Reserva na equipe 4x100m livre do Brasil no Mundial de Esportes Aquáticos, André Calvelo, de 18 anos, estreará no torneio internacional neste sábado (20). Com o titular da seleção da natação suspenso por doping, o natural de Santos ganhará uma chance na equipe.
— Essa chance caiu do céu. Sabemos que foi uma vaga adquirida por uma coisa que não queríamos que acontecesse com nenhum atleta do Brasil, mas essa porta se abriu pra ele e eu tenho certeza que ele vai agarrar — afirma Márcio Latuf, supervisor técnico da natação da Universidade Santa Cecília (Unisanta) e integrante da comissão técnica da seleção no Mundial.
A primeira competição oficial de Calvelo como atleta da seleção principal foi nos Jogos Sul-Americanos de 2018, realizados em Cochabamba, na Bolívia, de onde voltou com três medalhas: ouro no revezamento 4x200m livre, prata no revezamento 4x100m livre e bronze nos 50m livre. Antes disso, em competições de base, levou a prata no revezamento 4x100 m livre nos Jogos Olímpicos da Juventude em 2018.
— Ele é um atleta que, no começo, não gostava muito de treinar. Mas começou a aparecer a partir do juvenil, que foi quando começou a tomar gosto pela natação — conta Latuf, que treinou Calvelo na Unisanta.
Em março deste ano, Calvelo foi incorporado ao exército brasileiro por meio do Programa de Atletas de Alto Rendimento (PAAR) por seu desempenho na modalidade dos 100m livre — sua especialidade, juntamente dos 50m livre. Cumpriu um estágio de 15 dias com atividades similares aos demais oficiais e recebeu a patente de 3º sargento.
— Eu voltei outra pessoa do exército. Ajudou muito. Meus pais me viram como um cara mais responsável, mais sério — diz Calvelo.
Evangélico, ele diz ser muito regrado:
— Meus pais me ensinaram o caminho que devo andar. Então sou muito regrado: dificilmente saio, não bebo e nunca bebi, não faço zoação... isso me ajuda a ser focado. São poucos os atletas que têm essa conduta de não sair, de não beber, não zoar. Acredito que se todos fossem menos baladeiros, o esporte (e a natação) poderia ser muito melhor. Tem que ser mais humilde em relação aos mais novos, ter um comportamento exemplar fora das piscinas.
Fora das piscinas, Calvelo é conectado a seu tempo. Tem um canal no Youtube chamado Calvelo Crazy. É seguido por pouco mais de 1,2 mil pessoas e soma cerca de 38 mil visualizações entre os 55 vídeos que tem na plataforma.
— Isso (o canal) começou antes dos Jogos Escolares da Juventude. Um amigo me viu nadando, pegou o celular e gravou. "Demorou", eu falei, "vai gravando aí, vamos jogar no YouTube". Ele começou a me gravar, eu também me gravava e aí o pessoal gostou. Achei que iam me zoar, mas foi o contrário, pediram mais — conta.
Entre as publicações, há vídeos de partidas do jogo de videogame Rainbow Six Siege, memes e vídeos de viagens e da rotina de nadador. Ele também é bastante ativo no Instagram, através do qual registra seu dia a dia.
— Não consigo postar muito, ainda não me adaptei. Mas com o canal eu alcanço uma galera que meu Instagram não alcança. Faço isso mais pelos outros, não por mim — revela.
Alguns espectadores lhe escrevem dizendo que Calvelo os motiva. Mas ele também recebe críticas.
— No começo, pessoal falava que eu não era humilde, que tava querendo me mostrar. Não é isso. Mas não incomoda — afirma. Estudante de educação física, ele pensa em ser treinador no futuro. E não necessariamente na natação:
— Daqui dois anos, vou estar formado e penso até em trabalhar com futebol, que eu gosto muito.
Antes de começar a competir, Calvelo passou por diversos esportes, assim como seu irmão, que hoje é zagueiro das categorias de base do Santos.