Às 8h, Jonathan Menin veste uma camiseta azul clara surrada, com manchas de poeira logo abaixo da inscrição W Menin. O W é de Wilson, seu pai, que caminha carregando tijolos, pedras e pedaços de madeira, junto a Jonathan e outros três homens. O sol já está alto e faz calor. O silêncio do cemitério só é quebrado pelo barulho das ferramentas usadas por eles para construir as capelas.
A fartura de pedras da região possibilita ao local ter um aspecto bem particular. É tradição local erguer monumentos, como se fossem mini-igrejas. Em um deles, Jonathan sepultou a própria mãe, Ilva, que não resistiu a um câncer fulminante em 2015, episódio que o fez repensar a vida e começar a trabalhar com Wilson.
Porque até então, Jonathan era um estudante que jogava bola. Lateral-esquerdo, nunca lhe faltou time para disputar os campeonatos amadores de Soledade. Tinha seus domingos quase sempre ocupados com torneios, e, durante a semana, jogava com os amigos. O esporte era um passatempo principalmente para as horas difíceis.
Quando a mãe morreu, ele pensava já ter feito todas as peneiras e testes possíveis. Andou por Porto Alegre, tentou a sorte nos clubes grandes. Mas parecia sempre faltar algo. A perda de Ilva foi suficiente para que procurasse o pai e comunicasse sua decisão: queria se juntar à empresa da família.
Quando ganhar a vida jogando bola se tornava um sonho cada vez mais distante, o Soledade resolveu investir no futebol profissional. E o lateral-esquerdo, que agora com 25 anos, aceitou o convite de se juntar à equipe do município. Fez um sacrifício, a pedido do técnico Luiz Eduardo — aquele ex-zagueiro do Grêmio na década de 1990: abandonou o time amador pelo qual ainda jogava para dedicar-se inteiramente à carreira profissional. No que diz respeito ao futebol, claro — porque a atividade na W Menin prossegue.
— Para não maltratar muito e nem inviabilizar as coisas, tomamos duas decisões aqui. Uma foi marcar os treinos para o turno da tarde, porque pela manhã costuma ser úmido e frio em Soledade. A outra foi deixar que os meninos trabalhem em outras coisas, muitos aqui ganham uma ajuda de custo. Só não podem jogar na várzea — informa Luiz Eduardo.
Jonathan seguiu erguendo monumentos no cemitério. Acorda cedo e vai para lá empilhar tijolos, carregar pedras e cortar madeira. Ao meio-dia, encerrado o primeiro expediente, volta para casa, almoça e repousa. À tarde, a rotina é no Estádio Aldo Gonçalves Porto.
No vestiário, participa da resenha com os companheiros. No campo, ouve as instruções de preparadores e técnico e treina como se fosse jogo. Acaba a atividade exausto. À noite, ainda divide com a mulher a responsabilidade pela criação da filha Manuela, de três anos. A rotina não é exaustiva, segundo ele:
— Estou realizando um sonho. Jogar futebol profissional é meu objetivo de toda a vida. Gosto muito do que faço, abri mão de tudo e acho que vale a pena. Deus vai me honrar no final.