A frase foi dita pelo comentarista Adroaldo Guerra Filho, o Guerrinha, durante o programa Sala de Redação:
— O ano do Inter acabou em agosto.
A queda na Copa Sul-Americana praticamente terminou com qualquer chance de título para o clube em 2022. A projeção atual aponta que, com o aproveitamento do líder Palmeiras após 21 rodadas, será preciso que o time de Mano Menezes some 48 dos 51 pontos ainda em disputa no Brasileirão para ser campeão. Para uma equipe que caiu na primeira fase da Copa do Brasil para um representante da Série D, não chegou à final do Gauchão sendo eliminado pelo Grêmio da Série B e não fez nem um gol sequer no Melgar-PER, seria um milagre. A missão (re)começa às 19h deste domingo, no confronto com o Fluminense no Beira-Rio.
A boa notícia é que o risco de rebaixamento quase inexiste (faltam sete pontos na matemática atual) e que as chances são reais de disputar alguma competição continental em 2023. Assim, é preciso que dirigentes e comissão técnica mantenham a atenção na atual temporada, é claro, mas também dá para projetar o ano que vem sem grandes sobressaltos.
Um dos itens é analisar o grupo de jogadores. Dos profissionais que estavam há mais tempo no Beira-Rio, quase uma dezena foi embora. Mas ainda há peças contestadas. As críticas recaem especialmente sobre Taison e Edenilson.
As razões convergem e divergem. Ambos dividem a braçadeira de capitão. E são dois dos atletas com mais partidas com a camisa colorada. As diferenças estão no histórico. Enquanto Edenilson ainda não foi campeão — e por isso recebe críticas —, Taison até tem um cartel de conquistas, mas ficou marcado por maus desempenhos em campo e, até de certa forma involuntariamente, pela greve dos atletas que não treinaram no turno combinado reclamando de atrasos em pagamentos.
Cada um deu sua versão sobre a eliminação. Edenilson disse:
— Assumo a responsabilidade, assim como sei que futebol é coletivo. Lógico que sou o que estou há mais tempo, me cobro bastante e sinto na pele essa cobrança pelas eliminações. Não sinto que abrevia minha passagem, sou um jogador como os outros, trabalho diariamente pelo meu espaço.
Taison completou:
— A torcida está sentindo falta de conquistar coisas grandes. Estou muito triste por tudo que vem acontecendo, pelas coisas que aconteceram comigo um tempo atrás. Não tive uma noite muito boa de sono porque meu filho nasceu ontem (quarta-feira). Mas eu não vou virar as costas pro Inter. Eu disse que ia voltar e voltei. Não vou deixar de ser colorado. Sabemos que a partir de agora vai ser difícil, porque eles vão cobrar mais ainda. Resta focar, trabalhar e aceitar tudo que vem de fora.
Com Taison e Edenilson incluídos ou não, o planejamento de 2023 envolverá menos dinheiro do que o orçado. O clube contava com os torneios de mata-mata para rechear os cofres. O Inter orçou receber R$ 11 milhões pelo desempenho na Copa do Brasil, só conseguiu R$ 1 milhão. Na Sul-Americana, a meta era alcançar R$ 14,4 milhões. A queda nas quartas de final permitiu arrecadar R$ 10,1 milhões.
A situação é tão abaixo que mesmo que faça o milagre de ser campeão brasileiro, não terá recuperado o dinheiro perdido nas copas. Essa verba precisará ser recompensada com mais vendas ou com receitas alternativas — o que não será fácil, dados os maus resultados.
Outra decisão que precisará ser tomada pelo presidente Alessandro Barcellos, cujo mandato se encerrará em 2023 (portanto a próxima temporada é a última chance de título de sua gestão), é a permanência de Mano Menezes. O técnico melhorou o time, inegavelmente, mas ao mesmo tempo sentiu a eliminação. Sua declaração de que "quando falta alguma coisa é porque ainda não estamos preparados para sermos campeões" foi criticada por Abel Braga, o comandante do título mundial colorado em 2006, convidado do programa Seleção, do SporTV:
— Me dou muito bem com o Mano, mas tem momentos em que temos de nos colocar do lado do torcedor. Entender a vaia, não a violência, isso sou contra. Não deve dizer que não está preparado para ser campeão. Pode não estar, mas não pode dizer.
Abel Braga, porém, deu o caminho para o Inter reagir ainda em 2022. E a declaração foi, ao mesmo tempo, um elogio a Mano:
— Precisa jogar como vinha jogando há três, quatro jogos. Basta isso.
Faltam 17 partidas para encerrar, de verdade, a temporada. Para que não tenha terminado em agosto, como parece, o Inter terá de procurar objetivos e motivações até novembro.
Matemática colorada
No Brasileirão, o Inter é sexto colocado com 33 pontos. Com base no aproveitamento atual dos outros times, veja o que ainda falta à equipe de Mano Menezes para cada objetivo no campeonato.
- Campeão: mais 48 pontos
- G-4: mais 34 pontos
- G-6: mais 27 pontos
- Sul-Americana: mais 13 pontos
- Escapar do rebaixamento: mais 7 pontos