O ano de 2006 foi uma quebra de paradigma para o New Orleans Saints na NFL. Depois de décadas de fracassos, a franquia escolheu as peças que elevariam o time de patamar historicamente. Com o técnico Sean Payton e o quarterback Drew Brees, o Saints conquistou 138 vitórias e 86 derrotas — um aproveitamento de 62,3%. Antes, era de 40,3%, com 237 vitórias, 352 derrotas e cinco empates. A parceria levou a franquia ao seu primeiro título de Super Bowl, depois da temporada 2009.
Mas o trabalho em conjunto da dupla está na reta final. Brees completou 41 anos em janeiro, já tem contrato assinado com a emissora americana NBC para ser comentarista assim que encerrar a carreira, e pode viver em 2020 a sua última chance de tentar um segundo anel.
Por isso, o Saints já começa a pensar em qual será a abordagem do futuro. Por enquanto, as decisões de Sean Payton e do general manager Mickey Loomis indicam que Taysom Hill é o próximo quarterback titular.
— Sean Payton está intrigado com a ideia de ter um quarterback móvel. A liga está indo nesta direção, e em algum ponto, com as defesas ficando mais atléticas, ter alguém que pode fazer jogadas fora do script, como Patrick Mahomes ou Lamar Jackson, vai ser uma necessidade. E como uma mente ofensiva criativa, acredito que ele (Payton) goste da ideia de ter um novo desafio — observa Nick Underhil, que cobre o Saints para o site NewOrleans.football.
A seguir, o Prime Time avalia os pontos a se considerar para o futuro do Saints.
Aposentadoria de Drew Brees
Tecnicamente, Brees tem contrato com o Saints até 2021. Portanto, é possível que ele decida estender sua janela por mais uma temporada. O quarterback já assinou contrato com a NBC para ser comentarista assim que encerrar a carreira, mas o acordo com a emissora não impede que ele jogue por mais tempo.
— Ele esteve muito perto de parar na última temporada, e rumores sobre a sua aposentadoria circularam no Pro Bowl. Então, o fim está próximo, mas até que ele realmente pare, a porta está aberta para ele em New Orleans. Eu imagino que esta será a sua última temporada, mas eu não tenho um sentimento tão forte a ponto de colocar dinheiro nisso — avaliou Underhill.
Espaço no teto salarial
O formato utilizado pelo Saints para aumentar a janela de Brees é aproveitar salary cap futuro nos contratos atuais. Isso, de certa forma, limita a flexibilidade salarial do time. Drew Brees, por exemplo, assinou teoricamente um contrato que vai até 2023. Mas isso é apenas um mecanismo para diluir o impacto do contrato. Na prática, o acordo vai até 2021. Se Brees resolver se aposentar, um saldo de US$ 22,65 milhões ficará para trás — um valor que já foi pago, mas ainda não foi creditado no teto salarial.
Neste caso, o Saints tenderia a mover Brees para a lista de aposentados apenas depois do mês de junho. Assim, teria US$ 11,15 milhões de impacto em 2021 e US$ 11,5 milhões em 2022.
O problema do modelo de gestão é que isso fez com que o Saints tenha sido fortemente impactado pela redução na projeção do teto salarial de 2021. Hoje, a estimativa é que o time tenha um saldo negativo de US$ 70 milhões para o ano que vem. Por isso, manter Jameis Winston e Taysom Hill ao mesmo tempo pode ser desafiador do ponto de vista econômico.
Mesmo assim, para Jason Fitzgerald, do site Over The Cap, não há uma certeza de que o Saints vá se preocupar em limpar o cap futuro, mesmo que Brees se aposente.
— Eu não antecipo que eles façam isso, pelo menos não logo de cara. Eles fizeram o movimento de estender com o Taysom Hill e também podem seguir adiante com Jameis Winston. Estão tentando achar a transição certa do Saints liderado por Brees para o Brees aposentado. Meu palpite é que, antes de tentar qualquer recomposição do teto salarial, eles estejam convencidos de que precisam reconstruir — explica.
