O retorno de público a estádios de futebol gaúchos, a ser autorizado oficialmente na sexta-feira (3) pelo governo Eduardo Leite (PSDB), aplicará uma série de protocolos sanitários no esforço de reduzir riscos de exposição à covid-19. Entre as medidas, torcedores deverão permanecer exclusivamente sentados, com distanciamento de 1 metro e uso obrigatório de máscara.
Estádios poderão receber público até 40% da capacidade, com limite máximo de 2,5 mil pessoas, mesmo para arenas maiores. Torcedores serão espalhados em diferentes setores, cuja limitação também será de 40% para evitar multidões.
As novas regras entram em vigor no próximo fim de semana, declarou o vice-governador, Ranolfo Vieira Júnior. Se a retomada não der certo ou se houver piora da epidemia, o governo do Estado retrocederá na reabertura, afirmou.
— Um ginásio de esportes em que caiba 1 mil pessoas poderá realizar uma competição esportiva com 40% dessa capacidade, ou seja, 400 pessoas. Agora, vamos pegar o exemplo do Gigantinho. Não pode, nesse caso, exceder ao teto de 2,5 mil pessoas — afirmou o vice-governador. — A ideia é a de que essas 2,5 mil pessoas se espalhem por todos os setores do estádio — acrescentou Ranolfo.
Portões deverão ser abertos com antecedência para entrada e a saída precisará ser ordenada. Os ingressos serão vendidos pela internet para evitar aglomeração nas bilheterias. No interior do Estado, a venda poderá ocorrer de forma presencial, mas antecipadamente.
— Estamos fazendo isso em uma fase em que o Rio Grande do Sul tem 1,4 mil pacientes internados, quando já tivemos mais de 9 mil. Temos mais de 70% da população vacinada com primeira dose e teremos em breve dose dois para todos. Posteriormente, poderemos ter avanços maiores (nas liberações) — afirmou na tarde desta quinta-feira (2) à Rádio Gaúcha o coordenador do Grupo de Trabalho de Protocolos do governo do Estado, Bruno Naundorf.
Em entrevista a GZH, o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Luciano Hocsman, observou que a entidade sugeriu ao governo do Estado que, para entrar em estádio nos próximos 45 dias, seja necessário ter tomado duas doses de vacina ou dose única da Janssen contra a covid-19 ou apresentar resultado negativo de exame PCR realizado até 48h antes do jogo.
— Depois de um mês e meio aberto, a Federação sugeriu liberar só para quem tiver esquema vacinal completo — afirmou Hocsman.
Para evitar aglomerações, uma ideia, diz o presidente da FGF, é instalar barreiras ao redor de estádios para permitir a entrada apenas de torcedores com ingressos já comprados.
Retomada gradual
A liberação do governo Eduardo Leite é apenas o primeiro passo para a retomada de público em jogos de futebol no Rio Grande do Sul. O decreto estadual não obrigará o retorno, uma vez que a decisão cabe às diferentes entidades que regulam os campeonatos, como a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Federação Gaúcha de Futebol (FGF).
— Não estamos regulando campeonato, mas competições esportivas. As regras de cada competição serão definidas pela Federação Gaúcha de Futebol, de Vôlei etc. As regras não obrigam que haja público em jogo do Campeonato Brasileiro — informou Naundorf.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) estabeleceu, junto com clubes, que jogos com público nas séries A e B do Brasileirão só voltam a acontecer quando os times tiveram autorização de seus Estados para receber torcedores. Portanto, não basta que o Rio Grande do Sul tenha liberado a entrada – é preciso aval de outras Unidades da Federação. Quando a retomada for geral, nova reunião extraordinária de dirigentes de clubes discutirá a reabertura dos portões no Campeonato Brasileiro.
O combinado é diferente na Copa do Brasil. Como o torneio é de mata-mata, pode haver público desde que os Estados dos dois clubes permitam público. Por exemplo, o Grêmio, que recebeu o Flamengo na semana passada, poderia abrir a Arena desde que o time carioca pudesse fazer o mesmo no duelo do próximo dia 15.
Em protocolo divulgado na metade de agosto, a CBF estipulou que, para campeonatos nacionais, estádios poderão receber apenas o público do time da casa, uma forma de evitar viagens e espalhamento da covid-19 entre cidades e Estados. As regras também exigem exame PCR em até 72 horas antes da partida – vacinados com duas doses ou dose única da Janssen ficam liberados de apresentar teste.
No caso da FGF, o presidente Luciano Hocsman afirmou que, já no próximo fim de semana, oito estádios de futebol do Rio Grande do Sul podem voltar a receber público na sétima rodada da Divisão de Acesso.
Segundo Hocsman, como o decreto é estadual, não é preciso ter aval das prefeituras para o retorno. Os executivos municipais podem, no entanto, aumentar as restrições ou mesmo proibir a presença de torcedores – para isso, é preciso assinar decreto específico.
O prefeito Sebastião Melo (MDB) sancionou na tarde desta quinta-feira (2) projeto que autoriza o retorno do público aos estádios. A medida, no entanto, não deve afetar a dupla Gre-Nal por conta do acordo junto à CBF de liberar a retomada apenas quando todos os times tiverem autorização de governos locais.
Fiscalização e punição
A fiscalização dos protocolos, segundo Naundorf, ficará a cargo das prefeituras e dos próprios clubes, que deverão destacar “monitores” para observar se a torcida está sentada e mantém o uso de máscara.
— Outras competições já eram fiscalizadas pelos municípios e seguirão agora. No caso do futebol, ficou estabelecido que haja, além da fiscalização pelo poder público, monitores para fiscalizar e termos uma abertura segura, para o público conseguir entender que ainda estamos em pandemia — acrescentou Naundorf.
O presidente da FGF, Luciano Hocsman, destaca que clubes terão que intensificar a fiscalização porque o decreto do Estado se tornará parte do regulamento de competições estaduais.
— Aquele clube que seu torcedor descumprir os protocolos vai descumprir também o regulamento e, consequentemente, pode ter penalidades aplicadas pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), sem prejuízo de atuação do Ministério Público, que é o órgão competente para fiscalizar a execução das leis — afirmou.
Contatada por GZH, a CBF esclareceu que não cabe à entidade estabelecer punição para clubes que desrespeitarem os protocolos sanitários, mas sim ao STJD e às autoridades locais.
Se forem constatados desrespeitos reiterados às medidas sanitárias, eventual punição desportiva pode ser solicitada pela Procuradoria do STJD ou mesmo apresentada pela própria CBF à Procuradoria.
Não está claro, ainda, quais seriam as possíveis punições, uma vez que o Código Brasileiro da Justiça Desportiva não prevê tipificações relacionadas à pandemia. No entanto, o STJD já multou o Náutico em R$ 7,5 mil e o Operário, em R$ 2,5 mil, porque jogadores se recusaram a usar máscara da forma correta.