— Muito obrigado pela oportunidade de explicar aos brasileiros que nós não somos um clube racista.
Assim o diretor-corporativo do Valencia recebeu a reportagem de GZH na manhã desta quarta (14), no Estádio Mestalla, em Valência. Em frente ao gramado onde Vinicius Junior foi vítima de insultos racistas no jogo contra o Real Madrid, no fatídico dia 21 de maio, Javier Solis, manda-chuva do clube do mediterrâneo espanhol, afirmou que foram identificados três autores dos atos de injúria racial contra o brasileiro e que todos eles foram banidos para sempre do quadro social e dos jogos da equipe espanhola. O dirigente declarou ainda que a direção e os torcedores do clube estão ao mesmo lado dos brasileiros na luta contra o racismo.
— O Valencia foi absolutamente implacável após os episódios daquele dia. Na manhã seguinte ao jogo, depois de uma noite inteira de trabalho, já tínhamos identificado as três pessoas. Elas foram banidas para o resto da vida. Nunca mais poderão voltar a entrar no Estádio Mestalla e também foram expulsas do quadro de sócios do Valencia. Somos uma entidade que sempre se destacou pela luta contra todo o tipo de racismo. Nós não admitimos isso e lutamos fortemente pela erradicação de qualquer violência e discriminação — disse o diretor.
Solis, que é o número dois no organograma do clube espanhol, abaixo apenas da presidente cingapurense Lay-Hoon, garantiu que foram apenas três os autores dos atos racistas contra Vinicius Junior. Segundo o dirigente, nenhuma palavra de teor racista foi proferida de forma coletiva ou uníssona contra o brasileiro.
— Tanto o relatório do jogo, que é feito pelo árbitro, como o relatório de segurança, feito por um diretor da La Liga que acompanha cada jogo do Campeonato Espanhol, e também o relatório que a polícia encaminhou ao Ministério Público para apuração dos fatos fazem referência a três indivíduos identificados, que foram os que fizeram gestos absolutamente reprováveis contra o Vinicius — complementa:
— As imagens mostram claramente que nenhum insulto racista foi proferido em nível coletivo ou de forma generalizada por todo o estádio. E é muito importante para nós deixar isso claro para todo o povo brasileiro. O estádio de Mestalla nunca gritou insultos racistas de forma uníssona. Isso é algo que queremos esclarecer de forma categórica porque doeu muito no clube terem pensado que o estádio inteiro entoou um cântico racista que não foi entoado.
Segundo Solís, após Vinicius Junior ser expulso da partida, a torcida entoou a palavra "tonto", que ele alega ser comum nos estádios espanhóis, e não a palavra "mono" (macaco, em espanhol), que possui uma fonética parecida, ao contrário do que foi reclamado após o jogo pelo técnico do Real Madrid, Carlo Ancelotti.
— Foi um ruído de comunicação, uma confusão de linguagem, Isso está claro. As repetições das imagens e a análise dos áudios mostram claramente que o que foi gritado naquele momento (da expulsão de Vinicius Junior) foi a palavra "tonto".
— O Valencia sempre foi implacável no combate ao racismo, e nós estamos ao mesmo lado do Brasil nesta luta — finalizou.
Confira a íntegra da entrevista exclusiva do diretor-corporativo do Valencia, Javier Solís, à GZH:
Qual a posição do Valencia a respeito dos episódios ocorridos no Estádio Mestalla, no jogo contra o Real Madrid, quando o atacante Vinicius Junior foi vítima de insultos racistas por parte de torcedores do Valencia?
Em primeiro lugar, gostaria de enviar ao povo brasileiro uma mensagem de amizade e solidariedade pelo incidente ocorrido no Estádio Mestalla. Foi um incidente isolado e que absolutamente não tem nada a ver com os valores do Valencia, uma entidade com mais de 104 anos de história e de uma cidade que desde sempre mostrou-se acolhedora e respeitosa com todos, sem distinção. Foi um episódio em que obviamente o maior prejudicado foi o Vinicius Junior, mas ouso dizer que, depois do Vinicius, o grande prejudicado foi o Valencia. O que aconteceu aquele dia não representa os torcedores do Valencia. A prova disso foram o repúdio contundente que o fato teve do clube imediatamente depois do episódio e toda a onda de solidariedade que tanto a cidade de Valência quanto o clube mostraram e quiseram mostrar ao Vinicius Junior.
