A nova passagem de Eduardo Coudet pelo Inter tem sido marcada pela flexibilidade na formação da equipe e também de adaptações a diferentes cenários. Essa versão do treinador argentino tem aparecido, principalmente na Libertadores, e tornou-se determinante para a campanha que levou o Colorado a uma semifinal continental depois de oito anos.
Mudanças de sistema, de funções de alguns jogadores de acordo com o adversário e atletas atuando em posições diferentes. Dessa forma, Chacho Coudet tem moldado o Inter jogo a jogo para chegar em pouco mais de 40 dias de trabalho como um dos quatro melhores times da América e manter vivo o sonho do tri da Libertadores.
Alan Patrick como atacante
Logo que Chacho foi anunciado começou um debate sobre como o argentino usaria Alan Patrick, principal individualidade colorada em uma temporada de baixo rendimento coletivo. Isso porque o camisa 10 não tem uma característica de encaixe simples no sistema tático ideal do argentino. Adepto do 4-1-3-2, Coudet tem por preferência usar dois atacantes de ofício na frente e cobrar que seus quatro meio-campistas exerçam um forte papel defensivo, o que foge do estilo de jogo do atual capitão colorado.
Pois Coudet entrou em uma variação entre as fases defensiva e ofensiva de forma a manter Alan Patrick como protagonista. Sem a bola, o camisa 10 se posiciona como um atacante ao lado de Enner Valencia, mas tem liberdade para descer e armar o jogo quando o Inter ataca. Essa movimentação permite que Alan Patrick não precise marcar como os meio-campistas quando o Inter defende.
— Às vezes não parece, mas eu corro. Os números mostram isso A ideia de jogo é muito clara. Como ele fala, temos de sofrer e trabalhar. É isso que acredito também. Não existe vitória sem sofrimento ou trabalho — declarou o meia após a classificação para semifinal da Libertadores.
Esses números citados por Alan Patrick dizem respeito aos sprints de alta intensidade, quando o atleta atinge mais de 25km/h correndo. O camisa 10 chega a fazer 26 sprints por jogo, mais que o dobro do que alcançava em 2022. Ele também tem feito uma maior quilometragem nos jogos, passando de 12 km percorridos em algumas partidas, segundo dados do departamento de performance do clube.
Renê na saída de três
Não há torcedor colorado que esqueça das discussões em torno do nome de Damián Musto durante a passagem de Coudet pelo Inter em 2020. O argentino trazido como homem de confiança do treinador atuava como o primeiro homem do meio-campo e tinha a função de recuar entre os zagueiros no movimento que liberava o avanço simultâneo dos laterais. Essa ideia de ter um volante fazendo essa função na saída de bola é uma das marcas dos trabalhos de Eduardo Coudet, mas já na passagem pelo Atlético-MG havia mostrado variações. No Galo, o lateral-direito Mariano foi utilizado como terceiro homem na saída de bola, permitindo que o primeiro volante — Battaglia ou Otávio — ficasse à frente deles.
Pois no Inter, Coudet vem adotando nas últimas partidas movimentos semelhantes com Renê. Sem ter o vigor físico de Bustos para ser presença constante no ataque pela direita, o camisa 6 vem sendo utilizado desde a partida de volta contra o River Plate como o terceiro homem na saída de bola com os zagueiros, o que permite a Johnny partir de um local mais adiantado do campo. Para compensar a ausência de um lateral apoiando, Wanderson exerce o papel de dar amplitude pela esquerda quando o Inter ataca.
— Eu fiquei mais na saída da bola, uma coisa que já fazia com o Mano Menezes. Nós também exploramos aquele lado, porque tínhamos ali o Wanderson, que é um cara muito rápido. Suportamos bem a pressão. Já tínhamos estudado bem o River, até pelo primeiro jogo e deu tudo certo — explicou Renê sobre a ideia tática de Coudet usada contra o River Plate, no Beira-Rio, que foi repetida diante do Bolívar, na última terça-feira (29).
Três zagueiros na altitude
Ainda que o 4-1-3-2 venha sendo o sistema tático preferencial, Eduardo Coudet mostrou em La Paz estar aberto a mudanças. Diante de um adversário que aposta em forte jogo aéreo e ataca com muitos homens no setor ofensivo na altitude, o Inter teve uma formação com três zagueiros na ida das quartas de final da Libertadores. O meia Mauricio foi sacado para a entrada de Nico Hernández, que formou com Bustos, Vitão, Mercado e Renê uma linha de cinco defensores.
— Estamos preparados para cada jogo. A estratégia depende sempre do rival, e buscamos neutralizar as virtudes em cada rodada e em cada jogo. Eles gostam de atuar no um contra um, aproveitando a última linha da defesa e o movimento da bola. A verdade é que treinamos pouco essa formação. O importante é ser inteligente, e temos um grupo inteligente — disse o treinador ao explicar sua estratégia na altitude.
Jogadores em novas funções
Há também neste Inter de Coudet a utilização de jogadores em diferentes funções das naturais. A começar por Jonnny, meia de origem e que vinha atuando na maior parte do tempo da era Mano Menezes como um volante de chegada ao ataque. Ele agora é primeiro homem do meio-campo, função que exerceu com Chacho em 2020. Diante do Bolívar, o lateral Hugo Mallo atuou como zagueiro sendo o substituto de Vitão. Até mesmo Wanderson tem hoje uma função diferente ao atuar compondo o meio-campo pelo lado esquerdo.
O analista tático do Footure Gabriel Corrêa avalia que essa versão mais flexível de Coudet tem relação com a variedade de opções que o atual elenco colorado oferece.
— O Coudet sempre foi flexível, mostrou isso no Rosario Central, no Celta e até mesmo no Atlético-MG. Acontece que na primeira passagem pelo Inter o elenco tinha alguns jogadores bem específicos. Ele não podia usar Moisés e Saravia como laterais construtores porque eram caras de fundo. Também não tinha pontas, como Wanderson e Pedro Henrique. Ele tinha jogadores de meio-campo, como Edenilson, Patrick e Boschilia. Não vejo um novo Coudet, mas as peças que possibilitam isso. No Celta, mesmo o Hugo Mallo foi usado como um lateral ficando mais, como é o Renê hoje. Penso que as adaptações dizem mais respeito a essas opções do elenco — avalia Corrêa.