Desde o Caso Aranha, o debate sobre racismo no futebol gaúcho discute tudo, menos o que significa esta mazela social terrível em um país abençoadamente miscigenado como o nosso. A situação das vítimas não tem a menor importância. Merece algumas palavras entre vírgulas, só para constar. Às vezes nem isso. Gremistas sacralizam o Grêmio e demonizam o Inter. Colorados sacralizam o Inter e demonizam o Grêmio. Tudo é levado para um ou outro lado, inclusive por gente letrada.
Espraiam-se teorias conspiratórias, mesmo que elas não resistam a 15 segundos de reflexão. É uma chatice avassaladora. Os gremistas - não todos, é claro - querem empatar o Gre-Nal do racismo, e não se deve esquecer que os colorados foram também pródigos ao incentivá-lo durante o rolo com Aranha, se colocando na condição de santos. Desde lá, gremistas procuram provas em formato de denúncia de que há racistas entre os colorados, caçando imagens nas transmissões de TV, para copiar as cenas que resultaram naquela confusão da Arena.
É uma asneira, porque não é preciso empatar ou provar nada. É claro que existem racistas colorados. Por que não haveria racistas colorados, se a praga do racismo está em todo o lugar? De qualquer modo, cada um gasta o seu precioso tempo como bem entende. Eu, por exemplo, prefiro ler um livro, ver um filme, tomar chimarrão no parque ou andar de bicicleta com o meu filho. Quando era solteiro, me divertia no Dr. Jekyll. Enfim: as pessoas têm suas predileções e estímulos, e devem ser respeitadas.
Por isso vejo um lado bom neste vídeo com um torcedor do Inter chamando Fabrício de macaco ou ca*** (conforme o acusado, que nega tudo). Quem sabe estamos perto do fim desta xaropice do Gre-Nal do racismo, abrindo caminho para um debate sério?
O TJD terá de investigar. Os envolvidos já estão oferecendo suas versões através da imprensa, que oferece ampla cobertura. Em caso de comprovação do que está dito no vídeo publicado pela Revista Placar, o Inter terá de sofrer punição. Não importa se é um a praticar a injúria racial, e não mais de um, como no Caso Aranha.
Fabrício exagerou nos gestos obscenos condenáveis que mereceriam tarja preta, mas não denunciou racismo - ao contrário do goleiro do Santos. Isso talvez interfira no tamanho da pena e até na repercussão, mas em nada reduz a necessidade da sanção.
O que não dá é para colorados, que antes defendiam severas penas ao Grêmio, agora adotarem o discurso de que é injusto penalizar o clube. É o tal Gre-Nal do absurdo, no qual argumentos e posições variam apenas conforme a conveniência da camiseta.
Houve um tempo em que atiravam chinelos, pilhas e radinhos para dentro do campo. Bastou os clubes serem regularmente punidos com perda do mando de campo para a farra terminar. Hoje, quando muito, voa um inofensivo copo plástico. A punição desportiva é educativa. As pessoas aprenderam: se lançarem objetos prejudicarão o seu time.
Tem de acontecer o mesmo com as injúrias raciais. No Grêmio, no Inter ou no Arranca Toco. Vou dar uma de Velhinha de Taubaté e acreditar que, ao final deste novo episódio, os dois lados colocarão a bola ao centro e jogarão o verdadeiro jogo, que é o do esforço para eliminar esta chaga dos estádios. Só tenho uma dúvida: será que a turma da grenalização quer isso mesmo? É tanta incoerência que fico sem saber. Oremos.
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