Quem faz futebol feminino com sucesso no país? A reportagem de Zero Hora e Rádio Gaúcha buscou dois modelos. Um, o Santos, clube grande como a dupla Gre-Nal, gigante entre os homens, mas que também está criando tradição com as mulheres.
As Sereias da Vila, mais do que um apelido, tornaram-se um caso de marketing a ser copiado pelo país. O outro exemplo vem do Amazonas, o Iranduba, de uma cidade de pouco mais de 40 mil pessoas, e que foi abraçado pelo público da capital Manaus.
Iranduba
O maior público da história do futebol feminino no Brasil é o do Iranduba. O nome é desconhecido para muita gente, mas este clube do Amazonas é um fenômeno na modalidade. Foram 25.371 torcedores na Arena da Amazônia na semifinal do Campeonato Brasileiro deste ano contra o Santos. Nem Flamengo e Corinthians conseguem isso no futebol feminino. O sucesso é tão grande que o time passou a mandar os seus jogos no estádio da Copa.
Aqui, dá para se viver sim do futebol. Temos salário, moradia, alimentação e muitas de nós ainda ganhamos bolsa da faculdade.
Karen Bender
Zagueira do Iranduba
Iranduba é uma pequena cidade de 42 mil habitantes na região metropolitana de Manaus, mas a equipe foi adotada pelo povo amazonense.
– Aqui, dá para se viver sim do futebol. Temos salário, moradia, alimentação e muitas de nós ainda ganhamos apoio para estudar. A torcida comparece e joga com a gente – afirma a zagueira Káren Bender, nascida em Passo Fundo.
A fundação foi em 2011, e os grandes resultados começaram em 2015, quando o gaúcho Lauro Tentardini foi contratado como diretor de futebol para comandar o trabalho operacional.
– Elas têm convênio médico, alojamento com cozinheira para cuidar da alimentação, transporte do clube para o treino e bolsa de faculdade.
O treinamento é diário, e as jogadoras ganham até R$ 4 mil.
– A receita vem com a renda dos jogos, nossa torcida é fantástica. Fizemos os cinco maiores públicos do Campeonato Brasileiro e também vendemos muitas camisas – afirma Tentardini.
A falta de estrutura do futebol masculino é apontada como um dos fatores do sucesso do feminino, segundo o diretor.
– O povo de Manaus é carente esportivamente falando e adotou o Iranduba – explica Tentardini.
Santos
– Ninguém avisou que não daria certo. Aí nós fomos lá e fizemos.
Com esta frase, o presidente do Santos, Modesto Roma Júnior, explica a iniciativa bem-sucedida do clube de apostar no futebol feminino. Atual campeão brasileiro da categoria e finalista do Paulistão, o time feminino santista é 100% profissional, sendo considerado um case de sucesso pelas atletas do país.
Para o dirigente, os grandes clubes brasileiros devem apostar a longo prazo para desenvolver o futebol feminino, sem esperar resultados imediatos.
Ninguém avisou que não daria certo. Aí nós fomos lá e fizemos
Modesto Roma Júnior
Presidente do Santos
– É uma modalidade que tem de crescer primeiro para dar frutos depois. Primeiro tem de se criar uma dinâmica para o futebol feminino. São frutos que se colhem dentro de um trabalho. O futebol feminino do Santos começou em 1999. Não é algo que começou ontem. E perseverou. Agora, o futebol está começando a dar frutos. Estamos na final do Campeonato Paulista. Na final do Brasileirão (vitória sobre o Corinthians), tivemos a Vila Belmiro lotada – resume Roma.
A folha das atletas do Santos é de R$ 100 mil mensais, com teto salarial de R$ 5 mil. Do valor, no entanto, apenas 30% são custeados pelas receitas de bilheteria e de patrocínios arrecadados pelo departamento de futebol feminino.
Os outros 70% são custeados pelo clube.
– Eu acho que o nosso público está se acostumando com o futebol feminino.
A gente precisa dar o apoio e fazer um futebol bem feito. Se começar a fazer times que são sacos de pancada, para tomar de 20 ou 30, aí você não cria. Mas quando você tem times equilibrados e partidas de qualidade, aí o público começa a se envolver com isso. E o futebol feminino é um futebol bonito – observa o presidente santista.