Dentre os tantos aspectos que circundam este Flamengo x Inter de domingo (21), o duelo tático é um dos mais comentados. Os dois times trocaram de treinador ao longo da competição, mudaram o jeito de jogar, passaram por adaptações e chegam a essa "final" na 37ª e penúltima rodada com sistemas consolidados.
No Inter, a mudança foi drástica e diante dos olhos de todos. O time de Eduardo Coudet até não era desenhado para isso. O plano original previa atacar em velocidade, sem que necessariamente segurasse a bola o tempo todo, mas se tornou um time de manutenção de posse, que fazia circular e tinha mais controle. Saía com três jogadores, baixando o volante para o meio dos zagueiros e adiantando os laterais. Na frente, dois centroavantes tinham a missão de dar presença na área para as jogadas ofensivas e pressionar zagueiros quando perdiam a bola.
Desde o início do segundo turno, porém, mudou de figura, quando Abel Braga conheceu melhor os jogadores e se recuperou da covid-19. O treinador moldou o esquema e o time que alcançaram nove vitórias seguidas no Brasileirão. O primeiro foi baixar as linhas. O Inter recuou e passou a marcar mais atrás, principalmente fora de casa, apostando numa estratégia de fechar espaços e contra-atacar em velocidade. Isso fez diminuir o percentual de posse de bola. O desenho mudou: o 4-1-3-2 deu lugar ao 4-1-4-1.
Na prática, as maiores diferenças foram o fim da saída de três, a abertura dos meias (Patrick pela esquerda e Caio Vidal na direita, outra novidade) e um centroavante posicionado. O outro atacante foi substituído por mais um meia, Praxedes. Nesse novo formato, o Inter ataca menos e fica menos com a bola (apenas contra o Sport, partida na qual perdeu, teve mais posse), é verdade. Em compensação, cria chances melhores, o que facilita o aproveitamento das conclusões e dificulta as finalizações dos adversários.
— O Inter gosta de convidar o adversário para o seu campo para ter profundidade suficiente para ligar o ataque numa bola longa. Cuesta é ótimo nisso. E na bola parada está outro mérito do Abel, e de outros técnicos dessa geração, que é o treinamento maciço de faltas ofensivas e defensivas. É uma arma — aponta o analista Vinícius Fernandes.
O Flamengo não passou por uma troca tão radical na transição de Domènec Torrent, o Dome, para Rogério Ceni. A mudança mais brusca é no imaginário recente, no qual Jorge Jesus fez o time ser campeão brasileiro, da Libertadores, do Carioca, da Recopa Sul-Americana e da Supercopa do Brasil em um intervalo de menos de um ano. É que o português, agora no Benfica, revolucionou o time e trouxe resultados. Sua equipe apresentava uma intensidade poucas vezes vista, com deslocamento livre dos atacantes.
— Além disso, ele sufocava os adversários com uma linha de defesa tão alta que era inédita no país. Foi a grande contribuição do Jesus para o futebol brasileiro — opina o analista Leonardo Miranda.
Entre os dois técnicos que trabalharam no Brasileirão, as diferenças são mais sutis, ao menos aos olhos dos torcedores. Houve alteração em sistemas e metodologia, mas alguns problemas se repetem, como a falta de consistência e o desperdício de oportunidades.
Em termos de atletas, Dome usava mais Pedro e preenchia o meio-campo com Willian Arão ou Thiago Maia (hoje lesionado), Gérson e Diego. Rogério Ceni recuou Arão para zagueiro, formou uma dupla com Gérson e Diego e colocou mais um atacante. Bruno Henrique voltou a ter liberdade de circulação, apesar de preferencialmente partir do lado esquerdo.
— O time oscila bastante, não consegue manter o padrão todo o tempo. Além disso, tem algumas defensivas — acrescenta Miranda.
O desafio do Inter será ter a jovem defesa para conter os velozes e letais atacantes flamenguistas. Ao mesmo tempo, manter a eficiência de seus atacantes para aproveitar quando a defesa rubro-negra falhar.
Rogério Ceni vs Abel Braga
- Jogos: 16 - 16
- Vitórias: 10 - 10
- Aproeveitamento %: 68,7 - 68,7
- Gols feitos: 32 - 28
- Gols sofridos: 16 - 15
- Grandes chances criadas: 62 - 38
- Conversão de chances: 29% - 55%
- Chutes para marcar gol: 6 - 5,3
- Chutes até sofrer gol: 6,7 - 8,8
Números no Brasileirão
Fonte: SofaScore