A Copa Wianey Carlet dá chance a quem sempre quis jogar e nunca conseguiu e, também, aos que querem retomar a carreira. O Real Sport Club, agremiação do Litoral Norte que tem apenas um ano como profissional, abriga ambos esses tipos de caso.
Quem acompanha o dia a dia do Inter talvez lembre de Daniel Baloy, outro jogador que busca um recomeço nos campos nada glamourosos do torneiro gaúcho do segundo semestre. Depois de atuar nas categorias de base coloradas e inclusive jogar o Mundial sub-17 pela Seleção Brasileira, começou a receber oportunidades no time então treinado por Tite que acabaria vice-campeão da Copa do Brasil de 2009. Ainda no Inter, Daniel Baloy seguiu tendo chances com Mário Sérgio, inclusive jogando um Gre-Nal do Brasileirão daquele ano. Em 2010, com Jorge Fossati, voltou a ser chamado. Com Celso Roth também. Era reserva de Nei na equipe campeã da Libertadores naquele ano. Mas tudo acabou em 2011.
Baloy perdeu espaço e foi emprestado para o Avaí-SC, terminando assim sua trajetória no Inter. Chegou a jogar no Atlético-PR. Mas as oportunidades foram rareando. Meteu-se em um clube da Dinamarca. Quando retornou ao Brasil, só arrumou barcas em clubes do interior, entre o Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. Aos 28 anos, parecia ver uma carreira outrora promissora se aproximar do fim. Estava sem clube quando recebeu contato de seu ex-colega de defesa Ronaldo Conceição.
Os dois nasceram e foram criados em Capão da Canoa e balneários adjacentes. Cresceram naqueles torneios do Litoral Norte, recebendo por jogo, enfrentando veteranos e esperando serem vistos por algum olheiro. Depois de jogarem no Inter, quis o destino que ambos se reencontrassem em casa, na beira da praia.
— Nunca tivemos um time aqui, então esse projeto é ótimo. Pude voltar à minha cidade, e aqui me preparo, readquiro ritmo. Sou jovem ainda, tenho totais condições de retomar a carreira. Quero fazer um bom papel, disputar um Estadual no primeiro semestre e jogar novamente na elite do futebol nacional — projeta Baloy.
Ronaldo Conceição reluta em admitir que sonha voltar aos grandes palcos. No Inter, só fez uma partida. Em sua estreia, contra o Cruzeiro-MG, sofreu grave lesão no tendão e nunca mais vestiu a camisa colorada. Quando finalmente retomou a carreira, foi para Recife, jogar no Náutico-PE. E, por essas reviravoltas, achou a continuidade na carreira no Uruguai. Andou no Tanque Sisley e no River Plate-URU — quando fez parte da equipe que se classificou para a Libertadores de 2016. Depois de enfrentar o Atlético-MG na competição continental, arrumou uma oportunidade no Galo. Mas logo retornaria ao país vizinho _ para defender o Peñarol. Quando Ronaldo Conceição conta a sua carreira, antes do treino realizado na sede campestre da Sociedade Amigos de Capão da Canoa, seus olhos brilham. Aos 31 anos, garante não pensar mais tanto assim no que o futuro lhe reserva. Mas deixa escapar:
— Agora meu projeto é outro, estou começando a ver o que fazer depois de parar. Quero seguir no futebol. É claro que, se surgir uma oportunidade maior, vou falar com a família, rever.
Ronaldo ainda sonha. Adriano Chuva já acordou. Aos 40 anos, o centroavante teve uma carreira sólida. Foi ídolo no Juventude, rodou por Grêmio, Palmeiras, Atlético-MG e até o futebol da Coreia do Sul. Estava parado, atuando no ramo de imóveis, quando lhe perguntaram: "Quer voltar a fazer uns golzinhos?".
A saudade do jogo era grande. O peso, também. Foi preciso que Adriano Chuva fizesse uma pré-temporada, com treinos especiais, idas à academia, corridas e reforço muscular. Mas quem conhece a área não esquece o que aprendeu. E ele é o goleador do Real gaúcho, com quatro gols.
— Tem sido uma diversão, sentir esse friozinho na barriga. E a sensação de correr atrás da bola, fazer gol e ganhar sendo de um time pequeno contra um grande é a melhor possível.