O mês de agosto marcou a despedida de Luís “Peacemaker” Tadeu da Imperial. O técnico estava com Gabriel “Fallen” Toledo, Fernando “Fer” Alvarenga e Lincoln “Fnx” Lau, desde o início do projeto do Last Dance, criado no início de 2022 com o objetivo de disputar o Major do Rio, principal competição de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO), que pela primeira vez será realizada em território brasileiro
O experiente coach de 34 anos participou da montagem do time e esteve à frente da equipe durante todo o caminho para o Major da Antuérpia, na Bélgica, quando a Imperial por pouco não chegou aos playoffs da competição.
— Desde o começo da minha carreira, lá na Games Academy, eu via o Fallen, o Fer, o Fênix e eu pensava que se um dia eu conseguisse trabalhar com eles, seria um sonho realizado. Quando surgiu a oportunidade do Last Dance, eu pensei comigo “é algo genuíno e tão da hora de se fazer, por que não arriscar e ver o que acontece? Mesmo com todas as dificuldades" — contou Peacemaker em entrevista ao G-Start.
Peacemaker também relembra que durante as primeiras reuniões do Last Dance muita coisa foi conversada com o intuito de definir o verdadeiro propósito do projeto. Seria um time voltado apenas para o competitivo ou para criação de conteúdo? Entre outros temas.
— Conversamos muito sobre o objetivo de se aproximar da comunidade brasileira, algo que, ainda por conta da pandemia, não conseguimos e não foi tão legal como projetávamos. Óbvio que o dinheiro importava também, mas nunca foi falado sobre quanto cada um jogador precisava ganhar ou algo do tipo. Por isso, nunca houve uma pressão competitiva em cima de nós. E isso, combinado com a dedicação de todos, fez com que tivéssemos bons resultados e disputássemos praticamente tudo que queríamos — revelou.
O ex-técnico da Imperial comentou que o fato de não ter podido estar presente ao lado dos jogadores durante o Major da Bélgica foi o que mais o chateou.
Por conta de um banimento Imposto pela eSports Integrity Commission (ESIC), que havia considerado o treinador culpado por usar “bug do coach” (erro no jogo que permitia que os treinadores tivessem acesso a uma visão ampla do mapa de jogo) em 2018. Após provar sua inocência, Peacemaker foi liberado e já pode voltar a atuar próximo dos atletas, nas futuras equipes em que trabalhar.
Sobre a saída da Imperial, Peacemaker não esconde sua frustração. Deixando claro que entende e respeita a decisão dos jogadores, o treinador falou sobre o que pensa.
— Machucou. Não vou negar. Eu entendi os motivos pelos quais eles optaram por fazer essa mudança. Eu sou um coach que gosta de ter um impacto na equipe, por conta da experiência que eu adquiri nesses anos, e o Fallen e os outros jogadores tem as ideias deles. Muitas vezes a gente concordava, outras vezes não. Agora, chegou em um momento em que eles optaram por seguir as ideias deles. Porém, o que mais me pegou é que, quando criamos o projeto, eu acreditava que nós iríamos juntos até o Major no Rio. Isso foi o que mais doeu. Acredito que conseguiríamos isso, agora não sei se estarei lá, estou trabalhando para isso — comentou.
Carreira antes da Imperial
Peacemaker é um dos treinadores mais renomados no cenário do CS:GO. Antes de comandar o Last Dance, o paulista despontou na sua carreira de coach nos Estados Unidos, quando esteve à frente da Games Academy. O time era formado por Henrique “HEN1” Teles, Lucas “Lucas1” Teles, Gustavo “Shoowtime” Gonçalves, João “Felps” Vasconcellos e Ricardo “Boltz” Prass.
Após relativo destaque, recebeu uma oportunidade até então inédita para os brasileiros: trabalhar em uma organização internacional. O Team Liquid, uma das principais organizações de eSports, convidou Peacemaker para ser o coach e capitão da equipe (na época, os coaches podiam falar em meio aos rounds de uma partida, algo proibido atualmente pela Valve, desenvolvedora do jogo).
Foi durante essa experiência que Peacemaker conseguiu o vice-campeonato mundial, no Major de Cologne, na Alemanha. O brasileiro liderou a Liquid de Jonathan “Elige” Jablonowski, Spencer “Hiko” Martin, Nicholas “nitr0” Cannella, Joshua “jdm64” Marzano e Oleksandr “S1mple” Kostyliev até à final, quando foi derrotado para a SK Gaming, de Fallen, Fer, Fnx, Coldzera e TACO.
O treinador relembra como foi a experiência na Liquid e, principalmente, como foi trabalhar com S1mple, tido por muitos atualmente como o melhor jogador de Counter-Strike de todos os tempos.
— Desde o começo, ele sempre foi um cara adorável e carinhoso com quem ele gostava. Mas ele era seletivo. A minha reação com ele sempre foi de amor e ódio. Eu entro no time com a minha ideia de jogo e ele queria se destacar. Queria que o time jogasse para ele. Ele era tipo o Romário: queria jogar, mas não treinar. Era dedicado no que ele gostava de fazer, e o restante do time ficava enciumado porque ele não treinava as táticas. Tentamos mudar muito isso, mas ele tinha uma personalidade muito forte — diz Peacemaker, que finaliza falando sobre como a derrota na final para a SK impactou no futuro do ucraniano:
— Foi a primeira vez que eu vi o S1mple nervoso dentro do server. Eu acho que ele estava nervoso por estar enfrentando a melhor equipe do mundo na época. Querendo ou não, ele admirava aqueles jogadores. Ele não jogou tão bem e ali eu percebi que ali existia um ser um humano atrás daquela máquina. Quando eu vi isso, eu percebi o tamanho que ele poderia ser, caso alguém o ajudasse a melhorar em alguns quesitos pontuais. Foi aí que ele recebeu a proposta da NAVI (Natus Vincere) e percebeu que era a chance da vida dele. Quem não quer representar a maior organização de seu país?