Só não dá para dizer que a temporada do Inter acabou em julho porque ainda há muito em jogo no Brasileirão. A eliminação na Copa Sul-Americana 10 dias depois da queda na Copa do Brasil praticamente inviabilizou o fim da seca de títulos já que, no campeonato nacional, está 21 pontos atrás do líder Botafogo (mesmo que tenha cinco jogos a menos).
No retrovisor, a zona de rebaixamento está bem mais próxima. É uma frustração compatível com o investimento e com a esperança que havia para 2024, claro com a influência da enchente. E que gera ainda mais interrogação para o futuro.
Contra o Rosario Central, foi a oitava vez desde 2021 que o Inter caiu em casa em algum mata-mata. O time já havia sido eliminado no Gauchão e na Copa do Brasil pelo Juventude. Todas tendo o Beira-Rio como cenário (na competição nacional, perdeu em casa e só empatou fora).
Possíveis mudanças internas
Algumas atitudes práticas devem ser tomadas nos próximos dias. Grupos políticos pressionam o presidente Alessandro Barcellos para trocar o comando do futebol, tirando o vice Felipe Becker e o gerente esportivo Magrão. A janela de transferências também deve trazer novidades, tanto de entradas quanto de saídas. É público o interesse em Bustos e Vitão, e há especulações sobre Alario e Wanderson. Por outro lado, a direção deve ir atrás de pontas, zagueiro e um lateral-esquerdo. Além disso, é preciso fazer uma autocrítica. Esse combo de frustrações levanta, antes de tudo, um questionamento.
De quem é a culpa?
Para Vini Moura, que assina a coluna Paixão Colorada no Diário Gaúcho e em ZH digital, é preciso dividir a responsabilidade em todos os setores:
— Quando falamos em responsáveis colocamos na conta de jogadores, direção e qualquer outro que tenha relação com o que o time precisa dentro de campo. Alguns têm responsabilidade pelo todo, outros pelo recorte atual.
Vaguinha, outro comunicador colorado do Grupo RBS, entende que nos gabinetes está o maior problema. Uma série de decisões culminou com o time ter ido decidir a vaga na Copa do Brasil e abrir o playoff da Sul-Americana sob comando interino do técnico Pablo Fernandez, do sub-20.
— Antes do jogo houve muita cobrança pra cima dos jogadores. Eles não deram resposta e o Inter não conseguiu reverter o resultado da ida, restando a eliminação na repescagem da Copa Sul-Americana. Mas se a crise está instaurada no Beira-Rio não é só por falta de empenho ou de bola dos jogadores. A direção é a grande responsável por duas eliminações em 10 dias — aponta.
Erro de planejamento
Dois comentaristas que acompanharam a eliminação para o Rosario Central, Mario Marra e Mauro Beting citam o peso da enchente no desempenho do futebol gaúcho como um todo. Mas veem outras falhas. Para Mario Marra, o Inter errou no planejamento da Copa Sul-Americana. Mais até do que na demissão de Coudet:
— Não deveria nem ter enfrentado o Rosario Central. O time tinha de ter ficado em primeiro na chave. O Corinthians passou por crises graves e passou direto. Roger não pode carregar a culpa, não teve tempo para treinar, e nem terá, por causa dos jogos atrasados. O elenco é bom, não é ótimo, mas o suficiente pra fazer melhor. Não pode ter 80% de posse de bola e não levar perigo. Há soluções dentro do grupo, como o próprio Roger falou. Vamos ver como vai ser desenvolvido o trabalho.
Mauro Beting completa:
— Vale para todo o povo do RS, esse ano vai ter um asterisco pela tristeza da tragédia. É compreensível. Incompreensível é com tamanho investimento e tanta camisa, o Inter perder, desde 2021, oito mata-matas em casa. A troca de comando interfere, Roger está recém no segundo jogo. Tem gente muito importante jogando menos, os desfalques fizeram falta, a fase do Alario não é boa, mas Roger demorou a colocá-lo, ele é o jogador que mais finaliza na Sul-Americana. A fase técnica do time é ruim, a anímica, pior. Todos precisam entender a chacoalhada.
O comentarista lembra que talvez não dê mais tempo de recuperar a campanha que se iniciou promissora no Brasileirão, com vitórias sobre Bahia e Palmeiras. Mas será preciso dar a volta por cima para dar andamento digno na competição, sair o mais rápido possível da parte inferior da tabela e, quando possível, buscar vaga em alguma competição internacional. De certa forma, uma melancolia para um time que prometeu tanto entre janeiro e março.