O que foi feito pelo Valencia para punir os autores dos atos de injúria racial contra o Vinicius Junior?
O Valencia foi absolutamente implacável e proativo após os episódios. No mesmo dia, depois do jogo, o clube condenou e lamentou o fato e garantiu que faria de tudo ao seu alcance para trabalhar na identificação daqueles três torcedores que foram os que fizeram aqueles gestos absolutamente desprezíveis. Na manhã seguinte, já tínhamos, depois de uma noite de trabalho, identificado as três pessoas. Elas foram banidas para o resto da vida. Nunca mais poderão voltar a entrar no Estádio Mestalla e também foram expulsas do quadro de sócios do Valencia. O Valencia é uma entidade que não apenas nesta ocasião, por conta deste infeliz episódio, mas também no passado, sempre se destacou pela sua luta contra todo o tipo de racismo. Esta não é a primeira punição que impusemos a um torcedor. Também tivemos um infeliz acontecimento em 2019, quando um torcedor fez um gesto semelhante e também foi banido para sempre do clube. Nós não admitimos e lutamos fortemente pela erradicação do racismo e de qualquer violência e discriminação.
Esses torcedores não poderão assistir a jogos do Valencia no Mestalla nunca mais?
Nunca mais. Nós os identificamos e implementámos o regulamento interno do clube, que condena e penaliza este tipo de comportamento. Aplicamos as nossas normas com o maior rigor possível, com a expulsão para toda a vida, tanto da condição de sócio do Valencia como do direito de entrar no estádio. Fomos totalmente céleres, rápidos e ágeis na aplicação das punições como não poderia deixar de ser.
As repetições das imagens e a análise dos áudios mostram claramente que o que foi gritado naquele momento (da expulsão de Vinicius Junior) foi a palavra "tonto", que é comum nos estádios espanhóis
JAVIER SOLIS
Diretor-corporativo do Valencia
Foram só três torcedores mesmo que insultaram o Vinicius Junior? Gostaria de ouvir com mais detalhes a versão do clube sobre o que exatamente ocorreu naquele dia no estádio Mestalla. O que deixou o jogador brasileiro tão transtornado?
Foi uma partida transmitida ao vivo para todos. Para responder à sua pergunta, vou me basear tanto no relatório do jogo, que é feito pelo árbitro, como no relatório de segurança, feito por um diretor da La Liga que acompanha cada jogo do CampeonatoEspanhol, e também no relatório que a polícia encaminhou ao Ministério Público para apuração dos fatos. E todos esses documentos fazem referência a três indivíduos identificados, que foram os que fizeram gestos absolutamente reprováveis contra o Vinicius. É verdade que houve um ruído, possivelmente de comunicação, porque o treinador Carlo Ancelotti é italiano e não espanhol e pensou ter entendido que todo o estádio havia gritado um insulto racista. E não foi assim. Foi uma confusão de linguagem. Isso está claro. As repetições das imagens e a análise dos áudios mostram claramente que o que foi gritado naquele momento (da expulsão de Vinicius Junior) foi a palavra "tonto", que é comum nos estádios espanhóis. As imagens mostram claramente que nenhum insulto racista foi proferido em nível coletivo ou de forma generalizada por todo o estádio. E é muito importante para nós deixar isso claro para todo o povo brasileiro. O estádio de Mestalla nunca gritou insultos racistas de forma uníssona. Isso é algo que queremos esclarecer de forma categorica porque doeu muito no clube terem pensado que o estádio inteiro entoou um cântico racista que não foi entoado.
Então, no momento em que o Vinicius Junior foi expulso, Ancelotti pensou ter ouvido a palavra "mono" (macaco em espanhol), quando na verdade foi dita a palavra "tonto", é isso?
