Para enfrentar o Bahia, às 16h de domingo (26), no Beira-Rio, o Inter terá dois guris nas laterais. Somados, Heitor e Paulo Victor têm 40 anos, 20 para cada um. Será a segunda vez que iniciam uma partida juntos, a outra foi contra o Juventude, também pelo Brasileirão, vitória por 1 a 0. Caberá a ambos a missão de defender sempre, atacar quando possível e manter a invencibilidade do time de Diego Aguirre, que já dura sete partidas. E seguir bem próximo da linha de classificados para a Libertadores do próximo ano.
Apesar da pouca idade, nenhum dos dois é novato. Heitor já tem 65 partidas pelo Inter. São dois anos integrando o grupo principal. Seu primeiro jogo no Beira-Rio, por exemplo, foi um Gre-Nal pelo Brasileirão, em 2019. Desde então, é responsável direto por nove gols, com duas bolas nas rede e sete passes decisivos.
Apesar da curta carreira e da pouca idade, o lateral já viveu momentos de altos e baixos. Seu início meteórico entre os profissionais, aos 18 anos, dava certeza de que seria um jogador para marcar época no Beira-Rio. Dono de personalidade forte, extrovertido e inteligente, destacou-se principalmente na fase ofensiva, com bons cruzamentos e coragem para arriscar a gol. Na parte defensiva, compensava com enorme dedicação nos combates.
Na segunda temporada, porém, perdeu espaço. Com Eduardo Coudet, o titular passou a ser Rodinei, que havia sido contratado por empréstimo do Flamengo. Depois dele, Saravia, que chegara do Porto, tomou a posição. Heitor voltou ao fim da fila. O período sem jogos atrapalhou ainda mais.
Em uma entrevista em outubro do ano passado, o treinador argentino revelou que o menino havia chegado cinco quilos acima do peso ideal. Passou por um período de retreinamento para adquirir a melhor condição física e só então recebeu oportunidades. Em forma, voltou a ser o ótimo cruzador de antes, tendo dado três assistências em partidas seguidas. Sofreu uma lesão muscular, perdeu lugar no time e, na última partida de Coudet, foi expulso contra o Coritiba. Com Abel Braga, foram apenas quatro partidas (só duas como titular).
O Inter não renovou o empréstimo de Rodinei e Saravia ainda se recuperava, então Heitor iniciou a temporada atual como titular. Mas a partir do retorno do argentino, passou a frequentar o banco com mais assiduidade.
Aguirre vem cada vez mais dando chances a Heitor. Nos últimos seis jogos, o garoto participou de cinco, um como titular. Contra o Sport, por exemplo, foi aproveitado como meia pela direita, na função de Edenilson.
GZH comparou Heitor e Saravia em 10 fundamentos, com base nos números do site Footstats. Os atributos analisados foram: cruzamentos, passes, finalizações, viradas de jogo, assistências, dribles, desarmes, perda de posse de bola, faltas cometidas e faltas sofridas. O brasileiro leva a melhor em sete itens contra três do argentino. Heitor é melhor em cruzamentos, passes, finalizações, viradas de jogo e assistências. Também comete menos faltas e é menos desarmado que o companheiro. Já Saravia leva vantagem em dribles, desarmes e faltas sofridas.
Heitor sabe que precisa se consolidar na posição. O contrato de empréstimo de Saravia termina no final do ano e o Inter não deve ter condições financeiras de renovar. Mercado ainda carece de melhor forma física. Maior promessa da base colorada, Vinícius Tobias foi vendido antes mesmo de estrear pelo profissional. A chance está dada. Para Heitor, basta repetir o que fez no último jogo, quando, atento, deu o passe de lateral que encontrou Yuri Alberto livre para dar o gol da vitória a Edenilson.
Do outro lado, Paulo Victor vive situação semelhante. Moisés tem contrato de empréstimo por encerrar e, para tê-lo em definitivo, o Inter precisaria pagar R$ 3 milhões ao Bahia. Dada a situação financeira do clube, trata-se de algo bastante improvável.
Até porque o Inter pagou o dobro disso para contratar Paulo Victor. Foram R$ 6 milhões que o Botafogo recebeu pelo garoto que se destacou no Estadual depois de já ter ido bem pelo Nova Iguaçu. Na época, o influencer Felipe Neto, torcedor ilustre do Botafogo, reclamou em seu Twitter: "A diretoria do Botafogo deve uma explicação sobre isso. Um dos maiores talentos produzidos pela base do Botafogo em vários anos, PV foi vendido ao Internacional a preço de BANANA e parcelado em 3 anos. Um absurdo, uma vergonha. Cadê o tal profissionalismo? O que é isso?".
— É uma jovem promessa brasileira, tem o perfil buscado pelo Inter. É mais um investimento e um atleta que vem pra somar em um elenco também jovem e com um potencial de crescimento gigantesco — disse o executivo colorado, Paulo Bracks.
Internamente, é considerado um jogador de muita qualidade, além de uma aposta para o futuro. Porém, o técnico Diego Aguirre entende que Moisés, 26 anos, possui as virtudes mais adequadas para o seu modelo de jogo.
Por mais que seja um pedido constante de torcedores nas redes sociais, há explicação para a permanência de Moisés entre os titulares. GZH também analisou 10 atributos dos dois jogadores no site Footsats, em uma média dos minutos em campo com os fundamentos. No Brasileirão, Moisés tem desempenho superior ao reserva em passe, finalizações, cruzamentos, lançamentos e assistências. Além disso, o atleta comete menos faltas e é menos desarmado. Já Paulo Victor supera o titular apenas em desarmes, dribles e faltas sofridas. Claro que há de se contextualizar: Moisés jogou o triplo de tempo, e entre as partidas de Paulo Victor (nove no total), as que foi titular foram contra Corinthians e Flamengo fora de casa mais Juventude e São Paulo no Beira-Rio.
— Ele trabalha muito bem na amplitude quanto na profundidade, mas também consegue associar, fazer jogadas pelo meio. Comigo, no Nova Iguaçu, chegou a ser ponta esquerda, porque tem facilidade para atacar. Considero completo nesse aspecto. Precisava evoluir na defesa, mas já noto evolução, como no jogo contra o Flamengo, em que ele foi excelente — aponta o técnico Sérgio Anglada, que treinou PV no Nova Iguaçu.
Contra um time da parte de baixo da tabela, o lateral pode mostrar aquilo que tem de melhor. A bola está com ele.