpico.