Dona Olgair Dias de Oliveira nem gosta de futebol. E ainda assim, ele é parte fundamental de sua vida. Funcionária há 20 anos — entre idas e vindas — do Grêmio Atlético Farroupilha, o Fantasma do Fragata, bairro mais populoso de Pelotas, ela é a única profissional autorizada pela direção do campeão gaúcho de 1935 a ficar nas dependências do Estádio Nicolau Fico. Está lá para organizar a secretaria, receber os sócios, pagar as contas e realizar alguma burocracia que apareça nesse período. Ela é uma das 2.925 pessoas no Rio Grande do Sul que não têm no esporte apenas entretenimento ou distração. No caso deles, é, como diz aquele clichezão, bem mais do que 90 minutos — é mês a mês.
Mas, como ela, são milhares de pessoas que têm no futebol a fonte para se sustentar. E não só a eles mesmo, mas como a família. Se são quase 3 mil funcionários no futebol entre os clubes inscritos nas três divisões profissionais do Rio Grande do Sul, economistas apontam que cerca de 12 mil pessoas, pelo menos, dependam da bola para pagar as contas e sobreviver, entre familiares e dependentes. Entre os empregados, estão contabilizados apenas quem tem carteira assinada. Trabalhadores eventuais, como porteiros, bilheteiros, maqueiros, gandulas, vendedores ambulantes, seguranças e agentes de saúde não entram nesse levantamento.
Uma pesquisa da CBF executada pela consultoria Ernst & Young mostrou que o futebol emprega, no país inteiro, mais de 150 mil pessoas. Ele é responsável por injetar R$ 52,9 bilhões na economia do país — o equivalente a 0,7% do total do PIB brasileiro.
O futebol é mais uma das atividades econômicas a sofrer com os efeitos da pandemia de covid-19 no Brasil. Com campeonatos parados e pouca perspectiva de retorno, os clubes fazem contas para saber se conseguirão sobreviver. Os participantes do Gauchão, cujo recomeço está previsto para o final de julho, vivem uma expectativa melhor porque ganham dinheiro pela transmissão da TV. As agremiações da Divisão de Acesso, que teve três rodadas disputadas, e os da Terceirona, que ainda nem começou, passam por incertezas maiores.
— Estamos lidando com muitos empregos diretos e indiretos. Uma hora precisamos voltar, com prudência. É que, para nós, o futebol não é só diversão, paixão. Temos um compromisso econômico com os funcionários e com as famílias — aponta Tiago Rech, presidente do Santa Cruz, da Terceirona.
Esses clubes de divisões menores não dependem apenas de um recomeço do campeonato ou de uma permissão para jogar. O ideal seria entrar em campo quando pudessem receber público. Os clubes calculam que, apenas para abrir o estádio, precisam gastar algo entre R$ 1,5 mil a R$ 2 mil, valor já bem inferior a outros períodos graças ao pagamento da arbitragem por parte da FGF. Para zerar a conta, terminarem uma partida sem prejuízo, significa ter cerca de 200 pagantes por partida.
Uma das alternativas vistas pelos dirigentes, que mantêm contatos frequentes em grupos de WhatsApp e reuniões virtuais, seria a venda de direitos de transmissão por TV ou a viabilização de algum patrocinador. Outra é a CBF ajudá-los. A entidade, que apresentou lucro de R$ 190 milhões em 2019, ofereceu R$ 19 milhões às equipes presentes nas divisões nacionais e no futebol feminino.
O governo do Estado promete entrar na jogada. O secretário de Esportes, João Derly, colocou-se à disposição para buscar um diálogo com a CBF para tentar reduzir o impacto da pandemia na economia do esporte. Ele também deu como ideia algo semelhante ao que propôs a Liga Gaúcha de Futsal, com a criação de um sistema pay per view dos campeonatos — como é a FGF TV — e que poderia contar com a parceria da TVE.
— O esporte é um setor econômico importante, observamos no momento de dificuldade e tem toda uma cadeia produtiva além dos funcionários regulares, como pipoqueiro, o vendedor de churrasquinho, o ambulante. Vamos criar ações concretas para reduzir os prejuízos, de repente até mesmo linha de créditos — afirma.
O futebol como diversão pode até não ter pressa para voltar. Mas o futebol como fonte de renda precisa de soluções para não desempregar quase 3 mil pessoas.
EMPREGOS NO FUTEBOL DO RS
Gauchão – 1.526
- Aimoré 42
- Brasil-Pel 95
- Caxias 75
- Esportivo 52
- Grêmio 380
- Inter 440
- Juventude 160
- Novo Hamburgo 67
- Pelotas 60
- São José 50
- São Luiz 52
- Ypiranga 53
Divisão de Acesso – 709
- Brasil-Far 95
- Glória 34
- Veranópolis 40
- União-FW 37
- Igrejinha 51
- Tupi 31
- Passo Fundo 53
- Cruzeiro 68
- São Paulo-RG 36
- São Gabriel 38
- Inter-SM 35
- Guarany-Ba 40
- Guarani-VA 32
- Lajeadense 40
- Avenida 42
- Bagé 37
Terceirona – 690
- Santa Cruz 35
- Farroupilha 56
- Rio Grande 47
- 12 horas 40
- Riograndense-RG 37
- Real 40
- Riopardense 25
- União Harmonia 59
- São Borja 37
- Nova Prata 85
- Gaúcho 40
- Novo Horizonte 37
- Marau 50
- PRS 20
- Santo Ângelo 40
- Três Passos 42
Total: 2.925