Embora a intenção da nova gestão que comandará o Inter seja profissionalizar o futebol, entregando as maiores responsabilidades nas mãos de um executivo, a pasta de vice-presidente de futebol tem peso. E o nome escolhido para ocupar este cargo político a partir de 2021 tem uma história que precede, inclusive, seu nascimento: João Patrício Hermann.
Membro do Conselho de Gestão nos últimos três anos, durante o mandato de Marcelo Medeiros, o dirigente de 51 anos foi escolhido pelo futuro mandatário colorado, Alessandro Barcellos, para ser os olhos da diretoria no vestiário do Beira-Rio.
Filho de presidente
João Patrício é filho de Eraldo Hermann, ex-dirigente colorado que fez parte da comissão de obras do Beira-Rio e que presidiu o clube entre 1974 e 1975. Portanto, trata-se do presidente que levou o Inter ao primeiro título brasileiro. Porém, o filho cresceu e foi construindo sua história dentro do clube pelas próprias pernas.
Em 1993, ao lado de Fernando Miranda, fundou um dos primeiros movimentos políticos do clube, o Inter 2000. A amizade entre os dois já havia iniciado anteriormente, quando Hermann foi o braço direito de Miranda na pasta de administração durante a gestão de José Azmuz, em 1990. Dez anos depois, com Jarbas Lima na presidência, acabaria ele próprio sendo o vice-presidente de administração.
Passagem pelo futebol
Esta, aliás, não será a primeira passagem de Hermann pelo departamento de futebol colorado. Em 2001, após a renúncia de Jarbas Lima, foi escolhido por Fernando Miranda, que assumiu a cadeira, para ocupar o cargo de diretor de futebol. Assim, em paralelo ao coordenador técnico João Paulo Medina, deu as cartas no vestiário.
Dentro de campo, um time modesto, treinado por Zé Mário, caiu nas quartas de final da Copa João Havelange, eliminado pelo Cruzeiro de Felipão. Apesar da surpreendente campanha em nível nacional, o Colorado não conquistou nenhum título e sequer venceu Gre-Nais, o que culminou com a saída de seu grupo político do clube ao final daquele ano.
Em 2004, o próprio João Patrício se lançaria à presidência, desta vez como oposição. Foi derrotado pelo então presidente Fernando Carvalho, que se reelegeu.
Oposição e convergência
Na virada da década, Hermann foi um dos criadores do Convergência Colorada, que nascia da fusão de outros três movimentos políticos — Inter Ação, Inter 2000 e InterNet/BV. Apesar de concorrer em dois pleitos, o grupo não conseguiu eleger um candidato.
Em 2010, seguiu os passos do pai e presidiu a comissão de obras do Beira-Rio, que sediaria a Copa do Mundo quatro anos depois. Neste período, inclusive, apresentou um relatório que apontava problemas na maneira como estava sendo conduzida a reforma pela gestão de Vitório Piffero.
Porém, em 2014, seu movimento decidiu apoiar a chapa que reconduziria Piffero à presidência. Internamente, Hermann foi contrário à aliança e foi crítico à condução do clube naquele período. Ao final da gestão, liderou um grupo de dissidentes que levou o movimento a coligar com Marcelo Medeiros — curiosamente, do Movimento Inter Grande (MIG), seu antigo opositor.
Eleito como primeiro vice-presidente, integrou o Conselho de Gestão do Inter nos últimos três anos. Recentemente, em setembro, foi voto vencido quando da decisão pela saída de Alessandro Barcellos do departamento de futebol por divergências políticas.
— Foi uma discussão forte, dura e ríspida. Mas foi dentro da sala e respeitando todas as normas de educação. Ninguém botou o dedo na cara de ninguém, ninguém se levantou da cadeira e ninguém precisou apartar nada. Mas teve, sim, uma discussão ríspida, e o presidente acabou rompendo com dois movimentos importantes da base. Foi uma situação desagradável e que entendo ter sido precipitada. Mas isso faz parte da política — explicou o próprio Hermann à época.
Por pouco, não renunciou ao cargo. Entretanto, permaneceu até os últimas dias para, enfim, ser nomeado o futuro vice-presidente de futebol colorado por Alessandro Barcellos.