A edição do Sala de Redação desta sexta-feira (27) foi repleta de homenagens a David Coimbra. Participante fixo dos debates esportivos da Rádio Gaúcha desde 2011, sendo um dos mais antigos integrantes da atual formação — atrás apenas de Adroaldo Guerra Filho —, o jornalista morreu nesta manhã após quase uma década enfrentando o câncer.
Já na abertura, o apresentador Pedro Ernesto Denardin convocou o comentarista e colunista de Zero Hora Diogo Olivier para falar sobre o grande amigo. Diogo relatou o convite que aceitou, em 1996, para deixar a editoria de política e compor a equipe de esportes:
— Eu só estou aqui na crônica esportiva por causa do David, que me convidou um dia. Eu já tinha dito não para ele, quando me convidou para ir trabalhar em Novo Hamburgo. Não poderia dizer não a um amigo duas vezes. Pessoalmente, posso te dizer sem medo de errar que não tomei nenhuma decisão na minha vida sem consultar o David. Então, estou me sentindo meio devastado. Parece que me arrancaram um pedaço.
Em seguida, as memórias começaram a transbordar, repletas de emoções.
— O mundo fica um pouco mais burro hoje — disse Pedro Ernesto. — Muitas vezes, desci para a redação do jornal e encontrei todo mundo em polvorosa com o David e o Guerrinha juntos, contando histórias e dizendo bobagens.
— Hoje é um dia que não precisava existir... — emendou Guerrinha, com a voz embargada. — Nos anos 1990, eu era setorista de turfe da Zero Hora e entenderam que tinham de parar a cobertura. O David encostou em mim e perguntou: "Tu faz futebol?". Eu disse: "Não entendo nada de turfe, mas entendo razoavelmente de futebol". Então, ele me colocou de setorista e ali foi o pulo do gato. O poder de convencimento dele era fantástico. Por isso, digo com todas as letras: este 27 de maio não deveria existir. Eu me debulhei chorando de manhã e acho que vou me debulhar chorando o resto do dia.
Mas nem só as lembranças de trabalho vieram à tona. O comentarista e colunista Leonardo Oliveira, que foi comandado por David Coimbra em sua época de editor-chefe de esportes da Zero Hora, revelou como eram as noites que antecediam os fins de semana:
— A sexta-feira era pesada, de fechamento de edição, mas a editoria ficava em uma animação e, daqui a pouco, o David começava a cantar. Nós fechávamos o jornal e íamos beber. Viramos mais do que uma equipe, mas amigos. As outras pessoas do jornal queriam trabalhar no esporte.
O "chopp cremoso", aliás, era uma das paixões de David Coimbra. E, por isso, tantas histórias foram construídas em meio a canecas de cerveja.
— Meu pai foi um grande boêmio e eu o tinha como ídolo. Outro boêmio que eu tinha como ídolo foi Vinícius de Moraes. E o David tinha uma coisa de Vinícius de Moraes. Eu fui, seguramente, o que menos conviveu com ele (entre os debatedores) e estou despedaçado. Imagino o que vocês estão passando — disse Alex Bagé.
— Fiquei devendo um chopp para o David. Perdi uma aposta e fiquei devendo um chopp para ele. Sugiro que ele seja o patrono póstumo da Feira do Livro de Porto Alegre. Estou aqui hoje, no que seria minha folga, não por dever de ofício, mas porque era meu dever falar sobre minha admiração por ele — declarou Mauricio Saraiva.
Já o repórter José Alberto de Andrade, entre tantas recordações de coberturas esportivas, contou um encontro do jornalista com a Seleção Brasileira nos Estados Unidos:
— O Neymar tem uma dívida com o David Coimbra ou, na verdade, com o Bernardo (filho de David). A Seleção foi jogar em Boston e eu fui visitá-lo. Não sabia como tratar ele, por causa do tratamento. Ele chegou normalmente e me disse: "Vou te mostrar o melhor hambúrguer do mundo". E aí fomos comer e, quando chegamos lá, estavam os jogadores da Seleção Brasileira. O Neymar estava tomando um milk shake e ele tirou uma foto com o celular, para mostrar ao filho. O pessoal do estafe pediu para ele apagar, e ele pediu um autógrafo, que foi prometido mas nunca chegou. Então, espero que o Neymar pague esta dívida.
Entre as participações especiais, dois ex-integrantes do Sala de Redação também deram depoimentos importantes. Emocionado, Duda Garbi entrou interpretando o seu personagem "Santaninha":
— Vagabundo e mau caráter! — mas logo em seguida, se desarmou. — O Grêmio tem que homenagear ele. Ele era gremista e não era segredo para ninguém — revelou.
— Era gremista, mas sabia onde o sapato apertava — emendou Guerrinha.
Por fim, coube a Lauro Quadros recordar um dos episódios mais marcantes da passagem de Coimbra pelo programa. Em 2013, após uma discussão ao vivo, Paulo Sant'Anna puxou sua bengala para atingi-lo por cima da mesa, no estúdio da rádio.
— O Cacalo e eu nos atiramos no meio dos dois para que a bengala do Sant'Anna não pegasse na cabeça do David Coimbra. Agora, eles estão se beijando no céu, junto com o Wianey Carlet — brincou Lauro.
E assim foi o primeiro Sala de Redação sem a presença física de David Coimbra, mas repleto de boas histórias e recordações.