Quando Paolo Guerrero correu para a bola, no Mineirão, e cobrou falta no canto esquerdo de Fábio, Edenilson partiu em direção ao gol. Olhos atentos aos movimentos do goleiro do Cruzeiro, o camisa 8 do Inter já estava pelo menos um corpo à frente do zagueiro Léo, quando a bola espalmada subiu, desceu, quicou, e foi ao encontro do pé de Edenilson. Já se passavam 30 minutos do segundo tempo, quando o meia marcou o gol da vitória colorada no jogo de ida da semifinal da Copa do Brasil.
O epílogo do mata-mata se dará na noite desta quarta-feira, a partir das 21h30min, no Estádio Beira-Rio uma vez mais para quase 50 mil colorados. Para voltar à final da Copa do Brasil, 10 anos depois, o time de Odair Hellmann precisará apenas de um empate. Sem o saldo qualificado, ao contrário da Libertadores, o torneio nacional dará uma segunda chance em caso de derrota por um gol de diferença: a decisão por pênaltis.
Porém, para evitar sofrimentos, o Inter tem de fazer valer a vantagem construída por Edenilson e companhia em Belo Horizonte. É num passado nem tão distante assim do clube, que se encontram exemplos de como gerenciar a vantagem obtida no primeiro jogo, fora de casa.
A temporada 2006 marcou uma espécie de refundação do Inter. A conquista da América libertou uma nação para comemorar algo que até então parecia inatingível para os colorados, bem mais acostumados ao abraço solidário na dor do que às comemorações na Goethe. De certa forma, o momento atual encontra paralelo no Inter de 13 anos atrás. Afinal, o clube tem a chance de disputar a sua primeira grande taça desde o descenso de 2016.
— O Inter já merece ser aplaudido pelo resgate da história. Um resgate rápido, depois de tudo o que aconteceu, a cada quarta-feira colocando mais de 40 mil pessoas no Beira-Rio, sabendo que pode vencer qualquer um, e tendo formado um novo treinador — diz Tinga, bicampeão da América pelo Colorado.
Para ele, se a vitória em Belo Horizonte emprestou ao Inter uma boa vantagem, ela foi carregada também de grandes responsabilidades.
— Não há segredo nem receita para se manter a vantagem. É muito difícil, num ambiente de quase 50 mil torcedores, em casa, esperar e não atacar. Não há como ficar atrás, não há como esperar. Foi assim em 2006 quando, mesmo com a vantagem que tínhamos (a vitória por 2 a 1, no jogo de ida, contra o São Paulo, no Morumbi), fomos para cima e conseguimos sempre marcar antes do São Paulo (empate em 2 a 2) — recorda Tinga. — O time que está em desvantagem, e jogando fora de casa, não tem mais nada a perder e vai para cima. Foi assim em 2006, será assim nesta quarta. Eu havia sido expulso e estava agoniado fora de campo, pois sabia que entraria para a história, ganhando ou perdendo. Mas, felizmente, aquele título dividiu a história do Inter. Antes e depois daquela Libertadores. Em 2010, por exemplo, a tensão pelo bicampeonato foi bem menor — acrescenta o camisa 7 da classe de 2006.
Tinga entende ainda que o Inter atual tem jogadores experientes o suficiente para conseguir manter o controle mental da partida — mesmo que do outro lado tenha um Cruzeiro com tradição recente de conquistas. Alex, companheiro de time de Tinga em 2006, lembra que os mais rodados foram fundamentais para a confirmação do título.
— Sabíamos que para história do clube era um jogo único. A gente não podia deixar escapar a oportunidade. Era um momento histórico para o Inter e, para todos nós, jogadores. Pela frente tínhamos um São Paulo vivendo uma das melhores fases de sua história, e com um grupo muito qualificado. Nossa mentalidade sempre foi de buscar as vitórias nos jogos. Sim, nós conseguimos boa vantagem no Morumbi, mas o nosso objetivo era vencer para carimbar de vez o título. Aquela partida foi difícil, se tratava de uma final de Libertadores. Estivemos na frente duas vezes e conseguimos administrar nossa vantagem quando preciso. Aquele grupo se tornou cascudo e tinha muitas lideranças, o que foi importante para mantermos a calma, esperando o apito final para comemorar a América — conta Alex.
Além da vantagem no jogo do Mineirão, o Inter fez com que o Cruzeiro mudasse. Mano Menezes foi demitido, e uma figura conhecida dos colorados entrou em seu lugar: Rogério Ceni. O goleiro, multicampeão com o São Paulo, não conseguiu ajudar a reverter a vantagem colorada nas finais de 2006.
— Aquele foi um jogo extremamente tenso, uma final nova para nós e para o clube. Talvez um pouco parecido como imagino que será Inter e Cruzeiro. Enfrentamos, na final, uma equipe campeã mundial, e fizemos um grande jogo. Mas, mesmo com a vantagem do Morumbi, a partida foi tensa o tempo todo, ainda mais quando perdemos o Tinga (expulso). A defesa do Clemer, em cabeceada do Alex Dias, foi fundamental. Tínhamos uma atmosfera muito positiva, com o Beira-Rio lotado e apoiando aquela noite, algo essencial para ajudar o time — avalia o ex-zagueiro Bolívar, atual treinador do Brasil-Pel.
— Está longe de ser um jogo jogado. Pela frente, o Inter tem um adversário acostumado a vencer e a reverter situações negativas. O time precisa estar organizado o tempo todo, e não como ocorreu contra o Flamengo (na eliminação da Libertadores, na semana passada), quando se desorganizou. Pela experiência de todos, dirigentes, jogadores e técnico, tenho certeza que haverá comprometimento e respeito ao Cruzeiro, que é um adversário do mesmo tamanho do Inter e que irá a campo pra reverter — corrobora o presidente colorado na primeira conquista de Libertadores, Fernando Carvalho.
Um empate separa o Inter da sua terceira final de Copa do Brasil. Um empate, em casa, separa o Inter da chance de um novo recomeço com grandes conquistas.