O próximo adversário ajudou o Inter. Ao mesmo tempo, conseguiu dar uma aliviada na crise. A vitória do Botafogo segurou o São Paulo, que disputava ponto a ponto a terceira posição com o time de Mano Menezes. Os gaúchos terminarão, mesmo, a 12ª rodada atrás apenas de Palmeiras e Corinthians. Mas na 13ª terão pela frente uma equipe menos pressionada. O clube carioca, um dos precursores da "privatização" do futebol, viveu momentos de terror na semana, com invasão ao CT, ameaças e ocorrência policial.
Comprado em 3 de março pelo bilionário americano John Textor, o Botafogo tinha esperanças de que ser transformado em Sociedade Anônima do Futebol (SAF) mudaria a realidade de uma das mais tradicionais agremiações do país. A injeção imediata de R$ 150 milhões e a promessa de mais R$ 250 milhões em até 36 meses causou euforia na torcida. Chegaram jogadores como Lucas Piazon, ex-Chelsea, Patrick de Paula, ex-Palmeiras, os argentinos Saravia e Cuesta, ex-Inter, e até um finlandês, Niko Hämäläinen (que só jogou 17 minutos e já deixou o Rio de Janeiro). Para comandar o time, foi contratado o português Luis Castro, técnico pelo qual o time esperou um mês, até que finalizasse seu trabalho no Al Duhail, do Catar.
O começo foi empolgante. Na sexta rodada, o Botafogo era quarto lugar no Brasileirão, após vencer o Fortaleza por 3 a 1 no Estádio Nilton Santos. Neste jogo, emocionado, Textor foi ao gramado e comemorou com os torcedores. Às lágrimas, declarou:
— Dizem que a Premier League é a maior liga do mundo, mas na Premier não amam clube como amam aqui. Tenho de mostrar esse amor para o mundo.
Mas desde então, até a rodada de quinta-feira, o Botafogo não havia vencido mais ninguém. A sequência de partidas sem vitória derrubou a equipe para a parte de baixo da tabela. E então Textor viu "de perto" o outro lado da "paixão" do futebol brasileiro. Na manhã de quarta, cerca de 40 torcedores de uma organizada invadiram o CT, entraram na sala de fisioterapia, onde alguns atletas faziam recuperação e fizeram ameaças aos profissionais. Segundo a direção do clube, o segurança foi rendido (houve relatos de que ao menos dois torcedores estavam armados) e um boletim de ocorrência foi registrado na Delegacia de Polícia.
A vitória sobre o São Paulo trouxe um certo alívio. Na entrevista coletiva após o jogo, Luis Castro declarou, ao ser perguntado sobre a sensação de vencer e evitar mais problemas no projeto do Botafogo:
— O futebol está muito ligado ao resultado. Se perguntar: "O que é o projeto do Botafogo?". É o resultado. Não é a academia, não é a construção do CT, não é nada. É resultado. Sentimos o peso da forma como se olha o futebol no Brasil, e até no mundo. Por esse lado, estamos felizes, por ajudar o projeto.
Estou muito orgulhoso do nosso técnico, da nossa comissão e dos nossos jovens corajosos. Essa semana foi muito mais difícil do que deveria, mas ficamos fortes contra um grande adversário. Essa vitória é apenas de vocês, para ser compartilhada com os torcedores que entendem o que significa apoiar este time.
JOHN TEXTOR
Sócio majoritário do Botafogo
Mas também fez um alerta. Em sua visão, não houve qualquer ligação entre as ameaças e o resultado. Pelo contrário, houve trabalho extra para manter a concentração:
— Isso não nos motiva, não motiva ninguém.
Para além do constrangimento e do medo pelo qual passaram os atletas, o clube temeu também pela imagem. Textor prometeu um pacotão de reforços na janela que se abre em julho, mas as cenas da invasão podem assustar profissionais que estejam em lugares mais "confortáveis". Nesta semana, o clube havia anunciado a contratação do lateral-esquerdo Fernando Marçal, que estava no Wolverhampton.
— A nova gestão enfrenta o primeiro grande choque cultural. A tentativa de implementar um modelo empresarial, um projeto de longo prazo, se vê confrontado com vícios de um futebol que cedeu espaço a torcidas organizadas, tolera a agressividade e a permissividade dos estádios e submete os profissionais que atuam no jogo a níveis inaceitáveis não só de pressão, mas de abuso. O futebol cultiva o ódio, a raiva — afirmou o comentarista do Grupo Globo, Carlos Eduardo Mansur.
No domingo, o time carioca vem a Porto Alegre com ambiente bem mais distensionado, dentro do possível. A equipe estará desfalcada, os zagueiros Kanu e Cuesta levaram terceiro cartão amarelo. Mas a injeção de ânimo dos três pontos deve causar um efeito positivo para o compromisso no Beira-Rio.
A compra do Botafogo
- John Textor adquiriu 90% das ações do Botafogo
- Para isso, investirá até R$ 400 milhões em três anos
- R$ 50 milhões foram em um empréstimo para o clube
- Pagou R$ 100 milhões à vista
- Até março de 2023, injetará R$ 100 milhões
- Até março de 2024, deverá colocar mais R$ 100 milhões
- Os últimos R$ 50 milhões serão depositados até março de 2025