Parte tática
Do ponto de vista de estilo de jogo, o cenário ideal para manter o padrão de Drew Brees seria a manutenção de Teddy Bridgewater, que foi para o Carolina Panthers — ou se o time tivesse conseguido subir no draft para selecionar Tua Tagovailoa, que acabou escolhido pelo Miami Dolphins. Como isso não ocorreu, uma adaptação do sistema é inevitável.
Com Taysom Hill, o ataque teria um estilo mais voltado para o jogo corrido — o melhor exemplo atual é o Baltimore Ravens, mas também há comparações com o que o Denver Broncos fez com Tim Tebow em 2011. Até porque, como passador, Hill não tem uma amostragem suficiente — são apenas 15 passes na NFL, 13 em temporada regular e dois em playoffs, nos três anos de carreira.
— Acima de tudo, nós ainda o vimos como quarterback e gastamos muito tempo nesta intertemporada discutindo nossa visão para ele nesta temporada como quarterback — revelou Sean Payton, em entrevista recente à ESPN. — Mas também à posição F. E com isso, eu digo... aquele tight end, wide receiver. Ele é um tremendo bloqueador, é físico. As pessoas não percebem o quão rápido ele é. Ele provavelmente é um dos três ou quatro jogadores mais rápidos do time.
Com Jameis Winston, que foi contratado para ser reserva depois de cinco anos no rival Tampa Bay Buccaneers, o ajuste teria de ser diferente. O antigo titular do Bucs é visto como um passador prolífico, mas ao mesmo tempo é famoso pelo alto número de turnovers. Ano passado, foi o primeiro jogador desde 1988 a ter 30 interceptações em uma mesma temporada.
O ajuste, inicialmente, seria torná-lo mais conservador. O problema é que, enquanto em Tampa Bay, sua produtividade caiu justamente nos dois anos em que ele lançou menos interceptações — 11 em 2017 e 14 em 2018 —, nas únicas temporadas em que ele passou menos de 4 mil jardas.
Alternativas
O fato de ter um teto salarial apertado não quer dizer que o Saints não pode fazer um investimento pesado na posição de quarterback se julgar necessário. Para Nick Underhill, a direção está acostumada a aproveitar o teto salarial futuro:
— O Saints tem demonstrado disposição para mover dinheiro e empurrar para o futuro com uma contabilidade criativa. Se eles precisarem criar espaço adicional, como regularmente fazem, podem continuar a empurrar dinheiro para temporadas futuras com bônus de elenco ou convertendo bases salariais em luvas. Em algum momento, eles vão ter de pagar essas contas, mas eles podem continuar as escondendo enquanto tiverem coragem para evitar pagar estes débitos.
Os quarterbacks no mercado de 2021 podem incluir nomes como Dak Prescott, Andy Dalton, Cam Newton, Philip Rivers, Mitchell Trubisky e Jacoby Brissett — além de eventuais novos nomes que surjam em trocas ou dispensas.
Também há uma boa classe de quarterbacks no draft de 2021, ainda que talvez seja necessário subir para conseguir alguns dos melhores prospectos — são eles Trevor Lawrence, Justin Fields e Trey Lance.
Estatística da semana
Taysom Hill tem um passer rating de apenas 46.6 na carreira. Mas houve uma evolução no número em 2019: 81.9. Ano passado, foram seis tentativas de passe, com três deles completos, para 55 jardas.
Jogador fora do radar
O Saints usou uma escolha de sexta rodada de 2021 para voltar à sétima rodada de 2020 e selecionar o quarterback Tommy Stevens, de Mississippi State. Se Taysom Hill virar o titular em tempo integral, Stevens pode herdar o papel de Hill pela sua versatilidade e nível atlético.
Fique de olho
Será interessante avaliar a sequência de movimentos do Saints para se adequar ao teto salarial de 2021. Como já usou luvas para espalhar os valores dos últimos anos, o time não tem a mesma flexibilidade do Philadelphia Eagles, por exemplo, que está com um saldo negativo ainda mais significativo.