Até chegar ao Barcelona, a trajetória de Arthur, 22 anos, teve dois anos intensos, onde ele experimentou diversas sensações: fazer o primeiro gol como profissional, virar titular do Grêmio, ganhar a Libertadores sendo o melhor em campo na final, ter sido chamado para a Seleção Brasileira e se transformar na maior venda da história do futebol gaúcho.
O volante viveu tudo isso entre 2017 e 2018. Só que antes, a carreira teve muitos desafios. Natural de Goiânia, chegou ao clube em 2010, e no início da sua trajetória morou até no alojamento do Estádio Olímpico. Depois de cinco anos na base, a oportunidade finalmente apareceu e ele foi relacionado por Luiz Felipe Scolari para a pré-temporada de 2015.
A estreia nos profissionais foi em fevereiro daquele ano, na derrota por 2 a 1 para o Aimoré, no Estádio Cristo Rei. Após aquela partida, Arthur voltou para o grupo de transição e só recebeu nova chance em dezembro de 2016, pelas mãos de Renato, na última rodada do Brasileirão.
O cartão de visitas veio em 2017, com boa atuação diante do América-MG pela Primeira Liga, e contra o Guaraní-PAR, pela Libertadores. A partir daí, teve ascensão rápida. Marcou o primeiro gol, em maio, contra o Fluminense, pelo Brasileiro, e ainda no final de 2017 foi chamado por Tite para a Seleção Brasileira. O ano terminou com uma atuação mágica no primeiro tempo na final da Libertadores, contra o Lanús. Lesionado, viu do banco o time ser Tri da América.
Em 2018, se recuperou da lesão, continuou brilhando e em março foi vendido para o Barcelona, com a promessa de ser entregue apenas em dezembro. Só que o clube espanhol insistiu, pagou mais e em julho anunciou a sua apresentação imediata, pagando 31 milhões de euros, além da possibilidade de mais 9 milhões de euros, se as cláusulas de produtividade forem atingidas.
A vida em Barcelona
Arthur desembarcou no Aeroporto El Prat, em Barcelona, no dia 11 de julho. Já no saguão, postou um vídeo nas suas redes sociais agradecendo a recepção. O deslocamento até o hotel foi feito em um carro de um dos patrocinadores do clube, e no veículo já concedeu a primeira entrevista. Esta é uma tradição com os jogadores que estão chegando. O material é produzido pela jornalista Patricia Domínguez, do canal de televisão do Barcelona. A curiosidade é que ela morou no Brasil em 2013 e 2014, fazendo a cobertura da Copa no Brasil, e portanto fala muito bem português.
Na entrevista, disponível no canal do clube no YouTube (veja acima), Arthur falou sobre as coisas que gosta de fazer fora dos campos, a relação de carinho com os pais, o gosto pela música sertaneja e até arriscou cantar uma das músicas de Felipe Araújo. No dia seguinte, a apresentação no Camp Nou foi um show à parte. Obviamente não teve a mesma sofisticação da chegada de grandes estrelas do futebol europeu, mas foi um evento com organização perfeita.
De terno e gravata, se sentou ao lado do presidente do clube, Josep Maria Bartomeu, para assinar o contrato até 2024, com multa rescisória de 400 milhões de euros. Depois da assinatura, transmitida ao vivo pelos canais do Barcelona, Arthur se levantou, posou para fotos com o presidente e autografou duas camisas oficiais do cube. Após a cerimônia, caminhou pelas tribunas do estádio ao lado dos dirigentes. A etapa seguinte foi no gramado. Com vários fotógrafos acompanhando tudo de perto, fez as tradicionais embaixadinhas. Para fechar, a entrevista coletiva, onde esteve acompanhado do vice-presidente de Esportes, Jordi Mestre, e do ex-jogador e hoje Secretário Técnico, Éric Abidal.
Os primeiros dias foram no luxuoso Hotel Sofia, onde os atletas recém-contratados são hospedados. Na semana inicial de treinos, Arthur não teve a companhia das estrelas do clube, que ainda estavam no período de férias após a Copa do Mundo da Rússia. A convivência com dois brasileiros ajudou bastante. Marlon, que logo depois foi vendido para o Sassuolo (Itália), e Douglas, repassado ao Sivasspor (Turquia), ajudaram bastante. O volante mal teve tempo de se acostumar a nova cidade e já viajou para a pré-temporada nos EUA. No primeiro momento, usou a camisa 4 que já foi de Guardiola e que hoje é de Rakitic. Com direito a golaço no amistoso contra o Tottenham na estreia, foi ganhando espaço.
Na volta à Espanha, recebeu uma grande notícia: a confirmação de que usaria a camisa 8 de Iniesta, um dos maiores ídolos da história do clube. Também recebeu de presente um carro da Audi, patrocinadora do Barcelona, para os seus deslocamentos pela cidade. A cada ano, a montadora vai lhe entregar um veículo novo e o modelo depende da estratégia de marketing da empresa automobilística. Apesar de emocionado com tudo que acontece na sua vida em tão pouco tempo, Arthur consegue manter a frieza. O primeiro contato com nomes como Messi e Suárez foi natural. O ex-jogador do Grêmio deixou as estrelas tomarem a iniciativa.
Quando isso ocorreu, as conversas não pararam mais, e ele já está totalmente ambientado. De Messi, inclusive recebeu conselhos sobre a parte tática e a histórica maneira do clube jogar. Em Barcelona, os treinamentos no verão ocorrem no final da tarde, às 18h. Agora no inverno europeu, os trabalhos estão começando às 11h. Por volta de 13h30min, o volante já está em casa descansando.
Por lá, a relação com a imprensa é um pouco diferente. O assessor de imprensa de Arthur, Fernando Martínez, revela como funciona:
Cada vez chegam mais pedidos de entrevistas (para Arthur). Chegam solicitações do mundo inteiro, do Japão, do Oriente Médio
FERNANDO MARTÍNEZ
Assessor de imprensa de Arthur
— Cada vez chegam mais pedidos de entrevistas. Estive em Barcelona e tratamos sobre o caminho de trabalho a seguir, pois o Barcelona tem as suas regras. Se atende um jornal, tem que atender outro. Para a imprensa de Madri, não tem atendimento porque tem muita polêmica. Mas chegam solicitações do mundo inteiro, do Japão, do Oriente Médio. Algumas coisas são diferentes, porque não existe cobertura de treino. Desde que o Guardiola foi treinador lá, todos os treinos são fechados, sem presença de imprensa. Só abre durante 15 minutos na véspera do jogo, com entrevista do treinador e um jogador. É mais comum dar entrevista na zona mista depois das partidas.