A taça da Sul-Americana repousa no museu do estádio Beira-Rio desde 2008, quando o Inter derrotou o Estudiantes após vencer na Argentina e empatar na prorrogação em Porto Alegre. Muito daquela conquista se deve a Adenor Bacchi, também conhecido como Tite, treinador do primeiro título de um time brasileiro na competição. E por muito pouco, o atual técnico da Seleção não esteve na casamata colorada no meio daquele ano.
Depois de Abel Braga deixar o clube para assumir o Al Jazira, dos Emirados Árabes, o cargo de treinador estava vago. Muricy Ramalho e Paulo Autuori eram as preferências do clube, que ainda tentou (sem sucesso) Levir Culpi e pensou em Nelsinho Baptista. O técnico do Sport foi vetado pela torcida, que criou uma onda de rejeição por ele ter trocado o Inter pelo Corinthians em 1996.
O nome de Tite sofria resistência dentro do estádio Beira-Rio, principalmente pelo ex-presidente Vitorio Piffero, que comandava o clube à época, por ter um estigma de gremista, visto que anos antes, em 2001, havia levado o Tricolor ao título da Copa do Brasil.
— A resistência era especialmente da parte do Piffero. Ele era quem mais tinha um pé atrás por causa da relação do Tite com o Grêmio, ele era um dirigente que usava mais essa questão da rivalidade. O presidente foi o cara a ser convencido disso. Havia também uma certa resistência da torcida com o Tite. Teve até uma história que o Inter teria jogado o nome do Nelsinho Baptista na imprensa para amansar a torcida, no sentido de falar o nome dele, e quando viesse o Tite fosse menos rejeitado — relembra Alexandre Alliatti, repórter do GloboEsporte.com à época em Porto Alegre.
O então presidente passou por um processo de convencimento do então vice-presidente de futebol Giovanni Luigi e de Fernando Carvalho, presidente campeão da Libertadores e do Mundo em 2006, que estava afastado do Inter há um ano e meio. No dia 12 de junho de 2008, uma reunião no apartamento de Piffero sacramentou a contratação de Tite. Junto com o novo treinador, Carvalho também retornou ao clube, mas dessa vez como assessor de futebol.
O estigma de gremista não demorou a cair. Com os resultados e as boas atuações da equipe, principalmente na Copa Sul-Americana, o treinador começou a ganhar ainda mais confiança dos dirigentes. Para a torcida, uma das maiores provas veio em um Gre-Nal no Beira-Rio. Goleada de 4 a 1 e queda do rival da liderança do Brasileirão daquele ano. O ápice da relação de Tite com o Inter foi ao término da primeira partida da final da Sul-Americana daquele ano.
Em um estádio cheio, com um a menos (Guiñazu foi expulso), o Colorado conseguiu superar o Estudiantes por 1 a 0, com gol de Alex, de pênalti, e encaminhou o título que viria após um empate na prorrogação dentro do Beira-Rio. Vitorio Piffero, ao ser questionado depois da primeira partida, quem havia sido o craque do jogo, respondeu:
— Ele foi perfeito na reorganização do time após a expulsão do Guiñazu. Por isso, peço licença para escolher o Tite como melhor em campo.
Pronto. Estava desfeito o preconceito com o treinador. Dias depois, mais precisamente em 3 de dezembro de 2008, Adenor Bacchi garantia seu nome na história colorada e transformava o Inter, como Zero Hora escreveu em sua edição do dia seguinte, em campeão de tudo.