A missão de achar um gaúcho em qualquer parte do planeta teve êxito mais uma vez. O personagem do momento é Francisco da Costa, ou simplesmente Chico, atacante do Bolívar, rival do Inter nas quartas de final da Libertadores.
Nascido em Taquari e com passagem pelas categorias de base de Novo Hamburgo e Athletico-PR, Chico não foi visto por Grêmio e Inter. Em um caso raro, é um brasileiro que construiu sua carreira por times menores do continente até alcançar o status de artilheiro do Bolívar.
Antes de ser indicado pelo técnico Antônio Carlos Zago, ex-Inter, e assinar com o Bolívar por quatro temporadas, Chico rodou bastante. Inter de Lages-SC, Tombense e um retorno ao Estado, para atuar no São José-Poa, foram alguns dos destinos nacionais. Venados, Atlante e Querétaro, no México, e Sol de América, no Paraguai, foram carimbos internacionais em seu passaporte.
Em 2022, o Bolívar foi campeão boliviano com Chico participando de 35 gols em 40 jogos do ano — ele balançou as redes 24 vezes e também deu 11 assistências. Números que lhe deram a oportunidade de um empréstimo ao Atlético Nacional, da Colômbia. Porém, com poucas chances por lá, retornou ao time celeste para a sequência da Libertadores.
Em um bate-papo na Rádio Gaúcha, o gaúcho Chico, de 28 anos, compartilhou sua trajetória no cenário continental e não hesitou em enaltecer a filosofia de jogo do Bolívar, enfatizando que o sucesso vai além das condições de altitude.
Quando começou tua carreira?
Tive meu começo Novo Hamburgo, quando tinha 16 anos, no juvenil. No ano seguinte, eu já estava na sub-20 com 17 anos. E no segundo semestre, subi para o profissional, com Itamar Schulle na época. Daí, acabei indo para a sub-20 do do Athletico-PR, onde eu fiquei um ano e meio. Depois, tive um empréstimo no Inter de Lages e uma passagem curta pelo Tombense também. Foi quando assinei com o São José e joguei o Gauchão de 2016, com China Balbino. Daí, saí para o México, ainda muito jovem.
E depois de México e Paraguai, a chegada ao Bolívar é indicação do Antônio Carlos Zago?Tinha uma proposta na mesa do Cerro Porteño. Mas aí o Antônio me ligou para apresentar o interesse do Bolívar. Foi um período de muita dúvida, mas optei pelo Bolívar em razão do projeto esportivo. Não só do clube, como para mim também. Agora temos bom time, em uma campanha histórica na Libertadores.
Os times de La Paz são sempre lembrados pela altitude. O Bolívar se favorece disso?
É normal isso ser associado no Brasil, pois não se joga na montanha, é difícil dimensionar. Eu tive experiências no México, mas nada se compara ao que é La Paz, porque é realmente muito mais alto. A gente tem a consciência de que aqui podemos tirar proveito. E não é casualidade que tantos times bons tenham passado por aqui e tenham sofrido tanto. Mas, obviamente, não é um time só de altura. Os times bolivianos se caracterizaram por isso ultimamente, só que a gente tem um modelo de jogo e um plantel tão qualificado que deixou isso meio em xeque. O Bolívar não é somente a altitude. E a nossa campanha vem dizendo isso, não é?
Como foi tua adaptação ao país e ao estilo de jogo?
Demorada. Não foi fácil. O Bruno Sávio, que é outro brasileiro que está aqui, teve uma adaptação muito mais fácil que a minha. Vai vai de cada um. E agora, por mais que eu esteja adaptado, ainda sinto que não é a mesma coisa que no nível do mar. No Boliviano, os jogos são muito abertos, pois as transições defensivas são mais demoradas. Quem joga em casa, faz pressão intensa.
Em uma fase eliminatória, como as quartas de final da Libertadores, vocês concordam que jogar em casa poderá definir o rumo do time?
Assim esperamos, né. Também com total consciência que, se tivermos que brigar pela classificação fora de casa, provamos que conseguimos fazer isso. A gente entende a vantagem que pode construir aqui, mas não podemos entrar em campo preocupados em fazer dois, três ou quatro gols. Os times das quartas da Libertadores são os melhores da América.