Só se fala em altitude desde quando o Bolívar foi confirmado como o adversário do Inter nas quartas de final da Libertadores. E, obviamente, o assunto é predominante pois jogar futebol em cima da montanha apresenta muitas adversidades. Elas podem ser físicas, especialmente da capacidade respiratória dos jogadores, ou até na velocidade da bola, que impõe uma mudança de estilo de jogo.
O fato é que não há uma fórmula exata para encarar o Estádio Hernando Siles. Existem, porém, formas de organizar uma estratégia para competir e, especialmente, sobreviver na eliminatória continental.
Para o jogo da próxima terça-feira (22), em La Paz, o quebra-cabeça de Eduardo Coudet será jogado a 3,6 mil metros do nível do mar. Com a estratégia de pousar na capital boliviana apenas horas antes do confronto, o Inter tentará amenizar os prejuízos da altitude. Como tática, a proposta deve ser de reduzir a velocidade do jogo, com posse de bola controlada, compactação defensiva e transições rápidas.
Uma escalação com jogadores de maior resistência física, capazes de manter a posse e explorar contra-ataques, seria a fórmula ideal para maximizar o desempenho — mesmo que seja uma forma de jogar contrária ao que prefere o comandante argentino.
O Bolívar, que venceu todos seus confrontos desta Libertadores em casa, costuma pressionar seus visitantes desde os primeiros minutos em um 3-4-3, justamente para aproveitar o período inicial de adaptação. A prova é que nas vitórias diante de Palmeiras, Cerro Porteño e Athletico-PR, os Celestes terminaram o primeiro tempo com o resultado encaminhado, marcando gols entre cinco e 27 minutos da etapa inicial. A exceção foi diante do Barcelona, quando o artilheiro Ronnie Fernández fez o único gol do jogo aos 50 minutos do segundo tempo. Portanto, resistir aos minutos iniciais será fundamental.
— Com a experiência que tenho como jogador e treinador, sei da dificuldade que representa jogar lá. Existem formas de minimizar esse inconveniente, com a equipe mais próxima, tentando não fazer esforços necessários, priorizando os esforços no nosso território para tentar ganhar espaço com o decorrer da partida, saindo do contra-ataque. Porém, não muito atrás, pois os chutes de longe são uma das principais armas dos times que jogam na altura, já que a bola ganha muita velocidade — aponta Jorge Polilla da Silva.
Polilla, ex-atacante da seleção do Uruguai e treinador, era o comandante do Defensor que venceu o Bolívar por 4 a 2 na Libertadores de 2019, em La Paz.
Experiência no Hernando Siles também tem Enner Valencia. Representando a seleção equatoriana, o atacante colorado deixou sua marca por lá em 2016, na 10ª rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo. Valencia, que na época tinha 26 anos, marcou os dois gols do Equador, que saiu atrás do placar, mas buscou o empate em 2 a 2 no segundo tempo.
— Joguei uma vez lá e fui bem, nunca perdi. Espero que desta vez seja igual, conseguindo um bom resultado — destacou Valencia, que deve ter presença confirmada no ataque do Inter.
Possibilidades de escalação
Os treinos fechados não deixaram pistas sobre como Coudet vai escalar o Inter para o jogo do próximo sábado (19), contra o Fortaleza, e muito menos para o duelo com o Bolívar. No entanto, diante das alternativas à disposição do treinador, há chance de o setor de meio-campo receber um reforço na marcação. Como aconteceu quando o argentino comandou o Colorado na fase preliminar da Libertadores de 2020.
Charles Aránguiz, protagonista da equipe nas últimas partidas, não tem apresentado resistência e é sempre um dos jogadores substituídos no segundo tempo. Principalmente porque cumpre uma função de pressionar os volantes adversários, característica principal o modelo de jogo de Chacho Coudet. Sendo assim, não seria uma surpresa a entrada de Gabriel como o volante mais defensivo e Johnny atuando mais adiantado. Aránguiz seria uma opção para cadenciar o jogo no segundo tempo.
Na linha defensiva, embora o Bolívar utilize linha de cinco, seria menos provável para Eduardo Coudet tentar repetir a ideia, como fez o Athletico-PR, que se deu mal nas oitavas de final. Portanto, a dúvida seria entre jogar com um lateral mais ofensivo, como Bustos, ou alguém que possa fechar melhor os espaços, como Igor Gomes. Por outro lado, a velocidade do argentino seria uma boa opção para os escapes.
Coudet tem se caracterizado por manter a estrutura inicial. O jogo de maior mudança foi diante do Corinthians, que ocorreu entre as partidas decisivas com o River. Sendo assim, Wanderson, o meia-atacante do lado esquerdo, terá função fundamental para garantir a recomposição pelo seu lado. O mesmo valerá para Mauricio, que exerce a mesma função do outro lado do campo. Alan Patrick, decisivo nas oitavas de final em lances de bola parada, pode não atuar o jogo todo, mas quem sabe estar presente no primeiro tempo, o momento chave da partida.