A Copa que ocorreu de madrugada para os brasileiros obrigou os torcedores a darem um jeito — por vezes, bem inusitado — para acompanhar a Seleção, que saiu da Ásia com o penta em 2002. GaúchaZH selecionou histórias que foram conduzidas pelos comandados de Felipão e embalados por Ronaldinho, Ronaldo, Rivaldo e cia. Confira:
Casa decorada antes de dormir
Quem era criança na Copa de 2002 carrega muitas lembranças ligadas ao fato de estar acordado em um horário que normalmente os mais novos estão dormindo. E é o caso de Renata Dias, que tinha oito anos naquele Mundial. Ela e os irmãos se uniam antes de dormir para enfeitar a casa com bandeirinhas verde e amarelo.
— Na noite antes dos jogos do Brasil, a gente decorava a casa inteira com bandeirinhas e até cornetas que faziam barulho mesmo. Todos íamos dormir mais cedo para acordar pelas 4h da manhã para assistir à partida. Éramos cinco irmãos e dois primos comendo pipoca e tomando refrigerante em plena madrugada. Era algo muito especial. Assim fizemos a Copa inteira — conta a técnica em administração.
A junção tinha como responsável a irmã mais velha de Renata, Rita, então com 24 anos. Isso porque a mãe delas estava internada havia mais de um mês. A manhã de 30 de junho, então, teve comemoração dupla: além do penta, a dona Leni recebeu alta:
— Fizemos ainda mais barulho com cornetas e panelas a cada gol que o Ronaldo marcou. O final da partida foi emocionante: nós em casa e minha mãe lá no hospital acompanhando. No fim, comemoramos todos juntos.
Amor do Penta
Aos 18 anos, Renata Dias Gomes comemorou a chegada da Copa. Com os horários dos jogos marcados para a madrugada, ela poderia unir duas paixões: forró e futebol. Na época, o ritmo característico do Nordeste era uma febre no Rio de Janeiro, cidade onde a roteirista vive desde que nasceu.
De segunda a segunda, as festas tinham um roteiro estabelecido. Começavam com forró e terminavam com a transmissão dos jogos. Renata batia ponto nos eventos até que, em um deles, se apaixonou por um par de dança. O beijo, no entanto, só saiu na madrugada de sábado para domingo do dia 30 de junho, horas antes de Brasil e Alemanha se enfrentarem.
— Eu já estava apaixonada desde a primeira vez que o vi passando e queria ir assistir ao jogo junto, mas tivemos que nos separar em virtude dos grupos diferentes de amigos — recorda.
A sorte foi que, logo depois que Cafu ergueu a taça e gritou que amava a Regina, Renata e Felipe se encontraram em um forró na manhã de domingo. E, desde então, não se soltaram mais.
— Todo ano comemoramos aniversário junto com o penta. Nada podia ser mais a minha cara — afirmou a roteirista.
Churrasco às 7h
Domingo é dia de futebol e de churrasco, certo? Corretíssimo. A carne no fogo depois das partidas realizadas às 11h ou antes das que são disputadas às 16h faz parte da rotina dos gaúchos. Mas e quando os confrontos são de madrugada? Djovana Peres de Souza, na época com cinco anos, lembra de ter acordado várias vezes com o cheiro da carne assada às 7h durante a Copa de 2002.
— É uma das primeiras lembranças relacionadas a futebol que eu tenho. Acho que me criar nesse clima é um dos vários motivos que fazem eu ser alucinada por futebol desde criança — conta a jornalista de 23 anos.
Acompanhada do pai, que era jogador de várzea, e dos irmãos mais velhos, Djovana viveu o penta com gosto de churrasco:
— Não era nem 10h e a gente já estava com o costelão na mão. No título, teve passeata na nossa cidade, Cruz Alta. Acho que entramos em uns seis ou sete no Passat "estilizado" do meu pai. Não cabiam todos. Eu e mais uma criança fomos em do carro, através do teto solar, com bandeira do Brasil e tudo mais.
Lembro muito do ano de 2002, pois foi o ano que a minha mãe ficou internada exatamente a copa do mundo inteira (30 dias) inclusive saiu no dia da final do hospital.
"O penta me curou"
Em março de 2002, Rogério Larrossa, vendedor, hoje com 41 anos, foi diagnosticado com hepatite B. A previsão era que em um mês tudo voltasse ao normal. O quadro da doença, porém, foi piorando com o passar do tempo.
— Eu não conseguia dormir, passava a noite em claro. Quando começou a Copa, passei a ter companhia nas noites. Vi todos os jogos. Minhas noites ficaram mais alegres. Começava vendo o primeiro jogo, que era às 3h30min, o segundo começava às 6h, e o último, às 8h30min. Nas primeiras semanas, eram partidas todos os dias. Paralelamente a isso, a doença começou a retroceder. Fui melhorando, ficando mais disposto — relembrou.
Na final, Rogério recorda que sua namorada — agora esposa — foi até sua casa e todos assistiram à vitória brasileira de pijama. A alegria foi tanta que, após o título, o gaúcho ligou o carro para participar da carreata, algo que não fazia havia mais de três meses pela doença.