Nicolas Palma já vestiu a camisa da seleção do Chile. No Sul-Americano Sub-17 de 2011, no Equador, ele usava o número 18. No torneio, o veloz e promissor atacante entrou no segundo tempo do jogo contra o Brasil, que tinha os jogadores da dupla Gre-Nal Rodrigo Dourado, Cláudio Winck, Andrigo e Misael. A partida foi apitada por Néstor Pitana, o árbitro que comandaria a final da Copa do Mundo, na Rússia.
Logo depois, Nicolas desfilou no histórico gramado do Estádio Nacional, em Santiago, estreando pela equipe profissional da Universidad de Chile. Fora lançado pelo técnico Jorge Sampaoli, em um jogo contra o Alianza Lima, do Peru. Naquele dia, vestiu a camisa de seu time do coração ao lado de, entre outros, Aránguiz e Vargas. Mas, diferentemente do que aconteceu com os dois colegas, não conseguiu transferência para clubes ricos ao redor do mundo.
Nicolas, hoje, veste a camisa do Barra. Quase ninguém ouviu falar, mas o clube, embora treine em Canoas e jogue em São Leopoldo (no Estádio Cristo Rei), tem sede em Porto Alegre. O chileno é um dos atacantes do time que briga por uma vaga às fases finais da Copa Wianey Carlet.
Por mais estranho que pareça, a chegada de Nicolas ao pequeno clube da Capital é uma tentativa de volta por cima. O Barra é um trampolim para quem já esteve no fundo do poço.
A relação do chileno com o futebol vem da infância. Incentivado pela família, conseguiu uma vaga na escolinha da Universidad Católica, tradicional time de Santiago, aos nove anos. Veloz e artilheiro, começou a empilhar gols e encantou os dirigentes, que bancavam sua escola e a alimentação. Em 2009, veio a primeira convocação para a seleção sub-15. Ainda que ele já tivesse uma vida praticamente de profissional, seu coração de torcedor pertencia à Universidad de Chile. Por isso, quando recebeu o convite para a transferência ao rival, não pensou duas vezes. Em 2010, passou a atuar no time que amava. E o começo foi em grande estilo. Em 2011, com 17 anos, foi convocado para o Sul-Americano, no Equador. O Chile caiu ainda na primeira fase, mas a experiência foi marcante. A ponto de, em outubro de 2011, Sampaoli, então técnico de "La U", promover a estreia do garoto na equipe principal.
— Foi um momento lindo. Quando vi a relação dos relacionados no vestiário, quase não acreditei. Falei com meu pai, com minha família. Ter a oportunidade de jogar com atletas de alto nível, no meu clube, foi algo lindo. Jamais vou esquecer — lembra o jogador.
Mas as chances foram diminuindo. Para não ficar parado, transferiu-se, em 2013, para o pequeno Santiago Morning. Sem fazer muito sucesso, só foi conseguir uma oferta da Venezuela por meio de um amigo. Vestiu a camisa do Angostura, de Ciudad Bolívar. Ficou por lá oito meses. Recebeu salário só nos dois primeiros.
— Cheguei a passar fome. Não tinha dinheiro e nem comida. No supermercado, não havia nada para comer. Todo mundo precisa de comida, mas o atleta, para ter um mínimo de rendimento, necessita de alimentação adequada. Era impossível encontrar carne ou frango. Todo mundo pensa que a profissão de jogador de futebol tem glamour, que temos os melhores carros e as melhores roupas. Só que nem sempre é assim.
O chileno decidiu deixar o país. Só que não foi tão simples. Para conseguir escapar, pegou um ônibus para começar uma viagem que duraria oito dias. No caminho, em Lima, no Peru, pediu a ajuda de familiares para pegar um voo até Santiago.
Apesar de traumática, a experiência venezuelana não foi o ponto final na carreira. De volta para casa, colocou na cabeça que não desistiria. Começou a treinar sete dias por semana com um preparador físico em uma academia. Veio do Brasil o convite para retomar a carreira. Amigos de seu pai, que tem contato com dirigentes do Barra, fizeram a oferta para ele atuar no Rio Grande do Sul. Aos 24 anos, mora na casa de amigos da família na capital gaúcha. Na Copa Wianey Carlet, tem um objetivo bem definido:
— Quero mostrar o meu futebol para chamar a atenção de outro clube. Conseguir uma transferência para outra equipe do Brasil seria lindo. Adoro Porto Alegre, estou muito feliz. Meu grande sonho é vencer aqui e votar a ser convocado para a seleção do Chile.