Poucos brasileiros conhecem tão bem a Espanha quanto o ex-volante Marcos Senna, 46 anos. Naturalizado espanhol, campeão da Eurocopa e morador do país há 20 anos, o ex-jogador avalia que o atacante Vinicius Junior, do Real Madrid, está promovendo uma verdadeira revolução na forma como os espanhóis debatem o racismo.
— Eu moro na Espanha, joguei pela Espanha, tenho muitos amigos espanhóis e não acredito que o país seja racista, e sim que existem alguns imbecis. Mas, ainda assim, acho que a frase dita pelo Vinicius Junior de que a Espanha é racista foi válida. Depois daquilo, o país começou a se mexer no debate sobre o racismo — declarou Marcos Senna em entrevista exclusiva a GZH, na tarde desta quarta-feira (14), em seu apartamento em Valência.
O ex-jogador complementou, dizendo que haverá um "antes e depois" destes casos de injúria racial contra o atacante brasileiro.
— Eu acho que o episódio envolvendo o Vinicius Junior vai ser um marco no futebol espanhol. Vai ter um antes e um depois. Nunca houve uma revolução como essa que está acontecendo — avaliou Marcos Senna.
Após fazer história na seleção espanhola, sendo um dos destaques da conquista da Eurocopa 2008, Senna trabalha hoje como diretor de relações institucionais do Villareal, clube que disputa a primeira divisão do país. Conhecedor da realidade espanhola, o ex-meio-campista acredita que o combate ao racismo no país irá melhorar após o debate imposto pelo atacante brasileiro.
— O Vinicius Junior foi muito valente. Ele é um menino de 22 anos, e encarar o que ele vem encarando não é nada fácil. Não sei se eu aguentaria. Mas me dá a sensação de que daqui para frente as coisas vão ser diferentes. Nos episódios anteriores, nunca teve essa repercussão mundial. Em todos os jogos agora a televisão exibe mensagens contra o racismo. Ministros, presidentes e grandes autoridades se manifestaram, e a Espanha começou a se mexer — completa.
Na entrevista a GZH, Marcos Senna disse que chegou a sofrer com episódios pontuais de injúria racial no futebol espanhol logo que chegou ao país, na primeira metade dos anos 2000. Porém, depois que se naturalizou e se firmou na seleção da Espanha, nunca mais conviveu com este problema.
— Eu sofri com um episódio ali entre 2004 e 2005, bem antes de eu atuar pela seleção. Mas foi bem longe de qualquer comparação com o Vinicius. Escutei um "uh, uh, uh" (som de imitação de um macaco). Mas isso aconteceu umas duas vezes aqui. Depois que o público espanhol começou a me conhecer, isso não voltou a acontecer. Depois que defendi a seleção espanhola, aí o carinho foi crescendo — conta.
Apesar de aplaudir a contundência de Vinicius Junior e exaltar o impacto das suas declarações, Marcos Senna discorda que a Espanha seja racista.
— O país não é racista, mas existe racismo como existe também no Brasil. E temos que combater este mal tanto aqui quanto lá — finaliza.