Sem comandar nenhuma equipe desde 2016 por conta de um problema cardíaco, Muricy Ramalho foi um dos técnicos mais vitoriosos do futebol brasileiro nos anos 2000. Entre as principais conquistas, foram quatro títulos do Brasileirão e uma Libertadores. Como jogador, marcou época no São Paulo, mas a carreira foi abreviada por uma série de lesões. Aos 64 anos, o profissional trabalha atualmente como comentarista dos canais SporTV.
Em entrevista ao programa Paredão do Guerrinha, da Rádio Gaúcha, que irá ao ar neste sábado (11), Muricy falou sobre alguns momentos marcantes da sua história no futebol. Em 1996, ele recebeu a oportunidade de treinar o São Paulo após a saída de Telê Santana, mas não teve sucesso e ficou pouco tempo. Após passar por vários clubes, a primeira passagem pelo Inter, em 2003, é relembrada como um marco na trajetória como treinador.
— Quando houve a troca de 2002 para 2003, o Inter estava numa situação bem ruim no lado financeiro, brigou para não cair. Eu cheguei para ajudar e deu certo. Foi onde começou realmente a minha carreira em time grande, com bons contratos. Fui campeão gaúcho e depois fui para o São Caetano. O São Paulo sempre queria me levar, mas eu tinha contrato com o Inter — relembrou.
Depois da passagem pelo São Caetano, Muricy retornou ao Inter na metade de 2004. No ano seguinte, foi vice-campeão brasileiro na polêmica disputa com o Corinthians. O reencontro com o São Paulo ocorreu em 2006. Na equipe paulista, o técnico foi vencedor do Brasileirão nos anos de 2006, 2007 e 2008.
Todo o sucesso lhe deixou perto de realizar um dos sonhos da carreira, que era comandar a Seleção Brasileira. O convite, no entanto, veio em um momento inapropriado. Como recém havia dado a palavra aos dirigentes do Fluminense de que assumiria a equipe, Muricy decidiu manter o acordo e recusou o chamado de Ricardo Teixeira, então presidente da CBF.
— Era um sonho que eu tinha, mas eu tenho alguns valores que é difícil eu dar as costas. Eu tinha acertado com o Fluminense. Não tinha assinado ainda, mas o Fluminense fazia 26 anos que não era campeão brasileiro. Eu expliquei isso para o Ricardo Teixeira, que eu tinha dado a minha palavra. Eu esperava uma atitude dele em relação a isso, mas ele não quis tomar essa atitude. Então eu fiquei no Fluminense. Era um sonho que eu tinha, mas a gente não pode passar por cima de todo mundo. Eu fiquei no Fluminense e fui feliz. Você tem que cumprir as coisas que acerta. Eu tinha acertado de palavra, mas para mim já basta — contou.
A recompensa no Fluminense veio com o título do Brasileirão de 2010. No ano seguinte, foi a vez de conquistar a América. No Santos, Muricy liderou uma equipe que contava com Neymar e Paulo Henrique Ganso. O treinador acredita que o craque do PSG ainda pode se tornar um dos melhores jogadores do mundo, caso volte para o Barcelona.
— Quem conhece o Neymar, sabe que ele é gente boa, profissional. A troca do Barcelona para o PSG foi terrível. Eu estive no Barcelona e lá não se falava do Neymar fora do campo. Dentro de campo, ele é espetacular. O dono do time é fã do Neymar. Craques como o Neymar gostam de ser cobrados e ele não tem muita cobrança na França. Se ele voltar para o Barcelona, ele tem muitas chances de ser um dos melhores do mundo — afirmou.
A distância dos gramados não é algo que incomode Muricy. Sobre um possível retorno à casamata, é taxativo: "não tem volta". Mesmo com propostas na mesa, a prioridade é aproveitar a família e cuidar da saúde.
— Eu toda hora recebo convites, mas não quero. Já falei isso várias vezes. Não quero ir mais para a beira do campo. Tive um momento muito difícil e prometi para a minha família que não voltaria. Não me empolga mais. Estou mais perto da família. É uma outra vida. O futebol é bom, mas tira você da família completamente. Resolvi parar e não tem volta. Tenho bons convites financeiramente, mas estou bem no que estou fazendo — finalizou.