Sim, o Ancelotti disse ter ouvido a palavra "mono". Mas efetivamente a palavra entoada por todo o estádio naquele momento foi "tonto", que é comum nos estádios da Espanha. O Vinicius é um grande atleta, um grande esportista e é absolutamente um craque. Mas ele também teve um comportamento infeliz quando fez um gesto em alusão à Segunda Divisão para a torcida inteira. Esse gesto logicamente desagradou à torcida. Mas a reação da torcida foi banal, jamais um xingamento racista como pareceu para alguns.
Como desportista espanhol, por que o senhor acha que o Vinicius Junior foi alvo de tantos insultos racistas por parte de várias torcidas nesta temporada?
É uma boa pergunta e com uma resposta complicada. Acredito que o esporte deve ser um setor da vida em que o respeito, a superação à igualdade devem prevalecer sobre outros aspectos e situações. Infelizmente, nós sabemos que isso nem sempre acontece, não só em Valencia ou na Espanha, como em todo o mundo. Os insultos estão presentes nos campos de futebol e obviamente temos de condenar. Seria preciso ir a razões muito mais profundas da educação do povo, da educação dos jogadores e dos valores elementares de convivência, que muitas vezes, e infelizmente, nem sempre fazem parte do futebol. Eu gostaria que todos os tipos de insultos não tivessem espaço no mundo do futebol. E acredito que as instituições, a partir de uma mensagem responsável, serena e clara, devem fazer o seu trabalho em conjunto com os órgãos que gerem o futebol para melhorar o ambiente nos estádios.
Vinicius Junior é bem-vindo ao Estádio Mestalla? Que perspectiva há para que o atacante brasileiro volte à casa do Valencia na partida contra o Real Madrid no ano que vem?
Todos os jogadores são absolutamente bem-vindos ao Mestalla. Obviamente será um ambiente tenso, como sempre é quando os grandes clubes vêm. O Vinicius joga em um grande clube, com uma grande rivalidade com o nosso time. A mesma coisa acontece com os jogadores do Barcelona, do Atlético de Madrid, do Betis e do Sevilla. Mas desejo e espero que a mensagem de paz que será passada pelo clube contribua para que tenhamos um ambiente quente sim, mas nunca desrespeitoso.
Estamos por realizar uma campanha permanente, não apenas de forma pontual, para contribuir com a luta contra o racismo de forma clara e direta
JAVIER SOLIS
Diretor-corporativo do Valencia
Que ações são tomadas pelo Valencia para ajudar a combater o racismo nos estádios?
Não só por cauda desse incidente, mas o Valencia já faz campanhas antirracistas. E estamos por realizar uma campanha permanente, não apenas de forma pontual, para contribuir com a luta contra o racismo de forma clara e direta. Com isto, o que pretendemos é ajudar a erradicar qualquer tipo de manifestação violenta ou racista não só no Estádio Mestalla, mas também nos demais estádios. Mas independentemente disso, a atitude do clube sempre foi pró-ativa no sentido de lutar contra esta maldição que é o racismo no futebol.
Que mensagem o senhor mandaria aos brasileiros que tanto criticaram o Valencia nas últimas semanas por conta deste episódio envolvendo o Vinicius Junior?
Que nós estamos no mesmo lado. Nós do Valencia e o povo brasileiro estamos no mesmo time na luta contra o racismo. Neste tema estaremos sempre ao lado dos brasileiros e de todos os povos. Temos um carinho muito grande pelo Brasil, que já nos forneceu grandes jogadores ao longo da nossa história. Somos privilegiados por termos já desfrutado de grandes atletas como Valdo, Romário, Mazinho, Jonas...
O Jonas atuou no Grêmio, que é de Porto Alegre, nossa cidade.
O Jonas é um grande jogador, que teve uma passagem super produtiva em nosso clube, marcou muitos gols desde o início de 2010 e sem dúvida nos dá ótimas lembranças de Jonas.