Assim que Fábio Matias deixou o Inter, em julho, para assumir a categoria sub-20 do Flamengo, o Colorado optou por fazer algo inusitado no futebol: a equipe gaúcha escolheu uma dupla de treinadores para comandar o time nas disputas da Copa do Brasil sub-20 e do Brasileirão sub-20.
Um deles é Leonardo Martins, coordenador da preparação de goleiros da base e preparador de goleiros do sub-20. Ele e João Miguel, à época auxiliar técnico, passaram a ser os responsáveis pelos treinamentos e pelas escalações.
A aposta, apesar de incomum, fez com que o time sub-20 tivesse boas campanhas na temporada. Foi semifinalista da Copa do Brasil, eliminado pelo Coritiba, e a partir deste final de semana disputa a final do Brasileirão contra o São Paulo, depois de eliminar equipes como o Palmeiras e o Atlético-MG.
Antes do duelo contra os paulistas, Martins conversou com a reportagem de GZH sobre a experiência no ano e a decisão contra o Tricolor paulista. Confira:
Desde a saída do Fábio Matias, você e o João Miguel assumiram a equipe sub-20. Como tem sido essa experiência de treinar com mais uma pessoa, algo não muito comum no futebol?
Está sendo muito proveitoso e dando continuidade ao processo que já vínhamos fazendo. O treinador de goleiros do Inter é muito integrado à comissão técnica, funciona como um auxiliar técnico já. Sempre integramos o goleiro no processo, para tirar proveito da ideia do trabalho. Está sendo muito legal. Eu e o João temos pensamentos diferentes de futebol, mas que se completam. Ele foi zagueiro, e eu, goleiro. Sou uma pessoa que gosta muito do jogo ofensivo. Temos uma confiança muito grande, já tínhamos trabalhado juntos no Porto Alegre (clube da família Assis Moreira). A equipe ganhou uma cara. Talvez não tenha tanta manutenção de posse de bola, mas sabe o que fazer com a posse. Temos um ataque rápido, atacamos e defendemos com muita gente. É uma equipe muito equilibrada.
Como vocês avaliam a temporada do Inter em 2021? Chegaram a uma semifinal da Copa do Brasil sub-20 e agora tem uma final de Brasileirão, contra o São Paulo.
A maior vitória da categoria de base é ter número de atletas no profissional. O maior prêmio, independentemente de estar chegando nos torneios a nível nacional, é a quantidade de jogadores no elenco de cima. Na última rodada, cinco jogadores estiveram em Cuiabá. A questão de avaliar a temporada é assim, no número de jogadores da base que estão no profissional. Se conseguimos chegar às finais, acaba sendo mais proveitoso, porque tem mais jogos de nível, jogando em decisões. Isso só traz mais benefícios para os jogadores, até para os torcedores também os conhecerem.
O que significa chegar a essa final de Brasileirão sub-20? A equipe teve um começo instável, mas chega a final com 10 jogos de invencibilidade, tendo superado Palmeiras e Atlético-MG, equipes que classificaram em uma melhor posição na fase inicial.
Começamos a ter uma crescente. Conseguimos ter seis resultados positivos e nos classificar. Temos uma vantagem de estarmos em uma crescente técnica. Hoje, se for pegar, estamos há 10 jogos invictos no Brasileirão. Quanto mais tu começas a ter o gostinho da vitória, ver que as coisas estão dando certo, o próprio jogador começa a ter mais confiança. O nosso jogo que tentamos atacar em velocidade, colocar o adversário para o campo dele. Nossa equipe trabalha com muita coesão, temos uma preocupação muito grande em atacar, mas também em não ceder a pressão do adversário. Nessa reta final, só temos adversários em alto nível. Temos de nos tornarmos fortes em algum ponto em que dominamos. Conseguimos encontrar nos jogadores o melhor perfil para jogar em cada posição. Estamos muito motivados para essa final.
O que espera dessa final contra o São Paulo?
Conhecemos bem (o adversário). A escola é muito técnica, se adapta muito bem ao adversário, é um time dinâmico. Vejo muito do trabalho que foi feito antes do Alex, chegam e marcam com uma linha de cinco, defendem muito bem, mas têm um ataque muito dinâmico. Vejo um jogo em que o São Paulo, só pelo peso da camisa, já vai ser um grande espetáculo. Acredito que nos primeiros 15, 20 minutos, as equipes vão se estudar. O Inter, preocupando muito na transição, e o São Paulo, querendo muito a bola. Vai ser um jogo muito tenso, muito estudado e de duas equipes que gostam de ter a bola. Vai vencer o time que se aproveitar mais dos detalhes.
Alguns atletas da sub-20 frequentemente são chamados para a equipe profissional e podem estar em campo com o time de Diego Aguirre, no sábado, contra o Flamengo. Como vocês se preparam para estes eventuais desfalques?
Tivemos várias mudanças durante o torneio. Para nós, é importante que o nosso jogador esteja no profissional. Tivemos jogos em que atuamos com Cadorini, Cuesta ou Mello, ida e saída de jogadores. Nossa equipe alternou muito, mas soubemos jogar com plano A, plano B e plano C. O que mais fizemos esse ano foi trabalhar com os cenários em que os jogadores podem ou não estar. Todos os nossos jogadores estão em alto nível. A equipe não está sofrendo com as saídas. Claro que sentimos, mas estamos bem preparados para isso.