A intertemporada do Green Bay Packers foi uma chuva de críticas e pessimismo. A derrota marcante para o San Francisco 49ers na final da Conferência Nacional, a escolha de Jordan Love — entre outras polêmicas no draft —, um possível declínio físico de Aaron Rodgers e a carência na posição de wide receiver eram fatores que indicavam uma regressão com relação ao time que superou expectativa no primeiro ano do técnico Matt LaFleur. Todo o cenário mudou em três jogos.
De repente, o plano estabelecido por LaFleur e pelo general manager Brian Gutekunst ficou mais claro. A ideia do sistema ofensivo nunca foi tirar a bola das mãos de Rodgers e correr como se fazia em outras eras do futebol americano. O plano é usar o jogo corrido como base esquemática para playaction e outros movimentos táticos que permitem maior separação aos recebedores, ainda que eles não sejam naturalmente talentosos para os padrões da NFL. Por isso, a versatilidade é a grande arma — o que justifica o peso de Aaron Jones no ataque e a escolha do tight end/h-back Josiah Deguara na terceira rodada.
Assim, começou a surgir uma eficiência que não se via em Green Bay há tempos. As atuações ofensivas contra Minnesota Vikings, Detroit Lions e New Orleans Saints são tão expressivas que o Packers tem, até agora, a média de maior pontos por campanha na história da NFL se os números forem mantidos até o final da temporada — 3,73, contra 3,19 do New England Patriots de 2007 e 3,12 do Kansas City Chiefs de 2018.
— O grande motivo da evolução ofensiva do Packers em 2020 se deve ao entrosamento entre Matt LaFleur e Aaron Rodgers. É assustadora a conexão que existe entre os dois. Essas duas mentes trabalhando juntas já deram indícios, mesmo passando pelas as dores do crescimento, no ano passado. Agora, vem se confirmando tudo isso semana a semana. Rodgers está muito confortável e confiante das jogadas — analisa Mateus Cabezudo, do perfil Cheeseheads Brasil.
A evolução individual de Aaron Rodgers no segundo ano do sistema é sensível. Ele está em segundo na métrica do QBR, com 90.3, atrás apenas de Patrick Mahomes. Ano passado, foi o 20°, com 52.5. O passer rating é de 121,1, atrás de Russell Wilson e Josh Allen — Rodgers só terminou uma das últimas cinco temporadas com o rating acima de 100.
— Eu sinto que o Matt (LaFleur) está em um ótimo ritmo de chamadas. Nós fizemos um ótimo trabalho na maior parte em terceiras descidas e fomos oportunistas com algumas grandes jogadas quando precisamos. Envolvemos vários jogadores, vários jogadores receberam passes — elogiou Rodgers, depois da vitória no domingo (27), sobre o Saints.
Na segunda-feira, o time jogará contra o Atlanta Falcons, quem mais cedeu pontos nas três primeiras semanas da temporada. O jogo só não é visto como fácil porque a defesa de Green Bay decaiu em relação ao ano passado, especialmente depois da lesão do nose tackle Kenny Clark no primeiro tempo do jogo contra o Vikings.
— Não acho que seja possível corrigir os problemas, porque eles são de fundamentos. Podem ser minimizados se Pettine tiver uma boa atuação. Porém, mandar seis defensive backs para campo contra 12 personnel me deixa apreensivo quanto à noção do coordenador defensivo. Ele é um bom treinador, mas nos três primeiros jogos, o Packers já acende um sinal amarelo na defesa. O Packers precisa de Kenny Clark saudável no restante da temporada para que Za'Darius Smith consiga voltar ao lugar dele, batalhando contra os offensive tackles — observou Cabezudo.
Estatística da semana
122,5
Foi o passer rating de Aaron Rodgers em 2011, o melhor ano de sua carreira. Naquela temporada, ele foi eleito o jogador mais valioso da NFL e teve 4.643 jardas, 45 touchdowns, seis interceptações e uma média de 9,2 jardas por tentativa.
Jogador fora do radar
Tyler Ervin foi puxado dos waivers após ser cortado pelo Jacksonville Jaguars em 2019. Inicialmente, chegou apenas como retornador. Mas neste ano virou uma arma ofensiva. Apesar de estar listado como running back, na prática ele tem sido o quarto wide receiver no elenco — e é utilizado como um canivete suíço.
Fique de olho
Há duas situações clínicas importantes para a sequência da temporada do Packers. Kenny Clark machucou o músculo da virilha na semana 1, e o wide receiver Davante Adams lesionou o músculo posterior da coxa na semana 2. Nenhum jogou contra o Saints, mas há chance de que ambos retornem contra o Falcons.