D'Alessandro, novamente, voltou a movimentar os assuntos do Inter. Camisa 10 do time e estrela do clube há mais de uma década, o jogador de 39 anos recuperou espaço e está no centro do debate sobre seu aproveitamento. A idade avançada para os padrões do futebol, é claro, não permite que jogue todos as partidas e todo o tempo, mas as últimas exibições, principalmente a do Gre-Nal, reativaram as conversas sobre sua importância.
O argentino (e agora cidadão brasileiro) saiu do banco de reservas no último sábado (3), quando o Grêmio vencia por 1 a 0. Pouco depois de seu ingresso em campo, Musto foi expulso. Mesmo com um a menos, Eduardo Coudet manteve D'Alessandro na posição de meia central. Em pouco mais de meia hora, deu um lançamento na medida para Thiago Galhardo, que ficou cara a cara com Vanderlei e chutou para fora, e estava envolvido no lance que resultou no pênalti de Cortez, em dividida com Edenilson.
Seu aproveitamento no time é uma unanimidade. A discussão está no tempo e no espaço em que deve aparecer. Há quem defenda que D'Alessandro deva ser titular e jogar o tempo que aguentar, acompanhando o ritmo dos demais. Outra corrente entende que o ideal é colocá-lo já com a partida em andamento, quando os marcadores estão mais cansados e o camisa 10 já fez a leitura do jogo. Nesse segundo grupo, está o técnico Eduardo Coudet.
-Estamos tentando aproveitar toda a qualidade dele. Nesses 30 últimos minutos (do Gre-Nal), ele foi bem? Claro que foi. Trato de aproveitar as características. Somos egoístas desta maneira. Não quer dizer que ele não possa começar, como foi contra o Botafogo. Mas não podemos esquecer que ele vai completar 40 anos - disse o treinador argentino depois do Gre-Nal na Arena.
Para o comentarista Paulo Vinícius Coelho, do SporTV, que trabalhou no último clássico, D'Alessandro precisa ter utilização dosada, de acordo com suas condições físicas e a necessidade da partida:
- Ele é o grande talento do grupo do Inter e isso é até um problema. D'Alessandro não tem condições de jogar 90 minutos quarta e domingo, quarta e domingo. O aproveitamento dele não está errado. Podemos discutir de ele entrar antes, como no Gre-Nal, que poderia ter sido no intervalo e não 15 minutos depois.
A outra discussão, sobre posicionamento, encontra um entrave no próprio comportamento do jogador. D'Alessandro joga futebol desde a infância e, quando entrou nas categorias de base do River Plate, no início da adolescência, sempre foi um "enganche", o jogador que liga a defesa ao ataque. Por isso, mesmo se for escalado como atacante, acaba se comportando como meia.
D'Alessandro é meia. O Brasil não está produzido meias com essa capacidade.
PAULO VINÍCIUS COELHO
Comentarista do SporTV
Basta ver os mapas de calor de algumas de suas partidas. Seu posicionamento médio é o de um meia. Mesmo que eventualmente caia mais para a direita do que para a esquerda ou vice-versa, é simples notar que ele não entra na área, não tem o impulso de aparecer como atacante para completar cruzamentos, por exemplo.
Isso é algo que Coudet espera dos atacantes. Quando explicou seu sistema, em entrevista a jornalistas do Grupo RBS ainda em março, o treinador chegou a mencionar que poderia usar dois centroavantes para essas funções, na época Guerrero e Gustavo. Depois, Thiago Galhardo fixou-se como companheiro do peruano, e ficou ainda mais clara a diferença. No jogo contra o Santos, por exemplo, mesmo que não atuasse muito centralizado, o atual goleador do time ocupava o que se convenciona chamar de "o último terço" do campo, a parte final. Ou seja, atacante mesmo.
- D'Alessandro é meia. O Brasil não está produzido meias com essa capacidade. Boschilia poderia ser, mas ainda não tem essa maturidade de entender o jogo, saber quando acelerar, cadenciar. O Inter continua sendo um time que depende dos motores e não dos cérebros. Se o Edenilson está bem, o time cresce - completa PVC.
Com preparação própria, que envolve atividades extras e alimentação especial, controlada, D'Alessandro chega aos quase 40 anos ainda como referência no Inter. E, na maratona que 2020 reservou, ainda aparecerá muitas vezes. Só resta ver quantos minutos e em qual faixa do campo.
D'Ale no ataque
Escalado para ser dupla de Thiago Galhardo contra o Botafogo, D'Alessandro, de boa partida, ficou mais posicionado no setor direito ofensivo. Mas quase sempre como armador, um criador de jogadas na intermediárias, servindo seus companheiros. Quase não há registro como atacante mesmo, pisando na área, aparecendo para concluir.
D'Ale no meio
Na meia hora que atuou no Gre-Nal, D'Alessandro foi escalado como meia, no que sobrou da função de jogador central da linha de três preferida por Coudet. Claro, o Inter ficou com um jogador a menos, o que o obrigou a recuar um pouco mais. Mas nota-se que pouco difere de sua escalação como atacante, por característica é um criador.
A opção Galhardo
Na ideia de Coudet, dois jogadores devem ser atacantes. O próprio treinador chegou a usar a palavra "centroavantes" para definir o que precisam fazer os escalados da última linha. Nota-se que Galhardo, como segundo atacante, companheiro de Guerrero, como nos 2 a 0 sobre o Santos, ficava menos na faixa central, mas aparecia na parte final do campo, próximo ou dentro da área.