De todas as pessoas envolvidas diretamente no Gre-Nal 443, um dos mais experientes estará em alguma cabine do Beira-Rio, possivelmente esbravejando, reclamando, torcendo. E não será surpresa se aparecer na boca do túnel, quase entrando em campo, como já fez outras 40 vezes na vida. Mesmo não sendo gaúcho, são os poucos que entendem mais dessa rivalidade do que Andrés Nicolás D'Alessandro.
Desde 13 de agosto de 2008, quando vestiu a camisa colorada pela primeira vez, o argentino foi apresentado ao clássico. Sua estreia foi justamente contra o Grêmio, empate em 1 a 1 pela Copa Sul-Americana. Na volta, a nova igualdade, 2 a 2, serviu ao Inter, que terminaria campeão daquela competição. Naquele mesmo ano, ele faria seu primeiro gol em clássicos, abrindo o 4 a 1 do Brasileirão, no Beira-Rio, acertando um chute de fora da área.
Dali por diante, foram 14 anos vivendo a rivalidade. D'Alessandro teve tanta identificação com o Inter que, por vezes, mais pareceu um torcedor em campo do que alguém que veio de fora, contratado quando tinha 27 anos. Foram mais de uma dezena e meia de títulos, mas quando alguém lembra da história do Cabezón no Inter automaticamente o associa ao Gre-Nal. Pudera: foram 40 jogos, 16 vitórias, nove gols, sete assistências, 50% de aproveitamento.
Agora, viverá o clássico pela primeira vez sem ser com a camisa 10 (ou a 15, que usou no primeiro ano) ou como torcedor. A versão dirigente, com calça jeans e camisa polo, será posta à prova. E, segundo relatos internos, ela se parece com D'Alessandro dos tempos de capitão.
O argentino chega cedo no CT. Toma café por lá. Conversa com os funcionários. Recepciona os atletas. Acompanha o treino. Resolve problemas. Fica o resto do turno. Nesta semana, esse contato com os jogadores é especial.
No provável time que Roger Machado mandará a campo, Rogel, Bernabei, Gabriel Carvalho e Borré ainda não disputaram Gre-Nal (no caso de Gabriel, pela equipe principal). No banco ainda tem Aguirre, Nathan, Clayton, Bruno Tabata e Ricardo Mathias entre os possíveis estreantes. É D'Alessandro quem está "ensinando" a eles os atalhos, os perigos, as consequências e a glória do clássico. Uma das características do argentino é chamar os jogadores para um bate-papo individual, ora descontraído, ora mais sério.
A outra virtude exaltada da versão dirigente de D'Alessandro é a de olhar para os guris. Como em seus tempos de "pibe" no River Plate, observa, acompanha e orienta os meninos. E sugere e troca ideias com Roger Machado, outro profissional altamente interessado na base.
Porém, desde a reapresentação após o duelo com o Corinthians, o futuro ficou um pouco de lado. Mais do que ninguém, D'Alessandro sabe que qualquer assunto é relegado ao segundo plano quando o Gre-Nal é o próximo jogo. Até sábado (19), quem cruzar com o argentino pelos corredores do CT Parque Gigante ou do Beira-Rio já sabe qual assunto vai ser puxado quando for chamado para conversar.