Comandante do penta, Luiz Felipe Scolari recordou, em entrevista à Rádio Gaúcha, na tarde deste domingo (12), a campanha que levou o Brasil ao penta da Copa do Mundo, em 2002. Felipão destacou momentos de dificuldade que a Seleção Brasileira passou na decisão contra a Alemanha, e apontou Rivaldo como o jogador mais importante da equipe no Mundial.
O treinador lembrou de situações dos bastidores, como da viagem até Yokohama, local da final contra a Alemanha, quando liberou cinco caixas de cerveja para os jogadores beberem durante o percurso de seis horas. O treinador citou o episódio para mostrar a boa relação que o elenco construiu com a comissão técnica. Confira a entrevista de Felipão:
Sobre a iniciativa da Globo de reprisar a final
"Quando soube, foi um momento de grande alegria e satisfação. Em virtude de tudo que estamos vivendo, não se pensava nisso há bastante tempo. Ver isso faz relembrar o período que passamos até aquela final, do comportamento das pessoas e do grupo todo em geral. Foi uma semana que gerou ansiedade para ver esse jogo novamente."
Percepção ao rever o jogo
"Quando alguns lances começaram a passar, eu olhei o jogo todo em casa e vi que algumas coisas haviam passado sem eu perceber, mas que foram importantes para a gente ser campeão. Eu não tinha imagem completa do primeiro tempo da Alemanha. A Alemanha foi bem melhor que nós no primeiro tempo, com lances que no momento eu nem tinha percebido. Aí pensei que poderíamos ter perdido aqui ou ali. Depois eu pensei 'ganhamos, fomos bem, mas poderíamos ter tido uma dificuldade maior'."
Ambiente de confiança na Seleção
"Alguns fatores foram importantes para toda a caminhada. Destaco as lideranças de Cafu e Roberto Carlos, a forma como ajudamos eles taticamente com três zagueiros. Liberamos os laterais para fazerem o que melhor sabiam, que era atacar. A forma como nos comportamos com solidez defensiva. Tudo isso nos deu antes da final a condição de pensarmos que seríamos campeões mesmo. Era um ambiente diferente do atual com a imprensa, era um ambiente mais tranquilo entre todos. Tudo isso contribuiu para que o ambiente ficasse mais calmo."
Era um grupo de amigos. Defendíamos as cores do nosso país. Fazíamos isso com naturalidade
FELIPÃO
Como era relação com a imprensa
"Todos nós éramos um grupo de amigos, uma família. Não era a família Scolari, como foi passado. Era um grupo de amigos. Defendíamos as cores do nosso país. Fazíamos isso com naturalidade. A imprensa também agia com naturalidade. Depois de 2002, nunca mais se conseguiu aquele ambiente. Mudou muito a relação da imprensa com jogadores e torcedores. Penso que ali terminou uma era."
Peso da ausência de Ballack na final
"A falta dele foi sentida pela Alemanha porque ele era um jogador decisivo. Ele tinha participações ofensivas que muitas vezes mudaram os jogos para a Alemanha. Sem ele, a Alemanha não teve um jogador com as mesmas característica. Isso nos ajudou bastante, digo que ficamos menos carregados. Ele seria um jogador que tendo duas ou três oportunidades poderia causar uma dificuldade maior."
A importância do Rivaldo no penta
"O Ronaldo foi o artilheiro e uma pessoa importante para o Mundial. Ele poderia ter sido escolhido o melhor da Copa, mas para o nosso posicionamento tático o Rivaldo foi o jogador mais importante. Ele sabia se colocar em campo em qualquer tipo de bola. Tinha papel até mesmo na marcação das bolas paradas. Contra a Inglaterra, quando perdemos o Ronaldinho, o Rivaldo falou que não eu precisava fazer alterações porque ele marcaria e chegaria no ataque. Ele disse que jogaria por ele e pelo Ronaldinho. O Rivaldo, para mim, foi o jogador mais importante do Mundial."
Como está vivendo o período de isolamento
"Estou em Xangrí-lá. Aqui é bom porque tenho espaço grande no condomínio para caminhar todos os dias. Faço uma série de exercícios e estou me mantendo (ativo). Converso com o (Carlos) Pracidelli e o Paulo Turra (seus auxiliares) três vezes por semana sobre treinos, jogos e jogadas. Discutimos posicionamentos, uma série de detalhes. Quando voltarmos, queremos fazer treinos melhores, ter posicionamentos melhores e vencer com melhores condições de trabalho."
Sequência da carreira de técnico
"Não sei onde iremos trabalhar, mas vamos trabalhar. Eu recebi três ou quatro situações de equipes do Oriente Médio. Conversei. Devido a esse problema da pandemia, estou um pouco fora de contato com esse pessoal. Lá no Oriente Médio, eles estão já treinando e pensando no começo do trabalho. Pode ser que dentro de 20 ou 30 dias eu tenha alguma coisa para fora do Brasil. A pandemia nos assusta um pouco, mas em determinados lugares temos confiança."
Relação que mantém com os jogadores do penta
"O último que tive contato foi ontem (sábado, 11), o Luizão. Conversamos um pouco. Ele está na casa dele. Conversei hoje com o Paulo Paixão, com quem sempre mantenho contato. Tive bons momentos com o Cafu durante o Mundial da Rússia, falei com o Marcos na semana passada. Sempre converso com eles quando dá. Conversamos, relembramos alguns episódios que eu sabia e até que não sabia, de coisas que eles aprontavam escondidos. Um exemplo foi um dia que entrei no quarto do Luizão e do Vampeta e tinha uma garrafa de vinho. Não falei nada, mas depois eles vieram falar comigo sobre."
Viagem para Yokohoma
"Eles queriam duas caixas de cerveja. Eu disse 'duas não, eu libero cinco'. Eles beberam durante a viagem, que foi de ônibus. Não era esse o planejamento inicial."
Escolha do esquema com três zagueiros
"Nossa ideia inicial era jogar com uma linha de quatro atrás. Notamos que Cafu e Roberto Carlos eram muito bons no ataque, mas tinham dificuldade na defesa. Então, busquei dar uma garantia a eles. Tinha o Lúcio com qualidade para sair de trás, o Edmilson, que jogava como volante, e o Roque Jr. com um sentido de cobertura que quase nenhum zagueiro tinha. O Gilberto Silva entrou e deu uma situação de marcação muito boa. Ele não aparecia muito para o jogo, mas estava ali roubando bola e fazendo cobertura."
Ouça a entrevista com Felipão na íntegra: