Há 20 dias, o futebol virou do avesso no Rio Grande do Sul, seguindo a lógica mundial. No dia 13 de março, a Federação Gaúcha de Futebol (FGF) anunciou portões fechados para o Gauchão. Desde a quarta-feira (1º), Grêmio, Inter e dezenas de clubes iniciaram um período de férias coletivas para seus jogadores e comissões técnicas. Uma situação sem precedentes, inimaginável há três semanas. Quando os atletas voltarem, no dia 20 deste mês, em que patamar estarão as discussões sobre o futuro dos campeonatos mundo afora?
Tudo vai depender, claro, do avanço ou da estagnação do coronavírus. Enquanto isso, as entidades que cuidam do futebol em todos os Estados, países e continentes tentam projetar seu retorno, ainda que tenham poucas certezas.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, o Gauchão e a Divisão de Acesso, que estavam em andamento, foram paralisadas por tempo indeterminado. Ainda que o presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Luciano Hocsman, seja positivo e diga que nas conversas com os clubes tenha ficado claro o interesse em terminar a competição dentro de campo, isso poderia impactar no Campeonato Brasileiro, previsto para iniciar no primeiro final de semana de maio.
— Senti nos clubes a verdadeira intenção de continuar a competição ali na frente com todas as dificuldades que teremos. Sabemos que isso emplaca em folha de pagamento e encargos, mas saí esperançoso e torcendo para que o tempo de parada em razão do coronavírus seja o menor possível — disse Hocsman em entrevista a GaúchaZH quando foi feita videoconferência com participação de dirigentes da FGF e dos clubes participantes.
— A intenção é finalizar o Gauchão impactando o mínimo possível no Brasileirão para o calendário daquelas equipes que participam dele — acrescentou o presidente da FGF.
Essa posição é corroborada pelo mandatário do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior, que deseja a disputa do restante do Campeonato Gaúcho. De acordo com ele, há brechas no calendário para que se encaixem todas as competições.
— Gostaria que todos os campeonatos que estão em andamento fossem concluídos. Existe calendário até o final do ano, principalmente porque as datas Fifa não serão cumpridas neste ano — explica Bolzan, que acredita que as competições poderão se estender até janeiro:
— Quando os clubes organizaram a estratégia de dar férias coletivas de 1º a 20 de abril estamos dizendo que os calendários poderão chegar até o dia 23 de dezembro, estarão interrompidos por férias complementares de 10 dias, até o início de janeiro, e os campeonato poderão ser retomados. Ou seja, se o cenário da pandemia não for impeditivo em relação aos campeonatos, estaremos em condições de concluí-los dentro desse período, sem prejudicar o calendário, a fórmula ou os pagamentos.
Uma nova assembleia entre os clubes e a FGF está marcada para 20 de abril, quando a dupla Gre-Nal e outras equipes têm suas férias encerradas. O presidente do Inter, Marcelo Medeiros, falou sobre a intenção do clube com esse período de descanso:
— O Inter coloca todos os seus funcionários, atletas, todas as comissões técnicas, tanto da base quanto do profissional em férias, principalmente para incentivar o isolamento social e também para buscar uma equação das nossas contas neste período em que a bola não está rolando.
Quanto à retomada das competições, Medeiros ressalta que é uma questão maior do que apenas a preocupação com o futebol:
— Essa paralisação não depende dos clubes, da CBF ou da Federação Gaúcha. Depende das autoridades públicas, que vão liberar a sociedade civil para suas atividades normais assim que o crescimento dessa curva e o avanço do vírus tenham uma outra realidade.
Por isso, os presidentes de Grêmio e Inter entendem que é preciso aguardar, em casa, o desenrolar desta crise. Só depois disso será possível dizer quando o futebol voltará ao normal. Enquanto isso, eles trabalham para minimizar os impactos do coronavírus e avaliam que, se os jogos voltarem até o mês que vem, será possível cumprir o calendário. Se isso não ocorrer, é questão para ser discutida mais à frente.
Impacto nos calendários no Brasil e no mundo
Todas as competições organizadas pela CBF estão com jogos suspensos por tempo indeterminado. Assim, ainda não se sabe quando o Brasileirão começará nem mesmo quando a Copa do Brasil poderá voltar a receber jogos. Da mesma forma, os torneios com a chancela da Conmebol, como Libertadores e Sul-Americana, estão paralisados e sem previsão de retorno.
Na Europa, a situação é parecida. A União das Associações Europeias de Futebol (UEFA) se reuniria ontem com os secretários-gerais de 55 federações para discutir o destino da Liga dos Campeões e do restante das competições que estão paralisadas. No final de semana passado, o presidente da entidade, Aleksander Ceferin, chegou a afirmar em entrevista ao jornal italiano La Repubblica que, se os jogos não recomeçassem até junho, provavelmente a temporada seria perdida e os torneios, encerrados.
As competições continentais entres seleções, como a Copa América e a Eurocopa, foram adiadas para o ano que vem em razão da pandemia de coronavírus. Até mesmo o novo Mundial de Clubes, cuja primeira edição estava prevista para 2021, terá de ser postergado, já que os clubes classificados serão definidos mais tarde do que se esperava.
Nas grandes ligas do futebol europeu, ainda há muita discussão se serão finalizadas com o líder como campeão, sem declarar ninguém vitorioso ou se as rodadas finais serão disputadas. Da mesma forma, nos países da América do Sul, as competições nacionais estão suspensas e aguardando orientações das autoridades em saúde para retornarem.
— Aqui a ideia era voltar os jogos no dia 18 de abril, mas será complicado que as competições retornem neste dia — diz o jornalista Jorge Lozada, da rádio Viva 1290, da Colômbia, que acompanha o América de Cali, rival da Dupla na Libertadores.
No Chile, país da Universidad Católica, outro adversário de Grêmio e Inter na fase e grupos da Libertadores, as competições estão paradas por tempo indeterminado.
— Não há um prognóstico ainda de retorno dos jogos por aqui — conta Rodrigo Fuentealba, do jornal La Cuarta, de Santiago.