Próximo de um novo rebaixamento, agora à Série D do Brasileirão, o Brasil-Pel teve sua crise escancarada em uma carta divulgada pelo grupo de jogadores nesta sexta-feira (5). No documento, eles afirmam que estão com dois meses de salários atrasados e que jamais tiveram depositados o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Os atletas também cobram o pagamento da premiação pelo título de Campeão do Interior do Gauchão.
Conforme os jogadores do clube pelotense, representados pelo advogado Filipe Rino, o último salário pago pelo clube é referente ao mês de maio. Apesar de promessas da diretoria, nada foi colocado em dia. Eles relatam dificuldades para o pagamento de despesas básicas, como conta de luz, água, alimentação e combustível. Além disso, revelam que há jogadores que receberam ordem de despejo de imóveis alugados. "Deixamos claro que estamos passando por sérias dificuldades financeiras, até para custear nosso combustível para irmos trabalhar", afirma no comunicado.
A nota é finalizada com a afirmação de que, embora todas as adversidades enfrentadas, os jogadores estão comprometidos com o clube nas rodadas restantes do Brasileirão Série C - mesmo com o artigo 32 da Lei Pelé permitindo que eles não entrem em campo diante de um atraso salarial maior que dois meses. "Em respeito à instituição e aos torcedores Xavantes. Lutaremos até o fim", enfatizam na nota.
Faltando dois jogos, o Brasil é o lanterna da competição, com 14 pontos, e tem remotas chances de escapar do rebaixamento. Neste domingo (7), o Xavante recebe o Confiança, no Bento Freitas, pela 18ª rodada da competição. Mesmo vencendo, o time pelotense pode ser rebaixado por antecipação se o Floresta-CE superar o Campinense-PB.
Através da assessoria de imprensa do clube, o presidente Evanio Tavares afirmou que não irá se manifestar sobre a cobrança pública dos jogadores.
Confira a nota
Nós, todos os atletas do elenco profissional do Grêmio Esportivo Brasil, decidimos vir a público manifestar nossa indignação com as condições de trabalho às quais estamos sujeitos. Somos cientes de que nossa profissão nos trás cobranças de Diretores, Torcedores e Veículos da Imprensa, e isso faz parte do nosso trabalho. Mas todos também precisam saber o que de fato está ocorrendo no clube. No início do ano, nos foi prometido pela Diretoria do Grêmio Esportivo Brasil premiação por metas no Gauchão, como Campeão do Interior e bônus em caso de vitórias e empates, caso ficássemos entre os 4 melhores do Campeonato. Com muita luta e empenho de todos nós, chegamos até a fase semifinal, nos sagrando campeões do Campeonato do Interior Gaúcho de 2022.
Entretanto, quase 5 meses após a conquista, nada recebemos. Porém, isso jamais foi motivo para deixarmos de honrar o clube e sua torcida. Cobramos sim, diversas vezes a Diretoria, mas jamais deixamos de nos empenhar em campo ou fora dele. Mas não é só. Como muitos sabem, a remuneração dos atletas profissionais de futebol muitas vezes é dividida em Salários, Direito de Imagem e Auxílio Moradia. Ocorre que nosso último pagamento se refere a Maio, e já estamos em Agosto. O atraso nos pagamentos de nossa remuneração nos traz diversos prejuízos.
Nós não somos da cidade, e, para aqui trabalharmos, tivemos que alugar imóveis, transferir escola de nossos filhos, custear nossa família aqui. Sem receber, não conseguimos pagar aluguéis, contas de luz, contas de água, alimentação básica. Há atletas sofrendo com ordem de despejo. Isso é justo? Você, Diretor, Torcedor, Jornalista, Cronista, conseguiria manter 100% do seu rendimento estando com ordem de despejo, ou sem conseguir custear alimentação básica de seu filho, com ameaças de corte de luz? É importante esclarecer que no elenco não há nenhum salário milionário, muito longe disso.
A média salarial é baixa, no padrão do Campeonato Brasileiro Série C. Trabalhamos pelo básico e nem isso estamos tendo. Ainda, os valores do FGTS jamais foram depositados. Há casos de atrasos de 8 meses. E esses atrasos não são de agora. Desde o começo do ano nossas remunerações sempre foram pagas em atraso. Sempre ouvíamos do Presidente que iria resolver, mas sempre foram apenas promessas.
E é fundamental deixar claro que a Lei Pelé (artigo 32) nos permite deixar de entrar em campo, quando estivermos com nossa remuneração em atraso por 2 meses, como está. E isso já ocorreu em outros casos, como Grêmio Barueri, Mogi Mirim EC e mais recente como Figueirense FC. Mas não faremos isso, em respeito à instituição e aos torcedores Xavantes. Lutaremos até o fim!
Deixamos claro que estamos passando por sérias dificuldades financeiras, até para custear nosso combustível para irmos trabalhar. Mas em momento algum deixamos de treinar, concentrar, viajar e atuar. Honraremos esta camisa. Mas precisamos que a Diretoria também honre com nossos direitos, com nossos contratos. Atenciosamente, atletas do elenco profissional do Grêmio Esportivo Brasil.