Na mesma semana em que o Inter viu frustrado o sonho de ganhar o bi da Copa Sul-Americana, com eliminação para o Melgar na quartas de final, um profissional que passou pelo Beira-Rio sem deixar saudades obteve classificação para a semifinal da Libertadores. Comandado por Alexander Medina, o Vélez Sarsfield é o intruso argentino entre os três brasileiros que ainda seguem na briga pela conquista da maior taça do continente.
De eliminado pelo Globo-RN na Copa do Brasil, em março, a demitido após um empate decepcionante com o Guaireña-PAR pela Sul-Americana, em abril, Alexander Medina foi anunciado como técnico do Vélez no final de maio. O uruguaio até tinha um acordo com o clube argentino antes, mas a oficialização foi postergada em razão da disputa das rodadas finais da fase de grupos da Libertadores.
Foi com o interino Julio Vaccari, um treinador da equipe de base, que o Fortín, um dos apelidos do Vélez, alcançou a improvável vaga nas oitavas de final. O clube somou apenas dois pontos nas primeiras quatro partidas e obteve a classificação vencendo Nacional e Estudiantes nas duas últimas rodadas ainda contando com resultados paralelos.
Foi com o interino Vaccari que jovens como o zagueiro Diego Valentín Gómez, de 19 anos, e os volantes Maximo Perrone, também 19, e Nicolás Garayalde, 23, se consolidaram como titulares. O trio é peça-chave do time de Medina que eliminou River Plate e Talleres nos mata-matas da Libertadores. O bom desempenho de Gómez, aliás, fez Diego Godín, que chegou como a grande estrela do elenco para o segundo semestre, ser reserva nos quatro compromissos do Vélez na Libertadores com Cacique.
Além das chegadas de Medina e Godín, o Vélez também contratou para o segundo semestre os atacantes Walter Bou e Jonathan Menéndez e o goleiro Burián. Desses, o único titular é Bou, que atua como parceiro do experiente centroavante Lucas Pratto.
Nas quartas de final, o Vélez ganhou ainda o brilho de um outro jovem, Julián Fernández, de 18 anos, responsável pelos gols que garantiram as vitórias sobre o Talleres. Outro nome de destaque no time é Lucas Janson, o artilheiro do Vélez na Libertadores, com sete gols em 10 partidas. Analista tático do Diário Olé, Vicente Muglia aponta as mudanças promovidas por Medina no Vélez.
— Cacique sofreu logo no início, mas conseguiu organizar o time. Ele monta a formação em um 4-2-3-1 que vira um 4-4-1-1 na fase defensiva com a volta dos extremas. A equipe ganhou em presença ofensiva (em relação ao Julio Vaccari) e agora também encontrou uma solidez defensiva com a dupla de volantes Perrone e Garayalde. Bou chegou e é o homem que atua por junto ao Pratto. O Vélez é uma equipe que se sacrifica em campo, muito comprometida em recuperar a bola — avalia.
As medidas adotadas por Medina têm sido eficientes nas copas. Além da classificação para a semifinal da Libertadores, o clube também segue vivo na disputa da Copa Argentina, onde enfrentará o Independiente nas oitavas de final. No Campeonato Argentino, porém, a campanha tem sido ruim. Ainda que tenha o desconto de ter usado times alternativos em algumas partidas pela prioridade ser a Libertadores, o clube venceu apenas uma vez em 12 rodadas, o que o deixa na penúltima posição em um torneio disputado por 28 equipes.
No momento, o bom desempenho na Libertadores — o Vélez não chegava a uma semifinal desde 2012 — tem gerado elogios que superam as críticas a Medina pela campanha ruim no Argentino.
— A felicidade que gera uma classificação para a semifinal da Libertadores tapa a má campanha na Liga, onde acumula oito jogos sem ganhar. Ainda que nas últimas rodadas tenha utilizado time reserva, houve partidas que os titulares jogaram e não renderam como na Libertadores. Ainda houve jogos que poderia ter vencido e acabou empatado, mas a verdade é que o foco todo está na Libertadores, onde parece outro Vélez em campo — afirma Leonardo Bruno, setorista de Vélez do Diário Olé.
Sobre a passagem de Cacique pelo Inter, o colunista de GZH Leonardo Oliveira avalia que o uruguaio teve pouco tempo para executar o que pretendia no Beira-Rio.
— Medina não teve tempo em Porto Alegre, algo essencial no futebol e quase inexistente no Brasil. Nem precisava ser muito tempo. Talvez um mês a mais bastaria para ele mostrar a que tinha vindo. Sua saída precedeu a chegada de quatro jogadores que, hoje, são titulares: Vitão, Renê, Alan Patrick e Wanderson. Além desse quarteto, veio também Pedro Henrique. Aliás, Wanderson e PH foram os extremas que o uruguaio pedia desde a chegada a Porto Alegre. Podemos incluir nesse pacote ainda De Pena e Alemão, dois reforços que estrearam na penúltima partida do técnico no comando do Inter. Ou seja, ele passou os quatro meses no Beira-Rio sem sete jogadores que, hoje, estão no primeiro escalão. Isso diz muito da sua passagem. Faltaram resultados, é verdade, porém faltou também à direção convicção para suportar os solavancos comuns de quem se propõe a ir contra a corrente — sustenta.
Além de Inter e Vélez, Alexander Medina trabalhou como técnico no Nacional-URU e no Talleres, por onde ficou por dois anos e meio. Curiosamente foi ele quem classificou o clube de Córdoba para a Libertadores deste ano, mas não comandou o time no torneio exatamente por ter acertado com o Inter. Demitido no Colorado e assumindo o Vélez, Medina eliminou o ex-clube nas quartas de final da competição continental na última quarta-feira.