Um pequeno Gigante completa meio século de história neste sábado. Há exatos 50 anos, era inaugurado o até então "maior ginásio particular do Brasil". O Gigantinho, patrimônio do Inter e de Porto Alegre, atinge a marca celebrando mais a memória do que o futuro.
É que se trata de um local com muitas memórias, mesmo. Sua inauguração, em 4 de novembro de 1973, foi protocolar. Uma ceia com autoridades e convidados teve como atração especial a cantora Elizeth Cardoso, o maior nome da época. No dia seguinte, começaram os jogos.
A primeira partida disputada no ginásio foi um amistoso entre Inter e Sporting, de Montevidéu, de futsal. Vitória colorada, 4 a 1, três gols de Gauer e um de Marquinho. Depois, a seleção brasileira enfrentou a paraguaia e também venceu por 4 a 1 (Cacá, três vezes, e Vevé fizeram para o Brasil).
O Festival de Inauguração, que se estendeu até 21 de novembro, teve ainda um torneio de basquete envolvendo Inter, Corinthians, Palmeiras, Vasco e Flamengo (sim, todos tinham equipes em variadas modalidades), e outro de futebol de salão com Palmeiras, America-RJ, Peñarol, Atlético-MG e Sumov-CE. Também ocorreram shows de Elza Soares, Wilson Simonal, Bateria da Mangueira, Clara Nunes, Tony Tornado, Simone e o programa de TV Vila Sésamo.
Essa quantidade de atrações dava o peso que a cidade ganhava com o ginásio para 15 mil pessoas ao lado do Beira-Rio. Há meio século, a ideia dos dirigentes era rentabilizar um espaço e fomentar os esportes amadores. Disse, em entrevista a ZH, o então vice-presidente de Administração do Inter, Humberto Rímoli:
— O Gigantinho deve ser autossuficiente e se manter nas condições pré-estabelecidas no complexo empresarial montado no Beira-Rio.
A ideia do clube era criar um ambiente que servisse não só ao Inter mas também à comunidade, com foco no associado. Os atletas teriam os melhores alojamentos à disposição na época, e todos os esportes seriam contemplados. Havia a certeza de que as modalidades se desenvolveriam com a construção do ginásio.
O futsal foi o maior beneficiado. O Inter conquistou oito títulos estaduais, é o segundo maior vitorioso. Todos vieram após a inauguração do Gigantinho. Por falar em troféus, o ginásio foi sede, diante de grandes públicos, das duas maiores vitórias da modalidade colorada. Foi lá que o Inter venceu o Vasco, de Caxias do Sul, e levantou o caneco da primeira edição da Liga Nacional, em 1996, no recorde de público de uma partida de futsal até então (14.616 no total). No ano seguinte, outra multidão apoiou a equipe para ser campeã mundial ao ganhar do Barcelona por 4 a 2.
O Gigantinho teve mais do que o Inter. Entre os eventos esportivos, o ginásio abrigou uma partida de exibição de Guga Kuerten contra o chileno Marcelo Ríos. Também foi palco dos Globetrotters e do UFC.
Além dos esportes, recebeu shows históricos como Oasis, Bob Dylan, Eric Clapton, e virou casa porto-alegrense do Rei Roberto Carlos. Também tornou-se um lugar clássico para as assembleias do CPERS/Sindicado e dos antigos Simulados de vestibular promovidos por Zero Hora. E, mais recentemente, abrigou moradores em situação de rua em noites gélidas na Capital. Em 1980, recebeu seu visitante mais ilustre: o Papa João Paulo II participou de uma reunião com 10 mil relogiosos no ginásio colorado.
O passado glorioso, porém, contrasta com um presente inoperante e uma falta de perspectiva para o futuro. O Inter não tem outras modalidades que usem o ginásio, atualmente. A última utilização foi para apresentar Enner Valencia. Apesar de ter sido plataforma de campanha em todas as eleições, nada tem sido feito. Para o próximo pleito, há promessas dos candidatos. O ginásio chegou a ser negociado com uma promotora de shows para um contrato de 20 anos, em uma proposta apresentada em 2020. O processo foi rejeitado pelo Conselho Deliberativo.
Propostas dos candidatos a presidente do Inter
Em nota a GZH, a chapa de Roberto Melo afirmou: "Iremos, com toda a certeza, desenvolver junto com o Conselho Deliberativo o melhor projeto, com o melhor modelo, para esse que é um dos símbolos de pujança e integração social do Complexo Beira-Rio. Claro, sem deixarmos de privilegiar o interesse do nosso associado e torcedor, respeitando ainda toda a operação desenvolvida no Complexo Beira-Rio, principalmente em dias de jogos, além de termos atenção para as atividades que são desenvolvidas no Ginásio hoje".
A chapa de Alessandro Barcellos disse: "Acreditamos que o patrimônio do Inter deve ser preservado e disponibilizado dentro do nosso complexo como mais uma forma de receber e acolher a torcida colorada. O Gigantinho faz parte da história do clube e promove a cultura de Porto Alegre. Ainda, no passado protagonizou disputas históricas em outras modalidades esportivas. Por isso, a nossa proposta é buscar uma solução definitiva para a revitalização do Gigantinho, com uma nova chamada de investidores para o projeto. Ainda, faz parte do plano envolver a torcida, promovendo benefícios para os sócios e as sócias, e uma fonte de renda sustentável para o ginásio e o clube".